Na Apple como na Vida a Hipocrisia supera até mesmo o Moralismo

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No começo dos anos 80 a censura ainda pegava pesado. A Trip hoje escolhe não mostrar as vergonhas altas e cerradinhas das moças por questão de estilo (maldita Trip!) mas antigamente não havia escolha Nu frontal era proibido, alguns casos a revista só poderia mostrar um mamilo de cada vez, e por aí vai. Assim a juventude tinha que se virar para conseguir material educativo de qualidade. Boa parte vinha das revistas clandestinas, das suecas contrabandeadas no fundo das malas e que rodavam de mão em mão de forma bem mais subversiva do que cópias d’O Capital.

Na televisão o bicho pegava. Nada nem de longe parecido com As Cariocas ou o clássico Vida Como Ela É.

Mesmo assim era na televisão onde conseguíamos mais material, graças aos canais educativos, que acabavam educando nos dois sentidos.

O truque é que embora toda nudez fosse castigada, a nudez indígena tinha imunidade. Na cabeça dos censores um filme mostrando índios era completamente ausente de malícia. O índio era visto como um ser puro e inocente, então estava liberado. Obras-Primas da safardanagem cinematográfica brasileira -Como Era Gostoso o Meu Francês, de Nelson Pereira dos Santos era um clássico- eram exibidas impunemente, mesmo em horário diurno.

Curioso é que as atrizes muitas vezes nem eram índias. A nudez de homens e mulheres brancos (ou no máximo morenos) era OK, desde que estivessem em um contexto indígena.

Essa dualidade funcionava inclusive com as atrizes. A Glória Pires nunca havia feito cena de nu, sempre recusou convites da Playboy e nem me recordo de outra situação em que ela tenha aparecido pelada, MAS em Índia, a Filha do Sol ela mostra tudo que tem pra mostrar, na boa.

A justificativa era que aquilo que estávamos vendo era… arte. Pode até ser, mas para incontáveis adolescentes tarados eram peitos e bundas, bem melhores que os legítimos mas muxibentos peitos nas capas da National Geographic.

Essa imunidade diplomática da “Arte” impressiona. Todo mundo aceita calado se for justificado como “Arte”.  Até a Apple.

A empresa vem pegando pesado para manter o ambiente de suas aplicações o mais “família” Possível. A Playboy no iPad sequer terá mulher pelada, repetindo e piorando o pior da censura brasileira dos anos 70.

Imagina-se que com isso ninguém ouse ir além da Censura 14 anos na App Store, certo?

Errado. Veja Verolites, esta exibição de Robert Alvarez, fotógrafo artístico profissional. Ele basicamente fotografou modelos peladas, aplicou um efeito tosco qualquer, chamou de arte e soltou em uma aplicação para iPhone. Resultado? Colou.

Até a Apple, a empresa mais moralista do Planeta, que patenteou um método de filtrar SMSs pra ninguém falar sacanagem  está distribuindo em sua App Store uma aplicação cheia de fotos de mulher pelada, disfarçadas de “Arte”.

Outro caso: O YouTube é especialista em apagar todo e qualquer vídeo com conteúdo questionável. Uma simples denúncia e babau, mulher pelada NÃO.

Exceto… exato: Se for arte.

É o caso deste vídeo da “artista” Amy Greenfield. No vídeo ela rola, nua, na areia da praia, em uma espécie de Ode à Milanesa. (Yes, kibei isso do Veríssimo)

Piora. Neste outro vídeo ela rola na lama, igualmente pelada.

Longe de mim reclamar de mulher pelada na lama, meu problema é outro. É a duplicidade de discursos, onde o que é safardanagem pra uns passa como arte e é liberado.

“Ah, mas pode não ser arte pra você mas é para outras pessoas”

Perfeito. Aceito essa argumentação. Só que ela abre espaço para outra afirmação igualmente lógica: “O quê é ofensivo para outros pode não ser para mim”.

O ideal seria tratar todo mundo como adulto. Quem se ofendesse com algo simplesmente não acessaria mais o canal e pronto, sem restringir o direito dos não-ofendidos.

Isso, claro, seria o ideal. Na prática continuaremos com as patrulhas moralistas minando a liberdade de expressão de todo mundo, ao mesmo tempo em que liberam safadeza generalizada à guisa de “Arte”.

Afinal de contas mesmo os hipócritas FDPs apreciam um belo par de peitos.



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