8 dos mais esquisitos problemas neurológicos

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Eu sei o Dexter não tem problemas neurológicos é psicopata mesmo, mas você vai dizer isso pra ele?

Todo mundo conhece um sujeito meio esquisito, daqueles que gostam de tentar morder o cotovelo, ou tem um parente bipolar, com Alzheimer ou outra dessas doenças deprimentes, tipo depressão. A culpa disso é da rápida evolução do nosso cérebro, um amontoado de gambiarras que sabe-se lá como desenvolveu consciência.

Não há nada divertido nessas doenças e seria de extremo mau-gosto fazer texto-zoeira sobre isso, mas felizmente nosso cérebro-gambiarra é capaz de muito mais coisas erradas, algumas constrangedoras, outras fascinantes.

Existem problemas neurológicos que fazem a pessoa ouvir vozes, imaginar coisas, mas esses são o feijão com arroz. Nossos cérebros são capazes de bugar de formas incrivelmente mais criativas. Então sem mais delongas, vamos conhecer oito delas:

1 – Sinestesia

Essa é a mais popular, embora seja bem rara, com algumas estatísticas colocando a média de casos em 1 para cada 100 mil pessoas.

A Sinestesia é uma espécie de curto-circuito entre as partes do cérebro que gerenciam o processamento dos sentidos, é como se o pedal do acelerador estivesse conectado ao carburador (eu sou velho) mas tambem à buzina.

Existem vários tipos de sinestesia. No mais comum letras e números são acompanhados de cores. Quando o sujeito vê um texto, os caracteres alfanuméricos são vistos com uma espécie de aura. Cada caso é único, mas há uma média de cores associadas que acaba se destacando.

Em outros tipos de sinestesia o portador visualiza cores quando escuta determinados sons. Alguns descrevem como fogos de artifício, outros visualizam música, com direito a barras coloridas, luzes pulsantes, tipo um visualizador do Winamp (pergunte a seus pais).

Reles mortais enxergam a imagem da esquerda, gente com sinestesia enxerga a mesma imagem como a da direita.

Entre os 80 tipos catalogados de sinestesia, há um aonde se o sujeito pensa em números, começa a visualizá-los, igual ao efeito visual usado em séries quando o sujeito muito inteligente está calculando algo. Também há um tipo raro, que reage a palavras. O sujeito escuta uma determinada palavra, e sente gostos, não-relacionados. Algo como ouvir “chave de roda” e sentir gosto de amoras.

Ninguém faz idéia do mecanismo interno da sinestesia, nem de quanta gente realmente a experimente.

2 – Acinetopsia

Façamos um experimento. Vá para a frente de um espelho. Consegue se enxergar? Não? Parabéns, você é um vampiro. Do contrário foque nos seus olhos. Agora tente movê-los. Você não consegue VER seus olhos se mexendo.

O culpado disso é um efeito chamado mascaramento sacádico, no qual os dados visuais são momentaneamente interrompidos, assim não ficamos desorientados com a mudança constante de foco, nem somos afetados pelo motion blur. Todo mundo que já tentou filmar com uma câmera de capacete sabe do que estou falando.

Outro efeito curioso desse mecanismo se chama cronostase, uma ilusão de óptica na qual quando mudamos rapidamente o olhar para um relógio, o ponteiro de segundos parece estar parado e só depois de um longo tempo começa a se movimentar.

Funciona até com GIFs.

Essas experiências passam a idéia enganosa de que o olho é uma câmera. Quer dizer, tecnicamente ele funciona como uma câmera mas o processamento das imagens é muito mais complexo, e sujeito a erros. Um deles se chama Acinetopsia e é um bug no mecanismo acima.

Ao invés de ignorar as imagens durante a movimentação dos olhos, que acontecem o tempo todo, o cérebro do afetado gera dependendo do caso imagens fantasmas, tipo os espectros do Flash correndo. A condição em si é bem rara mas há um caso relatado aonde a portadora simplesmente não conseguia enxergar imagens em movimento.

Ela enxergava o mundo como uma série de imagens estáticas, tinha dificuldades até para servir uma xícara de chá, pois via o líquido parado. Quem tem Acinetopsia nesse nível mal consegue andar na rua, e até conversar com outras pessoas é difícil, pois se distraem, sem os movimentos labiais.

3- Micropsia

Essa síndrome resulta de uma confusão nos circuitos cerebrais que causa um erro de percepção visual e táctil, quem sofre dela às vezes do nada acha que objetos são bem menores do que seu tamanho real. Curiosamente várias de minhas exes sofriam de Micropsia.

A condição é frequentemente parte de uma síndrome mais complexa, chamada de Síndrome de Alice no País das Maravilhas. O portador tem sua percepção espacial afetada, às vezes ele percebe objetos como muito pequenos ou distantes, outras vezes ele se sente encolher e visualiza os objetos como gigantes.

20296373 – beautiful woman in little room drink a cup of tea (concept)

Às vezes essas percepções são acompanhadas de alucinações envolvendo bandos de animais, não especificamente coelhos.

A Síndrome de Alice no País das Maravilhas pode ser desencadeada por intoxicação por álcool, entorpecentes, mononucleose, epilepsia, febre e outras causas.

4 – Delírio de Cotard

Essa não parece divertida nem lembra superpoderes, como a Sinestesia. O Delírio de Cotard, batizado com esse nome pelo neurologista Jules Cotard (1840–1889) é encontrado em pacientes com esquizofrenia, psicose, depressão ou que sofreram traumas cerebrais extensos.

Ela é caracterizada por uma dissociação, aonde a pessoa não reconhece mais o próprio rosto ou o próprio corpo. Em um caso famoso estudado por Cotard a paciente insistia que várias partes do corpo… não existiam.

