A regra é clara: Nunca mexa com o cozinheiro

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No excelente documentário Guerra, Sombra e Água Fresca, o Coronel Klink morria de medo de ser mandado para a Frente Russa. E com razão, nem os russos queriam estar na Frente Russa, mas não era uma opção, incluindo um jovem de 22 anos chamado Ivan Pavlovich Sereda.

Nascido em Oleksandrivka, de uma família bem pobre, Ivan decidiu tentar carreira culinária, estudando para ser cozinheiro, mas quando para a surpresa de Stalin e mais ninguém na face da Terra Hitler invadiu a União Soviética em junho de 1941, todo mundo foi convocado, incluindo Ivan.

Sem grandes aptidões militares, mas com interesse em cozinha, ele foi mandado para um centro de treinamento de cozinha militar em Donetsk, e depois de formado, transferido para o 91º Regimento de Tanques, 46ª Divisão de Tanques, 21º Corpo Mecanizado.

Estacionada na Látvia, a unidade de Ivan via combate todo dia, na verdade estavam a 4 dias lutando sem parar, exceto Ivan, que ficava na cozinha, preparando refeições para os que conseguiam voltar da frente de batalha.

Ivan Pavlovich Sereda

Certo dia o Comandante do Batalhão chegou correndo no acampamento. Os alemães estavam cercando as unidades, eles precisavam contra-atacar com tudo que tivessem, todos os homens deveriam subir em seus tanques e se mover imediatamente.

“Você não, Ivan”.

Resignado, ele ficou sozinho, descascando batatas e pensando na vida, até que ouviu barulho ao longe. Talvez fossem os colegas voltando do combate.

Não exatamente. Três panzers nazistas vinham em direção ao acampamento. Ivan se escondeu e rezou para seja lá o que for que os comunistas rezassem. Spoilers: Em geral é Jesus do mesmo jeito.

Dois dos tanques se desviaram, vendo que o acampamento estava vazio. Um terceiro se aproximou. A escotilha foi aberta, o comandante desceu e começou a inspecionar o local, dirigindo-se para a cozinha de Ivan.

Escondido, Ivan percebe com horror que seu fuzil Mosin–Nagant está jogado, longe de seu alcance. Procurando desesperado por algo com que se defender, ele encontra uma machadinha, e quando o alemão se aproxima, algo estalou, e Ivan entrou em modo Full Chefe Ryback.

Gosto de imaginar que ele antecipou em décadas a frase do Steven Seagal e gritou “Ninguém me vence na minha cozinha!”, enquanto partia como um maníaco pra cima do nazista, brandindo seu machado.

O representante da Raça Superior saiu correndo, conseguindo se refugiar em seu tanque. Enquanto isso Ivan pegou sua arma, e fez o lógico: Subiu no tanque e começou a golpeá-lo com o machado.

A alternativa seria tentar fugir, o que não daria certo. Ele seria trucidado pelo canhão ou pelas metralhadoras do panzer, que já disparavam tentando acertá-lo.

O Panzerkampfwagen 38 não era exatamente um King Tiger mas ainda é bem desproporcional pra ser enfrentado com um machado.

Com sangue nos olhos, Ivan jogou uma lona sobre o visor do motorista, impedindo-o de ter como manobrar. O machado atacava o cano da metralhadora, que disparando sem parar, superaqueceu, tornando-se maleável a ponto de entortar com os golpes de Ivan.

Ele então jogou outra lona cobrindo a torre do tanque, cegando o comandante do tanque.

Batendo na blindagem e chamando seus companheiros imaginários, Ivan convenceu os alemães que havia uma penca de russos prestes a explodir o blindado.

Sem opções, o comandante abriu a escotilha, apenas para ver Ivan apontando seu Mosin–Nagant. Ele e os outros nazistas desceram do tanque, foram amarrados e Ivan esperou pacientemente a volta dos russos.

Quando chegaram, ninguém acreditou. O jovem cozinheiro havia capturado um panzer quase intacto e uma tripulação inteira, com rádios, mapas, pacote completo.

Imediatamente os oficiais russos perceberam que aquele soldado era muito mais que um cozinheiro, Ivan Sereda foi transferido para uma tropa de reconhecimento, onde continuou a praticar o saudável esporte de matar nazistas.

Ivan, devidamente medalhado.

Por seus feitos, Ivan Pavlovich Sereda recebeu a Ordem de Lênin, e foi declarado Herói da União Soviética, maior condecoração existente no país.

Ivan chegou a ser promovido a Tenente Sênior, tendo participado de batalhas como o Cerco de Moscou e a Batalha de Leningrado.

Ao contrário de milhões de seus companheiros, Ivan sobreviveu à Guerra, mas ela cobrou um alto preço. Ferido várias vezes, as seqüelas do combate encurtaram sua vida, ele veio a falecer em 1950, com apenas 31 anos de idade.

Ele foi enterrado em sua vila natal, Alexandrovka, na sua amada Ucrânia.

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