Lindinhas, o filme pedófilo da Netflix que mandou mais uma negra pro pelourinho

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Trigger Warning: Se segura que este
texto vai deixar todo mundo desconfortável.
Até quem considera trigger warning uma bela babaquice.

Semana passada a Internet correu para pegar seus ancinhos e tochas para mais um linchamento virtual, desta vez o alvo foi a Netflix, aquela empresa que faliu depois do boicote por causa de Sense8, faliu de novo quando foi boicotada por causa da série da Lava Jato e fechou de vez depois do filme problemático com o Chris Hemsworth. Ah, e faliu mais uma vez por causa do boicote contra o especial de Natal do Porta dos Fundos, com jesus não se brinca.

MC Melody em Vai Malandra, com 10 anos mas é funk e cultura e está parodiando a Anitta então tudo bem.

A culpa foi a imagem de divulgação do filme “Cuties”, em francês, “Mignonnes”, em Português, “Lindinhas”, em grego, “Strategos” …

A imagem provocou horror em um monte de gente, assustados com a “sexualização” das personagens, um grupo de meninas pré-adolescentes. Daí as acusações germinaram feito pintos no lixo: Sexualização precoce, exploração do corpo feminino, machismo institucional, apologia à pedofilia pela classe artística pedófila de esquerda…

Uma minoria achou um absurdo sexualizarem as meninas dessa forma, só por estarem com roupa de dança.

Bonde das Maravilhas, grupo que surgiu em 2013 formado por meninas entre 12 e 20 anos, responsáveis por pérolas do cancioneiro popular como “Bonde das Maravilhas é o mundo se acabando / Senta na pica e vai relaxando / É o mundo se acabando / Bonde das Maravilhas”

Nenhum dos dois grupos se deu ao trabalho de ler sinopses ou mesmo assistir ao trailer. Como sempre a turba enfurecida exigiu o cancelamento do filme, sem direito a defesa, mas ele tem esse direito?

Não é de hoje que o tema é espinhoso, mas a reação da sociedade varia de acordo com a moral vigente. Mesmo em 1976 a capa do álbum Virgin Killer, do Skorpions causou polêmica, com a foto de uma menina de dez anos nua, a ponto da Wikipedia em 2008 ter sido denunciada por “pornografia infantil” por mostrar a imagem no artigo sobre o álbum, que é o linkado ali atrás, então cuidado com clicar, ok?

Sem comentários.

Existem obras aonde a sexualidade infantil é mostrada de forma positiva, em geral para chocar o leitor com uma visão de mundo (espero) bem diferente da dele. Embora não explicitamente em Admirável Mundo Novo é mencionado várias vezes que crianças praticam “jogos sexuais”. Obviamente isso é omitido em toda versão filmada.

Em outras, como Lolita, a criança é sexualizada mas isso é usado como mecanismo para demonstrar a depravação moral do protagonista. Humbert, o protagonista de Lolita é um degenerado, loser como diria Trump, e não tem final feliz.

As Lindinhas pagando de gatinhas na voz da comunidade não péra.

Em comum essas histórias mostram o ponto de vista dos adultos, e a impressão de quem protestou por causa do pôster é que seria um filme exibindo meninas em trajes sumários para deleite de adultos pervertidos, como as fotos das ninfetas de David Hamilton nos Anos 80, mas como sempre, a verdade está longe do pensamento da turba.

“Lindinhas” mostra sim meninas em trajes sumários rebolando para a câmera, e se você ficou desconfortável, excelente, essa é a idéia.

O filme é escrito e dirigido por este homem branco pedófilo hetero cis-gênero aqui:

Maïmouna Doucouré é francesa filha de pais senegaleses, é considerada uma das grandes promessas do cinema francês, e gosta de abordar as diferenças culturais e a dificuldade de conciliar dois mundos.

“Lindinhas” é essencialmente isso.

O filme conta a história de Amy, uma menina de 11 anos senegalesa. Ela mora com a mãe em uma favela, digo favelá francesa, enquanto o pai está no Senegal atrás de outra esposa. (yay poligamia) Ao mesmo tempo em que Amy recebe uma educação religiosa e rigorosa em casa, ela é exposta ao mundo, na escola e nas ruas.

