Militância acusa injustamente Homelander de vilão e fascista

Militância acusa injustamente Homelander de vilão e fascista

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homelander Militância acusa injustamente Homelander de vilão e fascista

Quando surgiu o primeiro trailer d’O Despertar da Força um detalhe chamou a atenção de muita gente: Um stormtrooper negro. Visto que na trilogia original só havia um negro na Galáxia, e ninguém lembrava das prequels, era algo a se notar. Aí começaram os ataques racistas.

Ou melhor, começaram as notícias dos ataques racistas. Portais publicavam matérias falando que fãs estariam xingando a Disney, ameaçando boicotar o filme, fazendo comentários preconceituosos, etc, etc. Outros portais pegavam essas matérias, e as replicavam, adicionando indignação, entrevistando militantes e personalidades indignadas com os ataques.

Um belo dia alguém resolveu investigar. Descobriram que quando a matéria original saiu, todos os ataques, críticas e comentários racistas, se resumiam a twits de DOIS idiotas no Twitter, que comentaram alguma bobagem, e seguiram a vida.

Os vários comentários racistas reais vieram bem depois, quando a mídia divulgou tanto os supostos ataques que racistas de verdade se sentiram legitimados a ponto de falarem em voz alta o que alguns até pensavam, mas não se davam ao trabalho de reclamar.

Esse fenômeno tem acontecido com razoável freqüência, vindo dos dois extremos do espectro político. Geralmente uma atitude ou exemplo fora da curva é transformado em regra geral que irá destruir o tecido da sociedade, e o alvo da vez é a série da Amazon Prime The Boys, uma brilhante versão da excelente, mas limitada história em quadrinhos do mesmo nome, fruto da mente doentia de Garth Ennis.

Para quem não conhece: A premissa de The Boys é que super-heróis existem, gente com os mais variados superpoderes, mas como são pessoas normais, eles se tornam moralmente corruptos.

Os supers são controlados pela Vought, um mega-conglomerado que é uma espécie de OCP vitaminada. Eles são uma paródia de tudo que você puder imaginar, da Fox News à Disney, passando pela Amazon, claro. Eles manipulam a geopolítica nos EUA e no mundo, sempre visando lucro.

Homelander é o mais poderoso dos super-heróis. Imagine o Super-Homem, se tivesse sido criado -sei lá- pelo Agostinho Carrara. Homelander não tem um pingo de fibra moral em seu corpo, ele é um completo hedonista, um sociopata com zero empatia, mas que graças à propaganda da Vought, é visto como… o Super-Homem.

The Boys sempre foi um programa com um viés forte de esquerda, no sentido de, bem, corporações são assim mesmo, mas até os heróis que se vendiam como puros de coração não eram isso tudo. Hughie Campbell, um dos protagonistas, é um humano bom e gentil, que depois de ver sua namorada morta acidentalmente por um dos Supers, rapidamente muda de idéia e no primeiro episódio já está matando heróis a sangue frio.

Ninguém é realmente bom em The Boys, mas aparentemente algo mudou.

Nos últimos dias surgiu uma história na Internet de que os fãs de direita estariam indignados com os rumos da série, que teria se tornado “lacradora”, e que Homelander “agora” era uma paródia de Donald Trump, uma piada em cima dos ideais conservadores.

Eu estranhei, e fui pesquisar. Há centenas, milhares de posts nas redes sociais tripudiando os tais fãs de direita, chamando-os de burros, perguntando como eles podiam achar que Homelander era “um deles”, como não percebiam a paródia.

Também criticam os fãs por não perceberem que Homelander era do mal, sendo que ele em uma temporada literalmente namora uma nazista, esta aqui:

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Eu duvido que haja gente que veja Homelander como herói, ele nunca foi apresentado assim, desde o primeiro episódio ele é fraco, manipulável, emocionalmente instável e dependente. Ele não salva ninguém, mata gente por motivo fútil, aterroriza todo mundo. Até Hitler ao menos construiu estradas.

Nenhum fã da série pode dizer que foi enganado, The Boys sempre teve zero sutileza, desde o primeiro episódio. Quando Queen Maeve, a versão deles da Mulher-Maravilha é revelada como lésbica, a Vought cria toda uma campanha de Diversidade e Orgulho LGBT, só que como toda corporação cínica e hipócrita, os marketeiros da Vought não deixam Maeve se revelar como Bissexual, as pesquisas mostram que ela funciona melhor como lésbica, e lésbica será.