Em alguns casos o paciente acha que está morto, sofrendo algum tipo de penitência. Alguns acham que estão no inferno, outros que são cadáveres em decomposição. Uma paciente de Cotard acreditava que por estar morta não precisava mais se alimentar, e acabou morrendo de inanição.

Há quem associe com Delírio de Cotard aqueles casos leves de humor autodepreciativo, mas isso é meio forçar a barra.

Por sorte não é complicado hoje em dia trazer esses mortos de volta para o mundo dos vivos. Com medicação adequada, ou terapia eletroconvulsiva os acometidos de Delírio de Cotard rapidamente voltam a desfrutar a maravilha que é estar vivo em 2021. Não, péra…

5 – Estática Visual

Feche os olhos. Agora olhe à sua volta. Você percebe variações de iluminação. Tampe os olhos com as mãos. Mesmo com tudo tampado você não está completamente cego. Consegue enxergar uma malha de pontos luminosos, como se fosse ruído aleatório produzido pelo olho e processado no cérebro.

Quando enxergamos normalmente esse ruído é filtrado, mas em pessoas que sofrem de estática virtual esse filtro não funciona direito. Talvez os neurônios ou a retina sejam sensíveis demais, e produzem sinais aleatórios que são integrados à informação visual.

O portador então enxerga o mundo com um filtro de estática, tipo TV fora do ar, e em alguns casos também ocorrem imagens persistentes, como quando a gente olha fixo pra uma lâmpada, devia o olhar e ainda fica um resquício da imagem.

Os tratamentos para estática visual não funcionam muito bem, e a condição deve ser terrível para quem acredita que vivemos em uma simulação de computador.

6 – Afantasia

Essa é uma daquelas condições que quase todo mundo que tem não faz idéia.

Pense em alguma coisa. Uma laranja. Eu vou pensar na Scarlett Johansson. Imagine ela na sua frente (a laranja, tire o olho da minha Scarlett). Visualize a textura, ela girando lentamente, um talo com duas pequenas folhas verdes.

Conseguiu? Pois é. Uma proporção da população é incapaz de visualizar objetos mentalmente, mesmo objetos concretos e memórias. Quem sofre de Afantasia não tem a “tela mental” aonde projetamos nossas memórias e pensamentos.

Se você pedir para um portador de Afantasia descrever um local, ou um rosto, ele vai ter dificuldade. Terá que repassar mentalmente o objeto passo a passo, pois ele não consegue visualizar mentalmente a memória. É como se você não tivesse acesso a uma foto, só a uma descrição dos seus componentes.

Isso também vale para outras memórias, como cheiros e sons. Lembra do tom de voz de sua primeira namorada, ou namorado (eu não julgo)? Alguém com Afantasia não consegue. Ele pode lembrar do que foi dito, das emoções envolvidas, mas é incapaz de descrever o tom de voz.

Talvez 2% de todo mundo sofra de Afantasia, mas como isso não afeta o dia-a-dia, e mesmo com afantasia pessoas consigam exercer atividades criativas, que o diga Ed Catmull, fundador da Pixar.

7 – Franceses Saltadores do Maine

Esse é um caso que está restrito ao Maine, EUA, no final do Século XIX. George Miller Beard descreveu 50 casos em uma comunidade de lenhadores. Os portadores, em sua maioria homens, ficavam extremamente agitados, mas ao mesmo tempo tímidos.

Eram especialmente sugestionáveis, se alguém desse uma ordem súbita “Bata nela” eles bateriam na pessoa indicada, mesmo que fosse um ente querido.

Nervosos o tempo todo, sons altos e ordens súbitas faziam com que eles se assustassem, às vezes dando pulinhos, daí o nome.

Também era comum desenvolverem ecolalia, uma condição aonde repetiam as ordens verbais recebidas.

A suspeita era que houvesse algum componente genético, os casos se concentravam mais em quatro famílias, mas o isolamento e proximidade da comunidade também faz suspeitar de algum tipo de comportamento grupal adquirido. O mistério permanecerá, pois a síndrome foi embora tão misteriosamente quanto apareceu.

8 – Síndrome do Sotaque Estrangeiro

Imagine a situação: Você está feliz e tranqüilo, bate a cabeça e quando acorda está falando com sotaque de português de Portugal. A menos que você seja português, é bem estranho, mas acontece.

A Síndrome do Sotaque Estrangeiro é muito rara, há menos de 70 casos registrados. A maioria ocorreu depois de um derrame, que danificou partes do cérebro.

Problemas de fala são comuns como consequência de derrames, mas do mesmo jeito que um relógio quebrado está certo duas vezes ao dia, em raríssimas ocasiões os danos causados pelo derrame imitam perfeitamente as conexões neurais que formariam os padrões de fala de outro idioma.

Assim há casos de gente nos EUA que voltou do derrame com sotaque de outros Estados. Na Inglaterra há uma mulher que fala com sotaque chinês, e uma escocesa que nunca teve contato com estrangeiros fala com sotaque francês.

Os especialistas correm pra explicar que não há nada de místico ou misterioso, e que os sotaques NÃO são perfeitos. O que ocorre é uma espécie de pareidolia auditiva, nossos ouvidos estão acostumados a identificar padrões, então se o sotaque for reconhecível o suficiente, nós o entendemos como legítimo.

Para os pacientes, eles sentem que estão falando com dificuldade, e não como algo natural. Também não há nenhum “entendimento” da nova língua, ninguém vai aprender francês via derrame.

Com o tempo o sotaque tende a desaparecer, mas que é esquisito, isso é.

Fontes:



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