Hoje na Lista Secreta dos Beagles (desculpe, somente assinantes vip têm acesso) o Celso Zanchetta postou um vídeo engraçadinho, um grupo de bombeiros alemães “resgatando” uma grade de cerveja de um rio congelado.
Como gracinha o vídeo tem seu valor, mas também como toda boa piada, traz um fundo de verdade. A busca do Ser Humano pelo Álcool é bem antiga, birita é coisa séria.
Em um de meus livros contei sobre as gambiarras que a RAF criou na Segunda Guerra Mundial, para levar cerveja para as tropas na França, depois do Dia D.
Cumprindo seu dever patriótico, várias cervejarias doavam bebida para as tropas, mas o problema era transportar para a França ocupada. Cerveja não era prioridade para Alto Comando. O jeito foi McGyverizar soluções.
Em alguns casos mecânicos lavavam com vapor tanques de combustíveis externos de caças Spitfire, enchiam com cerveja, que era transportada via aérea. A vantagem era que com temperaturas externas de -50 graus, a cerva chegava estupidamente gelada.
Mais tarde aprenderam a construir suportes adaptando direto os barris de cerveja, que eram levados sob as asas dos aviões.
Não dá pra esquecer Vince Speranza, que em Bastogne, também na Segunda Guerra percorreu a cidade, cercada pelos nazistas para conseguir cerveja, encher seu capacete e levar para os amigos no hospital de campanha. Essa história com final feliz eu conto aqui.
Mais ressonando com a história do Celso, lembrei deste caso, no longínquo ano de 2004, o inimigo foi o antigo aliado General Inverno, que no passado derrotou Hitler mas agora se voltava contra os russos.
Na Sibéria, perto de Omsk, um caminhão atravessava o Rio Irtysh, que no inverno estava congelado, mas a carga de 10 toneladas de cerveja foi demais e o veículo acabou quebrando o gelo e afundou. O motorista se salvou e foi comunicar a triste notícia.
Como qualquer aspirante a Napoleão sabe, logística é uma coisa complicada no inverno da Rússia, e repor essas 10 toneladas de cerveja seria virtualmente impossível. A solução foi organizar uma operação de resgate digna dos Thunderbirds.
Um grupo do Exército Russo, com 10 trabalhadores, seis mergulhadores e um tanque T-72 adaptado foi enviado pelo Ministério das Emergências. Depois de formularem um plano (Os russos, filho, não vão ao banheiro sem um plano) iniciaram o resgate.
Levaram uma semana para abrir uma trilha de 100 metros na floresta, com motosserras para o T-72 conseguir chegar na margem do rio, então começaram os trabalhos de içamento. Eles conseguiram puxar o caminhão para a superfície, e retirar as 10 toneladas de barris de cerveja, mas o cabo se rompeu e o caminhão voltou pro fundo do rio.
Nesse momento, com a missão virtualmente cumprida e temperatura de -27C, os russos encerraram a operação. A Cervejaria Rosar, que era o destino final da carga disse que a temperatura provavelmente preservou a cerveja, então iria aceitar os barris e revender a cerveja com preços promocionais.
Operações Salvem a Cerveja prosseguem até hoje. Em Junho de 2021 a Alemanha enfrentou um dilema: Com a retirada das tropas do Afeganistão, muito equipamento foi deixado para trás, mas havia uma carga em especial que precisava ser trazida para casa: 22600 litros de álcool, incluindo vinhos, licores e 60 mil latas de cerveja.
Como álcool é proibido no Afeganistão, não dava pra vender no mercado local, e se deixarem para trás corre o risco daqueles animais selvagens do Talibã destruírem as pobres e inocentes latinhas.
Depois de procurar bastante conseguiram uma empresa que topou resgatar a bebida, que será revendida e é capaz até de sobrar um troquinho pro Exército. Ao menos algo foi salvo daquele atoleiro que é o Afeganistão.