Como os ingleses usaram o pecado favorito do Demônio para vencer Hitler

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Latimer House. Tecnicamente foi uma cadeia.

A importância de Alan Turing e de todos os analistas de Bletchley Park é inquestionável, decifrar a Enigma e vários outros códigos nazistas foi fundamental, para vencer a Segunda Guerra, mas houve outra iniciativa de Inteligência que não era muito bem-vista por Churchill, mas que trouxe pelo menos tantos resultados quanto a quebra da Enigma.

Não, não foi tortura. Na verdade, foi o oposto disso.

Com o avançar da Guerra, os aliados começaram a fazer prisioneiros, e como todos sabemos o mundo não é justo, então enquanto a peãozada ia para campos de prisioneiros, os oficiais graduados tinham tratamento diferenciado.

Ao invés de tentar técnicas de interrogatório como as de Hanns Scharff, o Nazista da Paz, a Inteligência Militar resolveu dar um passo além: Após o interrogatório-padrão depois que o oficial era capturado, ele era transferido para uma das três propriedades aonde seria mantido como prisioneiro.

A da foto aí de cima é conhecida como Latimer House.

Prisioneiro, claro, é um termo carregado. Pense neles como hóspedes compulsórios. Imagine aquele vilão de James Bond, sempre educado, oferecendo acomodações e um belo jantar para o inimigo.

Os prisioneiros alemães. Não parecem muito sofridos.

Os oficiais alemães entendiam o tratamento diferenciado como algo natural, afinal eles eram oficiais superiores da raça superior.

O tal tratamento envolvia comida de primeira, mesmo itens racionados para o resto da população, vinho e cerveja, festas nos jardins e se o sujeito fosse um general, teria direito até a um criado pessoal.

Em suas correspondências (sim, eles podiam enviar e receber cartas) os generais zoavam os ingleses, dizendo como eram burros em tratar o inimigo tão bem. Alguns consideravam a situação como férias, e brincavam que as esposas deveriam se juntar a eles.

Os ingleses por sua vez faziam o possível pra deixar os prisioneiros confortáveis, em uma das casas havia um sujeito exclusivamente dedicado a cuidar das necessidades do dia-a-dia dos alemães, como ir até a cidade comprar meias, creme de barbear, material de escritório. Ele se chamava Lord Aberfeldy e na cabeça dos nazistas nada mais justo que um Lord atendendo como criado. Diziam até que ele era um primo distante do Rei George.

Coronel Kendrick

Na unidade principal, Trent Park, o chefe era o Coronel Thomas Kendrick, que dava festas e reuniões nos jardins, para deleite dos alemães, que conversavam casualmente, regados pelo vinho, usando seu idioma nativo, uma clara falta de educação com o Coronel.

O que eles não sabiam é que o Coronel Kendrick falava alemão fluente, e ouvia todas as conversas sem expressar reação. O tal Lord Aberfeldy era um agente do MI-6, também fluente e anotando tudo. Ele se chamava Ian Monroe, e um de seus “atos” era passear com algum general pelo bosque, trocando idéias em uma conversa agradável, sentar perto de uma moita aonde havia um microfone, e direcionar o papo para assuntos estratégicos.

Mais ainda: Todos os cômodos de todas as casas usadas para acomodar os prisioneiros estavam LOTADAS de escutas. Uma casa levava seis meses pra ser preparada, em uma única unidade instalaram 884 microfones e um monte de gravadores de discos de acetado (MP3 ainda não havia sido inventado). Havia uma sala secreta aonde analistas ouviam as conversas em tempo real, anotando as informações estratégicas.

A grande ironia é que a maioria desses analistas eram judeus que haviam fugido da Alemanha, então dominavam perfeitamente o idioma, preenchendo com seu conhecimento local informações como contexto, gírias, referências obscuras, etc.

Os nazistas conversavam sobre tudo, e nisso os ingleses obtiveram informações sobre as instalações de pesquisa dos foguetes V-2 em Peenemünde, status reais das forças inimigas, projetos secretos, a perspectiva alemã do desenrolar da guerra e também a primeira confirmação de que as atrocidades nos campos de concentração eram reais.

Certa vez Churchill, que entendia os resultados mas não gostava da operação em si soube que um grupo de generais foi escoltado para Londres, aonde jantaram no Simpson’s-in-the-Strand, um restaurante chiquérrimo. Puto, Churchill mandou pararem de “mimar os generais”.

O MI-6 então decidiu parar de informar a Churchill das “atividades” dos generais.

No final da Guerra, só de generais capturados foram devidamente mimados e ordenhados de informações suculentas 59, e juntando todos os prisioneiros de alto escalão, foram transcritas mais de 100 mil conversas.

No ótimo “Advogado do Diabo” Al Pacino (o próprio) diz que vaidade é seu pecado favorito. Com certeza um monte de analistas do MI-6 concordariam plenamente.

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