Ela é adestrada pela mãe e parentes o tempo todo para cuidar das tarefas domésticas e se preparar para ser uma boa esposa. Toda a vida dela deve se focar nisso, é o objetivo de toda mulher temente a Deus.

Ao mesmo tempo ela fica amiga de uma vizinha que faz parte de um grupo de dança, com coreografias ousadas imitadas das adultas na TV. Amy vê nisso uma chance de se rebelar, mostrar à mãe que ela pode ser adulta também, e escondida entra para o grupo. Elas querem participar de um concurso de dança, escolhendo ser mais ousadas e “sexy” que a concorrência.

Não há nenhum vilão tarado, ninguém quer comer as menininhas, elas não estão sendo adestradas. Em uma cena mostrada no trailer pela metade, um grupo de badboys chega cheio de amor pra dar e pergunta a idade delas, Amy responde desafiadora e mentirosa: “quatorze!”.

O que não mostram no trailer é a reação, o grupo fica enojado. “Quatorze? Vocês sai crianças, sai fora!”

“Lindinhas” trata de um desejo de toda criança em algum momento: Crescer. Sim, é idiota, hoje a gente daria tudo pra continuar sendo criança, mas o jovem é burro, você sabe.

As meninas querem virar mulheres, querem ser empoderadas como a mídia mostra, querem homens se arrastando oferecendo champagne e diamantes, querem ser a Kim Kardashian, não uma dona de casa.

Elas também são obcecadas por redes sociais, na mente dessas meninas (e não só delas) nada é mais importante que ganhar likes em seus vídeos, elas querem viralizar, receber seus Pontos de Internet que as tornarão superiores a todas as outras meninas. Na vida “real” os pontos de internet se transformam em atitudes “adultas” como ficar flertando e provocando meninos mais velhos, sem nem mesmo entender o porquê.

O conhecimento das meninas é incompleto, elas não são as meninas de fantasia que seduzem os homens e agem como mulheres experientes, elas querem pular etapas que nem sabem que existem.

A Menina do Lado, um filme de ficção científica aonde um sujeito de 40 anos consegue se relacionar com uma guria de 14 sem enlouquecer com perguntas tipo “quem é Bin Laden?”

Amy vê sua mãe sofrendo com a ausência do marido e com a decisão dele de trazer outra mulher pra morar com eles. A beleza do filme é mostrar que nem toda tradição é boa, mas que nem toda forma de desafiar essa tradição é válida.

Doucouré mostra uma realidade aonde crianças de 11 anos são burras, não entendem que há um meio-termo, dá pra se manifestar contra uma educação conservadora sem virar stripper.

Principalmente, os números de dança e as situações incômodas existem para mostrar que essas meninas não surgiram do vácuo, há toda uma pressão social para que virem jovens mulheres, e pra todo lado há concursos de beleza infantis, crianças fazendo dança da garrafa e “mini-funkeiras” como a tal MC Melody. E você não pode reclamar, senão acusam de racismo e discriminação por “funk é cultura”.

Vocês que financiam essa merda.

O YouTube está repleto de vídeos de funkeiros e funkeiras mirins, desesperadamente sexualizados. E você, cidadão descolado que não curte isso de funk, também financiou essa merda quando ficou obcecado com a Honey BooBoo, e a cultura Miss Child Pageant, com aqueles concursos de beleza infantis que produzem e maquiam crianças a ponto de broxar pedófilos-raiz que se quisessem mini-mulheres pegariam anãs.

O nome disso é abuso infantil.

“Lindinhas” não celebra o direito empoderado de meninas rebolarem para deleite de terceiros, mas também não defende que o certo é obedecer aos pais cegamente e seguir todas as tradições, e nem estamos falando de mutilação genital feminina. O filme escolhe um caminho do meio, mostrando que às vezes a gente dá passos maiores que as pernas, e que entre a imposição paterna e cultural, e a sociedade, devemos escolher nosso próprio caminho, o que nem sempre é fácil, como Amy descobriu.

Ou você pode apenas dizer que é um filme pedófilo e pronto. Pra mim tanto faz, acho filme francês um saco.

Fontes:


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