Será que somos tão melhores que eles que não aceitamos esse tipo de esmola? O que torna um banner do herbalife kosher, um link para o Submarino disfarçado de resenha um modelo válido, mas não admite um simples e honesto pedido de dinheiro?
Virtualmente todo projeto no sourceforge.net tem link para doações. A maioria dos plugins do WordPress e Freewares contam com links de doação. Já no Brasil, é virtualmente impossível achar alguém que aceite doações / presentes / gorjetas online.
Vejamos alguns exemplos de minha lista de sites preferidos:
- O Interney, tido como muitos como a única pessoa que vive de blog no Brasil, que assumidamente pratica Blogagem Comercial, com muito orgulho, não disponibiliza um link de doações.
- O Jesus, me chicoteia, que já foi um excelente blog, “rendeu-se” à publicidade mas não sonha em pedir doações
- Bruno Alves tem AdSense, programas de afiliados, Submarino, mas nada de doações.
- O Carreira Solo também fatura no conteúdo patrocinado e nos Afiliados, mas não doações.
- O Serendipidade até pede doações, no final da página, mas para outros. O faturamento do blog é.. adivinhem: Submarino.
- O Empreendedor Virtual, que essencialmente fala sobre ganhar dinheiro online, e conta inclusive com publicidade própria, não tem um botão de doações.
O único blog que achei com opção de doação é o Revolução, etc.
Acredito que nossa cultura não estimule esse tipo de coisa. Curiosamente, a mesma culpa burguesa de classe-média que alimenta os pivetes da Cinelândia com quentinhas e notas de R$2,00 (dar R$1,00 está se tornando mal-visto) é a cultura que vilaniza quem aufere ganhos indiretos com o próprio trabalho.
O saque ao supermercado é legítimo, o Mensalão não é, pois no Brasil temos um conceito de “gravidade relativa”, onde um crime é amenizado se houver outro crime de maior gravidade no consciente coletivo no momento.
Exemplos:
“Certo, o pivete levou seu celular, mas os Ladrões de Brasília roubaram muito mais e ninguém fez nada. Deixa o garoto, coitado.”
“Eu sei que estou saindo com um cara casado, mas a minha vizinha sai com dois e está grávida de um terceiro”
Pobres, mas Orgulhosos
Ao mesmo tempo que a culpa burguesa (que curiosamente se espalha por todos os níveis da sociedade) estimula o ato de dar, pedir é algo muito feio. “clique nos meus banners” é muito mal-recebido em qualquer lugar, mesmo que você proveja conteúdo especializado e sob medida. Fiz uma experiência uns meses atrás, com uma lista de mais de 2000 membros, pedi UM clique por dia, disponibilizando dezenas de MBs de material.
Em alguns dias tive menos de 3 cliques vindos da lista. Os downloads eram gigantescos.
Quando parei de produzir o material e pedir cliques, estes aumentaram. O ato de pedir irritava mais o visitante que a publicidade em si.
Nisso há acordo com a maioria dos blogueiros, pois pedir é algo desconfortável, passa uma percepção de vulnerabilidade. No Brasil a publicidade é vista como um modelo legítimo de faturamento, a doação não. As universidades são um bom exemplo. O MIT, Caltch, Harvard e outras vivem basicamente de doações.
Harvard, em 2004, recebeu US$22,6 BILHÕES de dólares em doações. De onde vem isso? Bem, se você se forma em uma grande Universidade, sai com emprego garantido ganhando mais de US$250.000 / ano, há uma certa gratidão envolvida.
Quanta gente você conhece que doou alguma coisa para a PUC, UFRJ, USP ou Unicamp?
A mentalidade “Não vou dar pois não precisam” é forte demais. Seja para uma Universidade Federal, seja para um blogueiro.
Disso tudo só posso concluir uma coisa: Se para uma das maiores universidades do mundo não é vergonha pedir doações, EU que sou um reles blogueiro brasileiro é que não vou ter vergonha de estender o pires.