Esta é uma daquelas histórias que rendem filmes de Sessão da Tarde, mas ao contrário do excelente Céu de Outubro, a situação de William Kamkwamba era muito mais dramática.
Ele nasceu e cresceu em Malawi, um daqueles países irrelevantes até mesmo para os padrões africanos. Tem 14 milhões de habitantes, baixa expectativa de vida, alta mortalidade infantil e AIDS. A renda per capita é de US$312,00. Só para comparar a do Brasil é de US$8.295,00.
Sua vila/aldeia não tinha saneamento básico, água corrente e muito menos eletricidade. É comum na África gente percorrer quilômetros a pé para recarregar celulares e rádios, e era o que William fazia.
Em 2002 aos 14 anos seus pais foram obrigados a tirá-lo da escola. Assolados pela fome a família não tinha como mantê-lo estudante. Mas Kamkwamba era um grande guerreiro, não no sentido militar -guerra não faz ninguém grande- mas no intelectual. Mesmo fora da escola ele continuou frequentando uma pequena biblioteca, de um só cômodo, bancada por doações do Governo dos EUA.
Nela ele viu um livro sobre moinhos de vento. Mesmo sem entender muito bem inglês, percebeu que aquilo era algo que ele conseguiria fazer. Percebeu que eletricidade era a chave para melhorar a condição de vida de sua família. Só 2% da população tem acesso ao recurso.
Durante 3 meses ele juntou peças de ferro-velho, bicicletas encontradas no lixo, estudou sobre magnetismo, condutores e dínamos. De posso do conhecimento repassado por Mestre a muito mortos, ele fez algo que deixaria Maxwell orgulhoso: Aplicou a Teoria e construiu um moinho de vento:
Antes do projeto ficar pronto, a turma que acredita que nada pode ser feito da primeira vez caiu de pau em cima do garoto, afinal um moleque de 14 anos, em um país insignificante da África ousar desafiar os Deuses da Mediocridade e construir algo, ao invés de sentar, reclamar e ficar recebendo calado a esmola em forma de doações da ONU?
Isso é uma afronta a todo mundo que escolheu o caminho mais fácil. Por isso Kamkwamba ouvia coisas como:
“Você é doido, acho que está fumando maconha demais”
Indignado o garoto respondia: “Vejam esta foto no livro! Esse moinho não caiu do céu, alguém construiu!”
Mesmo assim o projeto deu certo. O moinho gerava energia para televisão, eletrodomésticos, rádio, iluminação, recarregar celulares e o mais importante, bombear água.
Logo o moinho de Kamkwamba se tornou atração turística/funcional. Pessoas vinham de longe para carregar seus celulares, outros começaram a visitar a biblioteca, os sábios locais perceberam que a história precisava ser divulgada. Logo um jornalista apareceu e Kamkwamba teve seu feito publicado.
Graças aos blogs a notícia se espalhou mais ainda. Logo William Kamkwamba estava ensinando a construir moinhos, viajando pela África contando sua história, que foi parar nos ouvidos de Bryan Mealer, jornalista especializado na África.
Bryan passou mais de um ano juntando material, fazendo entrevistas e visitando os locais, até escrever “O Garoto que Domou o Vento”, contando toda a história.
O livro já está na lista de Best Sellers do New York Times.
Ele acaba de voltar de uma turnê nos Estados Unidos, apareceu em diversos programas, como o Daily Show. Quer fazer faculdade por lá, e eu aposto meu botão de block no Twitter que não faltarão Universidades oferecendo bolsas integrais.
Afinal de contas mesmo sendo um garoto que não foi alfabetizado em inglês, sem um centavo no bolso e praticamente sem comida em casa,
Isso propiciou um currículo invejável. No mínimo tem que se respeitar alguém que faz uma apresentação no TED em Oxford, Inglaterra.
Ele conseguiu isso sem computadores, sem Internet, sem superstição, sem ódio nem raiva. Poderia ser mais um pregando caos e destruição, com seus AK47s virtuais ou não. Mas esses e seus gritos raivosos estão sempre destinados ao esquecimento.
Lembrado será
E sim, ele tem conta no Twitter.