The Boys mostra o público e a militância de esquerda abraçando a propaganda, comprando o discurso de diversidade da empresa, do mesmo jeito que no mundo real adoram celebrar empresas que postam twits em junho celebrando diversidade, exceto nos perfis de regiões onde isso é mal-visto pelo público.

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Eu procurei, procurei bastante, confesso, mas mesmo com meu lendário Google-Fu, não consegui achar comentários tratando Homelander como herói. Também não vi ninguém dizendo que foi “enganado” pelos roteiristas, para acreditar que Homie era uma boa pessoa.

A Militância acusa esses supostos fãs conservadores de “analfabetismo literário”, diz que não conseguem entender as atitudes e motivações do personagem, mas em verdade é a militância que não entende nada de dramaturgia.

HOMELANDER NÃO É O VILÃO

Em dramaturgia (não me faça puxar Aristóteles e Georges Polti) o Vilão, ou Antagonista, é a pessoa, situação ou condição que se opõe ao protagonista. Vilão não precisa ser necessariamente alguém malvado. Em Perdido em Marte o vilão é… Marte. Em Star Wars o vilão é o Império. Darth Vader faz pouco ou nada para atrapalhar a vida dos heróis.

Homelander é mau feito o Pica-Pau, mas somente do nosso ponto-de-vista. Ele não tem um plano maligno, ele não quer dominar o mundo, ele não manipula ninguém. Homelander é um cara muito ruim, que fica no caminho dos protagonistas (não dá pra chamar os Boys de heróis).

O verdadeiro vilão, o antagonista que manipula e controla tudo são as corporações, representadas pela Vought. O próprio Homelander é fruto dessa manipulação.

A obsessão de Billy Butcher em matar Homelander tem sua justificativa (Homelander estuprou e teria matado a esposa de Butcher), mas essa caçada meio ahabiana é mal-direcionada. Mesmo sem Homelander, a Vought tem centenas de outros supers, nada mudaria.

Homelander é -ok, admito- um vilão, mas é no máximo um mini-boss, o peixe grande mesmo é a Vought.

HOMELANDER NÃO É FASCISTA

O povo que não percebeu que a Stormfront (literalmente o nome de um dos sites nazistas mais populares) era nazista adora “denunciar” o Homelander, sem perceber que nas cenas em que a Stormfront faz seus discursos contra minorias, imigrantes, etc, ele está visivelmente desconfortável, por um motivo muito simples:”

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Homelander está acima dessas bobagens, dessas briguinhas infantis. Ele não acredita na raça superior, ele É a raça superior. O mundo se divide entre Homelander e o resto, humanos são brinquedos, para ele não há diferença entre arianos, judeus, africanos, ou mesmo argentinos. Todos são igualmente descartáveis.

Ele tolerou o discurso da Stormfront because ppk, só isso. Homelander é a criatura mais poderosa da Terra, e quando não está bebendo leite sentindo pena de si mesmo, ele pode fazer o que quiser. Ele não tem um igual, só inferiores. Ele não tem porque dividir os humanos em grupos. Somos todos gado para ele.

HOMELANDER É VÍTIMA SIM

O povo do Amor Venceu, das 324349 neurodivergências e siglas autodiagnosticadas, que pede compreensão o tempo todo é o primeiro a dizer que não interessa que Homelander tenha nascido em condições trágicas, matado a mãe durante o parto.

Não importa que toda sua infância tenha sido apenas propaganda criada pelo marketing da Vought, que na verdade ele foi mantido em uma cela, tratado como uma cobaia por cientistas assustados, programado por psicólogos para desenvolver traumas que o mantivesse controlável.

Dizem que ele é responsável pelos seus atos e embora isso explique por quê ele é uma pessoa horrível, isso não justifica suas atitudes.

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Eu concordo plenamente. É a mesma coisa com a vilã de Forrest Gump, que ferrou com a vida do Forrest, não deixou ele seguir adiante, o abandonou seguidas vezes e só sossegou o rabo quando descobriu que ele era rico.

Sim, estou falando da Jenny –Ah mas ela foi abusada pipipi popopó– ué? Agora vale como justificativa pra ser uma pessoa horrível?

