Cardoso ensina: Como pesquisar além do Google

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Uns dias atrás o Vinicius Zanella me fez uma pergunta difícil. Não por eu não saber a resposta, mas por nunca ter pensado nela. Ele queria saber como era minha metodologia de pesquisa, e pensando bem, isso pode ser útil para algumas pessoas, então resolvi responder publicamente.

Eu me orgulho de meu Google Fu, mas me surpreendi ao perceber que havia um método na minha loucura, e a quantidade de informações que é possível encontrar sobre um tema se resume apenas ao tempo que você tem disponível, mas o Google é apenas o começo.

1 – O Começo

Antes de pesquisar um tema, é preciso descobri-lo. Eu faço isso prestando atenção em conversas, vendo filmes, lendo livros e assistindo documentários. Muitas vezes uma história muito legal é mencionada de passagem, o ouvido atento pesca a idéia e anota.

Nessa brincadeira acabo com uma pilha de temas. Alguns mais difíceis de pesquisar do que outros. Um que não estou conseguindo achar foi um caso aonde um legista decifrou um assassinato por ser um mutante, ele possuía um gene que o fazia ser extremamente sensível ao cheiro de Cianeto. Outras vezes a idéia vem de lugares inusitados. Quando vi Coco, estranhei os tais Alebrijes, não conhecia a mitologia. 5s de Google e uau, certamente um artigo a ser escrito.

2 – O Fim do Começo

Sim, é a Wikipedia (em inglês, a brasileira é lixo), não há problema em admitir isso. Tem muita informação factual lá, com links para as fontes, mas cuidado. A Wikipedia tem uma agenda progressista própria, então eles constantemente omitem dados que não reforcem a Narrativa, nunca baseie um artigo com temas controversos apenas baseado na wiki.

Ela serve para montar um arcabouço do artigo, mas não perca tempo buscando as fontes, em geral elas apenas repetem o que o artigo da Wiki fala, e em uma irritante proporção, os links estão desatualizados.

3 – Livros Livros Livros

O famoso arqueólogo Dr Henry Walton Jones Junior uma vez falou: “70% da arqueologia é feita em bibliotecas” e é verdade. Só não quer dizer que você precisa se enfurnar entre pilhas de livros e correr o risco de aspirar o Fungo Supremo. Existem algumas ferramentas muito boas, melhores que o Google para acessar o conteúdo de milhões de livros. A melhor delas é… o Google.

O Google Books é um projeto que pretende escanear os mais de 130 milhões de livros já publicados na História da Humanidade. No momento eles já escanearam respeitáveis 40 milhões de títulos. Acessível diretamente pela URL books.google.com, o serviço também pode ser usado via busca, clicando na opção “mais/more” do Google.

A busca nos livros funciona melhor quando você uma idéia precisa do que procura, seja um acontecimento ou uma pessoa. Dá pra juntar vários relatos diferentes, e compor uma visão bem mais completa. O texto que fiz sobre como Tupã é uma entidade inventada por jesuítas foi quase todo baseado em um relato em primeira mão que encontrei no Google Books.\

Em alguns casos acha-se sem querer uma mina de ouro, como essa enciclopédia de mulheres americanas nas guerras. No geral, dá pra se perder no Google Books, e quanto mais idiomas você falar, mais coisas vai achar.

4 – Mais do que livros

Uma área ótima para pesquisas é o Internet Archive, que serve pra muito mais do que achar twit apagado do Felipe Neto. São milhões de livros, textos, transcrições, programas de rádio, TV, documentários… É possível achar de vídeos americanos sobre o Brasil na Segunda Guerra a cenas surreais como estes retardados destruindo uma subestação de eletricidade e a legenda dizendo que são brasileiros atacando uma unidade da HAARP.

Uma simples busca por “Brazil WW2” e caí em uma lista enorme de documentos, um deles um relatório escrito por Mary M. Cannon, do United States Women’s Bureau, chamado “Women in Brazil Today”, contando como em 1943 a situação da mulher brasileira mudou completamente, e relatando entre outras coisas que mulheres uniformizadas patrulhavam as ruas do Rio de Janeiro durante os blecautes, e eram obedecidas, por homens e mulheres.

Quase todo tema assunto ou pessoa vai estar mencionado no Internet Archive.

5 – (como chegar nos) submundos da Internet

Nem toda a informação online está em blogs cheirosos e limpinhos como o Contraditorium. Existe muita coisa escrita por gente com conhecimento e entusiasmo, mas zero know-how de SEO, formatação, etc. Esse pessoal acaba subindo seus textos para blogs no Blogger e outros provedores que misteriosamente ainda sobrevivem por aí.

Chegar neles via busca do Google é impossível, eles aparecem na página 78 de respostas, com sorte, mas há um meio: Imagens.

Em geral os blogs obscuros podem listar mais informação que as páginas genéricas, mas entre seu material específico, também usam as mesmas imagens que todo mundo. O truque: Você vai no Google Imagens e busca por uma imagem relacionada com seu tema.

Na página de resultados você verá várias imagens; clique na que você esperava encontrar ou sabe ser diretamente relacionada com sua busca. Na lateral direita será listado o site da imagem, bem como vários outros que também a utilizam.

Esses sites podem ser obscuros, um clique nessa imagem na lateral e o site vai pra destaque, dá pra ter uma idéia do que é, e se for o caso, CTRL+clique, abre em outra aba, dá pra ver se tem algum conteúdo relevante, que você jamais acharia buscando por palavras-chave.

6 – E voltamos pra Biblioteca…

Existe uma carência bem grande de fontes online para matérias envolvendo Brasil, há muita, muita coisa que não foi digitalizada, muita coisa do dia-a-dia que demora para aparecer online. Por anos eu procurei infrutivamente pelo excelente texto do Arnaldo Jabor Maldita seja a companhia telefônica do Rio, só recentemente a Folha atualizou seus arquivos e postou uma versão.

Uma alternativa, excelente aliás é ao invés de sites específicos sobre um tema ou acontecimento, consultar a mídia da época, ler manchetes, cartas de leitores e editoriais. Incrivelmente, existe um acerto gigantesco, na hemeroteca da Biblioteca Nacional.

Mais incrível ainda, está tudo online, são jornais e revistas desde 1740. Todos catalogados digitalizados e indexados. A gente encontra não só os artigos como as páginas inteiras, com direito a anúncios, cartas, tudo. De uma carta de 1798 aonde um sujeito endividado diz que vai ter que vender escravos pra pagar aos credores, a manchetes sobre o início da produção de petróleo no Brasil.

Conclusão:

A quantidade de informação online, sobre qualquer tema é imensa, o truque é pensar lateralmente, se eu quero saber mais sobre um acontecimento talvez eu encontre um relato detalhado em um jornal da época e região aonde o acontecimento aconteceu. Às vezes algo que não ganhou muito destaque na História foi importante localmente, e é reproduzido em muito mais detalhes na mídia local.

Quanto mais próximo da data original, menos chance do relato ser pura propaganda, e ao acumular várias fontes, você consegue identificar os erros e omissões, e perspectivas diferentes podem até mudar o rumo de seu texto.

Espero que esse pequeno guia tenha ajudado a entender como eu consigo escavar histórias obscuras como as que publico aqui.

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