A não tão misteriosa ausência dos DeepFakes nas eleições

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Não, não é verdade que a Luciana Vendramini tenha sido uma musa da Era de Ouro de Hollywood, serão DeepFakes?

As eleições presidenciais tradicionalmente trazem promessas não-cumpridas, seja a venezuelização do Brasil e o bunker que o PT teria construído debaixo do estádio do Corinthians para prender inimigos políticos, seja os tanques na rua e a perseguição sistemática que o Ornitomito -se eleito- promoveria contra gays e outras minorias da Turma do Alfabeto, incluindo a construção de campos de concentração.

Eu normalmente não faço mais que rir dessas histerias apocalípticas, mas houve um caso em especial que me preocupou. Em minha inocência achei que seria algo muito usado, por todos os lados, e destruiria a credibilidade da mídia audiovisual.

Tolinho, eu.

Falo, claro da tecnologia dos DeepFakes, surgida nos esgotos do Reddit e usada em Pr0n, cinema, pr0n, televisão, pr0n, comerciais e também em pr0n. Essencialmente a técnica usa IA e redes neurais para criar um modelo do rosto de uma pessoa, e adaptar esse modelo para se encaixar em outra cabeça.

Até aí, nada, qualquer zé ruela com Photoshop faz isso, mas a beleza do DeepFake é que ele funciona com imagens em movimento, cuidando inclusive de sincronização labial.

Neste exemplo aqui um sujeito colocou a Emma Watson no lugar da Lea Thompson, em De Volta Para o Futuro. E acredite, esse é o DeepFake mais censura-livre que achei da Emma Watson, a maioria é bem mais cabeluda. Ou não.

Existem tecnologias que fazem em áudio o equivalente aos deepfakes, é trivial criar modelos com vozes famosas facilmente reconhecidas, e fazê-las dizer o que você quiser. Tipo Donald Trump contando a trágica hisória de Darth Plagueis:

Com todos esses ingredientes, imaginava-se, eu inclusivo, que as eleições de 2018 provavelmente e as de 2022 com toda certeza seriam assoladas de vídeos com Bolsonaro devorando bebês, Lula invocando satã no porão de uma pizzaria, o irmão do Ciro Gomes atacando manifestantes com um trator, esses absurdos.

Não houve nada disso.

Qual o motivo? Claramente Lula e Fidel Castro em uma sessão de sexo com ovelhas seria um vídeo super-viral, E quem deixaria de repassar o Ornitomito traindo Michele com a Ema do Planalto?

Mesmo as propostas indecentes que de vez em quando pipocam nas minhas DM não envolveram Deep Fakes. O jogo político estava estranhamente limpo, dentro do possível.

Depois de muito pensar, em percebi que caí na falácia da sofisticação desnecessária. Ficava imaginando planos mirabolantes dignos do Cérebro, quando bastava dar ao povo o Pinky. E sim, isso é tão óbvio que houve até um episódio onde o Pinky foi eleito Presidente dos EUA.

Não é preciso entrar em modo Full Frank Underwood, não é preciso um planejamento de xadrez 5D nem vídeos que dariam trabalho pra Industrial Light and Magic.

A resposta já havia sido dada décadas atrás, por Joseph Goebbels, uma das criaturas mais nefastas de todos os tempos e brilhante Ministro da Propaganda de Hitler:

Goebbels, morto e tostadinho como todo bom nazista deveria estar.

“Não há necessidade de que a propaganda seja rica em conteúdo intelectual.”

“…os membros de base geralmente são muito mais primitivos do que imaginamos. A propaganda, portanto, deve ser sempre essencialmente simples e repetitiva.”

“A propaganda funciona melhor quando aqueles que estão sendo manipulados têm certeza de que estão agindo por sua livre vontade própria.”

” Não queremos ser um movimento de algumas mentes vazias, mas sim um movimento que possa conquistar as massas amplas. A propaganda deve ser popular, não agradável intelectualmente. Não é tarefa da propaganda descobrir verdades intelectuais.”

A boa propaganda, e falo como ex-publicitário, deve ser simples, nisso Goebbels tinha razão. Propaganda não é lugar para fazer referências intelectuais e impressionar seus coleguinhas de agência. Um DeepFake elaborado cheio de referências vai fazer sucesso talvez no Twitter, mas o povão do ZapZap vai ignorar.

