A Praga Dançante de 1518 – A mãe de todos os Flashmobs

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OK, explicando para os jovens: Antes da bênção do COVID, que baniu as dancinhas idiotas para o TikTok, havia uma moda onde um bando de idiotas combinava se encontrar em algum lugar público e começavam a dançar.

A maioria das pessoas acha que esses flashmobs eram um dos efeitos colaterais da Internet, mas em verdade eles surgiram bem antes, em uma época em que telefones celulares eram bem menos populares. Eu digo, por volta do Século VII, mas o grande evento aconteceu em 1518, e foi documentado em um monte de fontes.

Em Julho de 1518, na cidade de Estrasburgo, no que hoje é França, uma tal de Frau Troffea começou a dançar. Assim, do nada, sem iPod, Walkman ou mesmo aquela bandinha medieval com flauta e alaúde, que aparecem em todos os filmes de época.

Logo ela atraiu outros, contaminados ou inspirados pela performance da tal Troffea, outras pessoas se juntaram a ela e começaram a dançar.

Dizem os relatos que ela e outros dançavam até desmaiar de exaustão, acordavam e continuavam dançando. A condição começou a se espalhar por outras vilas da região. Em Agosto de 1518 pelo menos 400 pessoas estavam dançando descontroladamente em Estrasburgo e adjacências.

Gravura de Pieter Brueghel, que teria testemunhado a praga dançante de 1518.

O lado sinistro é que alguns relatos dizem que até 15 pessoas por dia morriam de exaustão, e os sobreviventes eram vistos com desconfiança. Convenhamos, 1518 não era exatamente o ápice do Conhecimento da Humanidade, e um monte de gente dançando descontroladamente não seria visto como uma curiosidade.

A maioria das hipóteses na época envolviam possessão demoníaca, o que -de novo- em 1518 não era o diagnóstico que alguém gostaria de receber. Alguns médicos mais racionais identificaram a causa como “sangue quente”, seja lá o que for isso.

Por volta de Setembro de 1518 a maioria das danças pararam, as pessoas que sobreviveram voltaram ao seu dia-a-dia normal. Até hoje ninguém faz idéia do que aconteceu. Alguns imaginam que tenha sido por causa de um fungo alucinógeno presente no pão, mas não explica gente de outras vilas se unindo ao grupo principal.

Outras hipóteses envolvem histeria coletiva, mas isso também não encaixa muito bem.

Por volta do Século XVII os casos de Praga Dançante simplesmente desapareceram, saíram de moda como os mullets, mas antes disso eram relativamente comuns.

Em 1536, na Basiléia um grupo de crianças saiu dançando pela cidade, curiosamente pouco tempo depois surgiu a lenda do Flautista de Hamelin.

(Original Caption) Dancing mania sweeps through Europe during medieval plague. Penitents pray for mitigation of plague. Undated illustration.

Em 1374 ocorreu um dos maiores casos de Praga Dançante: Em Aachen um grupo de pessoas começou a dançar, e percorrer as estradas. Logo havia gente dançando de forma descontrolada em Colônia, Flanders, Estrasburgo e várias outras cidades. Também ocorreram casos em 1381, 1020, 1278, 1373 e 1374, 1375 e 1376, 1418 e em 1428, quando um monte dançou até morrer.

A Praga Dançante foi tema de um episódio de Buffy, (Once More With Feeling) onde Xander invoca um demônio dançarino, as pessoas passam a viver como se estivessem em um musical, mas o preço é que se parassem de dançar, queimavam até a morte.

A melhor explicação até agora é que a tal Praga era um fenômeno social, alguém decidia começar a dançar, outros espontaneamente se juntavam ao grupo e por pressão coletiva, ninguém queria ser o primeiro a parar, tipo quando a gente é adolescente idiota, perdoe o pleonasmo, e dizer “quero não, tou legal” é sinônimo de derrota, melhor tomar MAIS uma vodca e vomita depois.

Curiosamente, há outra praga dançante com origem bem definida e “explicação”, e a culpada é a Tarântula-do-mediterrâneo (Lycosa tarântula) uma aranha que, pra confundir, nem é uma tarântula.

Razoavelmente venenosa, ela era muito comum nos campos do Sul da Itália no Século XI, e costumava morder o povo da agricultura. Diziam que entre os sintomas, como febre, dor e outras coisas ruins, vinha uma dança descontrolada, que era também a única forma de expelir o veneno.

Quando uma pessoa era mordida, começava a dançar, e gente que já havia sido picada antes achava que o veneno podia ser reativado em seus corpos, então se juntavam ao dançarino.

Logo músicas específicas foram criadas, e sempre havia gente de prontidão para servir de SAMU Medieval, só que ao invés de antídoto, traziam instrumentos.

Com o tempo as músicas foram evoluindo, e se afastando da função oficial. As aranhas acabaram esquecidas, mas toda uma série de músicas regionais mantém em seu nome a velha origem. Tarântulas, da região de Taranto. O nome do estilo? Tarantella.


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