Nós sabemos o motivo do Homelander ser ruim, o que é legal, mas nem sempre necessário, às vezes um personagem é ruim por ser ruim, ninguém quer saber a origem do Esqueleto, ou como Hans Landa, meu nazista favorito depois do Coronel Klink, virou malvado. O que nos leva ao ponto…

É POSSÍVEL GOSTAR DO HOMELANDER SEM SER FASCISTA?

George Lucas, que não é exatamente um escritor sutil, baseou seu império galáctico fascista e autoritário na Alemanha Nazista. Seus soldados, anônimos e implacáveis eram chamados de Stormtroopers, provavelmente um sutil e obscura referência às tropas nazistas chamadas Stormtroopers.

Lucas foi além; até as armas usadas eram armas em sua maioria alemãs, modificadas para parecerem futuristas (Muito tempo atrás, lerelere, EU SEI)

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Isso não impediu um monte de fãs de ficar fascinados pela história, e pelos stormtroopers. Logo surgiram grupos de cosplays, e um dos mais famosos é a 501ª Legião, com seções locais no mundo inteiro, até no Brasil.

Nota: Eu namorei uma membra da 501ª Legião no Brasil, a moça tinha uma tatuagem do emblema do Império nas costas, infelizmente nunca consegui que ela me chamasse de escória rebelde.

O povo da 501ª participa de eventos, vão em grupo a lançamentos de filmes, carregando seus blasters e agindo de forma séria e intimidadora, como as tropas nos filmes. Só que eles não são nazistas. Nenhum deles é a favor de um império galáctico autoritário.

A 501ª Legião é composta de fãs de uma série de filmes de ficção, eles brincam de ser parte do Maligno Império Galáctico. Na vida real a 501ª é conhecida por seu trabalho de caridade, incluindo visitas a hospitais infantis. O lema é “Caras ruins fazendo o bem”

Se usarmos a leitura tacanha e míope da Militância, eles estariam promovendo fascismo intergaláctico. Só que pessoas adultas sabem diferenciar realidade de ficção.

Gostar do Homelander é a mesma coisa. Se você acha a mensagem dele de poder absoluto e desprezo por todas as coisas vivas, você é um psicopata. Mas se você acha que ele é um personagem complexo, horrível, fascinante, intrigante, digno de pena e raiva? Então você é um fã.

Walt Disney dizia que uma história é tão boa quanto seu vilão. Antagonistas ruins, unidimensionais, sem motivação são chatos. São mais empecilhos que qualquer coisa. Um bom vilão torna tudo mais interessante, por isso gostamos tanto deles.

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Não há nada de errado (entenda Militância) em gostar de vilões. Hans Landa em Bastardos Inglórios, o Coringa do Heath Ledger, O T-1000 de Robert Patrick, Hannibal Lecter, Scar, Killmonger, Thanos. Todos são errados (Killmonger nem tanto) mas eles funcionam, é delicioso gostar deles, acompanhar suas maquinações, torcer para o herói não vencer muito rápido.

Dramaturgia, a Militância dramaturgicamente analfabeta obviamente não entende, precisa de conflito, precisa de tensão. Não há nada mais tedioso do que um herói onipotente, que resolve todos os problemas estalando os dedos. Queremos heróis -E VILÕES- complicados, falhos, humanos (e desumanos), o povo do arco-íris enxerga o mundo em preto-e-branco, mas ele é cinza. Ninguém é 100% ruim ou 100% bom.

VILÕES SÃO EXEMPLOS?

Não, povo, não. Você não precisa se identificar com um vilão para gostar dele. Ninguém aqui é ladrão ou alemão, mas aposto que todo mundo ADORA o Hans Gruber. Vilões são parte essencial do modelo dramático e gostar do vilão significa que os envolvidos fizeram o trabalho deles. Só isso.

CONCLUSÃO

É perfeitamente normal gostar do Homelander, apreciar seu desequilíbrio e desprezo pelo resto da Humanidade. Ele deveria ser exaltado pela Turma do Alfabeto, pois mata, oprime e hostiliza todo mundo igualmente, independente de raça, cor ou orientação sexual. Todos são igualmente irrelevantes. E seu melhor amigo, Black Noir, era negro!

Ninguém foi enganado, Homelander nunca foi vendido como herói nem nunca agiu como um. As “denúncias” da Militância estão fazendo uma tempestade em um dedal, que vai durar até desocupados de direita correndo atrás de engajamento pegarem a pauta para si, fingindo indignação com as mudanças em uma série que obviamente não acompanham.

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