Por isso uma das maiores pedras no sapato do PT é o velho vídeo do Lula zoando Pelotas.

Felizmente (para o PT) o povão vê o vídeo, acha engraçado e segue a vida, só quem se ofende é a ala colorida do Partido, mas esses só existem no Twitter.

Acompanhando as postagens dos grupos políticos, vemos barbaridades rasteiras todos os dias. A bobagem atual é que “200 tanques russos foram desembarcados em Santos”, com direito até a vídeo. O CyberGado está postando desesperadamente os vídeos, e retardados replicam, aplaudem e celebram, com menos senso crítico que uma rodela de palmito.

Claro, dois minutos de Google e os “tanques russos em Santos” são apenas parte de uma parada militar em Moscou, 2021.

As pessoas acreditam em qualquer bobagem, se a bobagem reforça o que elas acreditam. Muita gente repassou a besteira dos tanques russos com base no “mas e se…?”.

Sites como o E-Farsas estão repletos de desmentidos, mas o povo não quer saber. Para eles o Lula morreu SIM e foi substituído por um sósia usando uma máscara de borracha (sic). O que é uma bobagem, pois o Lula é um Reptiliano e nós sabemos que eles não podem ser mortos com armas convencionais.

Gente que eu gosto, gente razoável e sensata se RECUSOU a acreditar que o vídeo da “suruba do Dória” era falso. O mais engraçado é que o autor parece não entender que na nossa sociedade latina, o povo condena publicamente a “traição”, mas intimamente acha o máximo o machão que dá conta de 5 mulheres de uma vez.

O próprio sujeito que postou o vídeo no Xvideos parece não entender se o vídeo é positivo ou negativo, a legenda atira pra todo lado.

Esse vídeo do Dória é um DeepFake? Provavelmente não, há pouquíssima exposição do rosto, que pode ser de qualquer um. Mais importante: Esse vídeo PRECISA ser um DeepFake?

A resposta é claramente “não”.

DeepFakes são complicados de produzir, consomem MUITO tempo de máquina, você precisa de GPUs poderosas e pode levar dias até conseguir um resultado satisfatório. Não é como ferramentas tipo o Stable Diffusion, que produzem uma imagem em pouco mais de um minuto, mesmo com minha GPU arcaica.

Eu acredito que eventualmente, quando a tecnologia se tornar mais ágil e amigável, DeepFakes e vídeos completamente gerados por IA serão utilizados em campanhas políticas, mas sempre como o menor denominador comum.

Muito fácil.

Temer os DeepFakes foi uma postura elitista de minha parte, eu deveria ter percebido que era trabalho demais para algo que seria visto repassado e esquecido. Se na mídia normal vivemos o famigerado ciclo de notícias de 24h, nas redes sociais o ritmo é muito mais frenético, com mensagens pipocando o tempo todo, cada hora uma barbaridade maior toma nossa atenção.

Não é o Lula discursando na ONU defendendo Marx que vai conquistar votos para a Direita. É uma foto de algum militante do MST em uma casa invadida, e um texto dizendo que Lula vai obrigar todo imóvel de mais de 60m2 a ceder cômodos para os sem-teto.

Isso é Goebbels básico:

Passo 1:

“As massas precisam de algo que as faça sentir um arrepio de horror.”

Passo 2:

“A propaganda deve facilitar o deslocamento da agressão especificando os alvos para o ódio.”

Ou, se você prefere alguém mais palatável, Yoda:

“O medo é o caminho para o lado negro. O medo leva a raiva. A raiva leva ao ódio. O ódio leva ao sofrimento.”

Os dois lados usam essas táticas, nada mais fácil de manipular do que uma população com medo. Medo do comunismo, medo do fascismo, tanto faz, é o mesmo fantasma com um lençol de cor diferente. O importante é manter sua base com medo, conjurar esse medo em raiva, e direcionar essa raiva contra tudo e todos que não faça parte do Lado do Bem, que é o seu, obviamente.

Basta repetir incessantemente que eles querem tirar suas coisas, ou eles querem proibir seu gênero, alimentar esse medo até virar rancor, e pronto. Sua massa manipulada, só com palavras e uma ou outra foto sem contexto.

Pra isso, não precisa de DeepFake.


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