Lamento informar, mas você torceu pro japa* errado.

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*eu sei.

A foto de abertura você já conhece, é clássica, mostra toda a insanidade da guerra do Vietnã (e de todas as guerras), um pobre homem, em roupas civis é executado de forma sumária pelo General sul-vietnamita Nguyễn Ngọc Loan.

Feita por Eddie Adams, a fotografia rendeu um Pullitzer e foi um prato-cheio para as campanhas anti-guerra, que exigiam a saída dos EUA do Vietnã. O General foi perseguido por seu ato até o fim da vida, quando emigrou para os Estados Unidos ativistas e a mídia viviam atrás dele.

“Duas pessoas morreram naquela foto. O general matou o Vietcongue, eu matei o general com minha câmera”- Eddie Adams

Tentando viver com um pequeno restaurante, o General conta que no dia em que fechou o estabelecimento e se aposentou, achou escrito no banheiro “nós sabemos o que você fez, seu fodido”.

Bem-feito, né?

Agora é a parte que você esperava: Não é bem assim.

Eddie Adams se desculpou publicamente por ter destruído a vida do General, e quando foi convocado para testemunhar contra ele em um processo de extradição que negaria seu pedido de cidadania, ao invés disso Eddie defendeu no tribunal o General e seu ato.

A execução sumária de Nguyễn Văn Lém (Nguyễn em vietnamita é tipo “Silva”) por si só não era 100% ilegal. Ele era um combatente do exército vietcongue, capturado usando roupas civis, o que o enquadra como espião, e a Convenção de Genebra não é nada simpática com esses caras. O Status legal da execução era nebuloso, mas não foi nem por espionagem que ele foi executado.

Nguyễn Văn Lém era um Capitão vietcongue com uma missão especial: Durante a Ofensiva do Tet ele comandou um dos vários grupos de extermínio do exército vietcongue. Eles se infiltravam nas cidades, longe da frente de batalha, identificavam as casas dos oficiais inimigos e esperavam eles aparecerem durante uma licença.

Foi o que fizeram com o Tenente-Coronel sul-vietnamita Nguyễn Tua.

Durante a noite Nguyễn Văn Lém e seus homens invadiram a casa do Coronel Tua. A família toda foi rendida. Esta família aqui.

Não se sabe a ordem do que aconteceu, mas o Coronel foi decapitado. A esposa foi morta e os seis filhos tiveram a garganta cortada ou foram metralhados. A mãe do coronel, com 80 anos também foi executada.

Três dias depois Nguyễn Văn Lém foi capturado e executado pelo General Nguyễn Ngọc Loan, mas todo o contexto sumiu. Ninguém se importa com as atrocidades do vietcongue, nem com as famílias que eles dizimaram.

A família massacrada do Coronel Tuan.

Até hoje as pessoas reproduzem a imagem sem entender que estão sendo induzidas a ter pena de um monstro, que conseguiu exagerar mesmo numa guerra repleta de atrocidades.

E sim, há uma luz no fim do túnel, que surgiu de um momento horroroso: Huan Nguyen, um dos seis filhos do coronel levou três tiros, um na cabeça, um no braço e um na coxa, mas os assassinos não ficaram pra terminar o serviço. Por causa disso ele passou as próximas duas horas abraçado com a mãe, enquanto ela sangrava até a morte. Huan tinha 9 anos de idade.

Major Quy volta para casa apenas para encontrar o filho morto pelos vietcongues.

Mais tarde ele fugiu, conseguiu achar um tio militar, e eles eventualmente conseguiram asilo nos Estados Unidos, aonde fizeram o possível pra começar uma nova vida.

Em 1981 Huan Nguyen se formou em Engenharia Elétrica na Universidade de Oklahoma, terminou um Mestrado em Engenharia pela Southern Methodist University, e se formou em TI com as mais altas honras pela Carnegie Mellon University, ao mesmo tempo em que seguia carreira militar, como forma de agradecer à Marinha pelo tratamento que recebeu quando era um menino traumatizado em vias de ser levado para os EUA.

Em 2019, aos 60 anos Huan Nguyen se tornou o primeiro vietnamita-americano a alcançar o posto de Contra-Almirante na Marinha dos Estados Unidos. Do inferno, Nguyễn Văn Lém vaiou, mas ninguém ligou.

Cerimônia de Promoção do Contra-Almirante Huan T. Nguyen

Fontes:



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