Você precisa de um site pra chamar de seu…

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E esquecer logo em seguida. Essa parte da Internet não é levada a sério no Brasil, seja nas empresas de tecnologia, que (tirando as multinacionais) abominam conceitos como SOHO e trabalho remoto, seja na mídia, onde os braços de Internet são o patinho-feio. Escrever “pro site” nem de longe dá tanto status quanto escrever “pro jornal de verdade”. Mas não pára aí, as figuras da mídia também não dão bola. Quase ninguém tem blog ou site. Os domínios estão quase todos na mão de oportunistas, e uma imensa maioria dos sites existentes são criados, anunciados e abandonados.

No Exterior
A cultura de Internet já se espalhou no mundo civilizado. É muito comum encontrar “sites oficiais” de gente como o Paul Allen (da Microsoft), a tenista Anna Kournikova, ou a supermodelo Cindy Crawford. Alguns, como o ineasta Kevin Smith, não se contentam com um site. Ele tem um blog, dois ou três sites e mais n outras atividades online.

catherinebell.jpgEscritores e jornalistas usam e abusam do meio Internet para se aproximar dos leitores. Posso citar vários como Neil Gaiman, Dan Brown, Stephen King e John Dvorak.

As celebridades de Hollywood também mantém seus sites. Uma busca rápida retornou sites oficiais para Hale Berry, William Shatner, Catherine Bell, Chuck Norris (é melhor clicar nesta, Chuck saberá se você não o fizer), Ted Raimi (irmão do Sam Raimi e Joxer, na Xena) e Lucy Lawless (a Xena).

Todos esses sites são atualizados, com notícias, informações pessoais, textos de autoria dos próprios “donos” e, mesmo quando o “dono” não se disponibiliza a produzir conteúdo, geralmente autoriza um fã-clube a cuidar chuck.jpgda divulgação e produção de conteúdo.

Temos uma mídia especializada que acompanha esses sites, profissionais preocupados em manter uma boa imagem online e usar esses recursos para melhor interagir com sua base de fãs. Isso cria a mercadoria mais desejada, lealdade. Um fã satisfeito irá comprar seu disco, denunciará sites caluniosos, apontará onde você está errando, onde está acertando. Principalmente, perdoará suas escolhas ruins. Seu dia-a-dia não será exposto em revista de fofoca, inventado por redatores entediados. Expondo assim sua vida, sua privacidade será muito mais respeitada.

Já no Brasil, nada disso acontece.

No Brasil
Aqui é raro um blog de figura conhecida. Há, claro, as exceções, mas são tão raras que a própria existência do blog já é notícia, vide o Noblat ou a Cora. São citados não só pelo que escrevem mas pelo simples fato de escreverem. Uma pesquisa entre escritores e jornalistas mais conhecidos revelou sites e blogs inexistentes para, entre outros:

  • Ruy Castro
  • Fernando Morais
  • Diogo Mainardi
  • Jorge Furtado
  • Alexandre Machado

No campo das empresas então, onde blog é visto como uma grande perda de tempo, a coisa piora. Há honrosas exceções, mas em sua maioria os poucos existentes são impessoais, panfletários em termos de propaganda e sem nenhum conteúdo real. O Blog vira uma outra mídia para o press release. Esperemos que iniciativas como o livro do Cipriani sobre Blogs Corporativos mudem isso. Seria bom ver o pessoal colocando a cara pra fora, como é comum no exterior. Mais de um CEO de grande empresa já foi flagrado blogando, e isso é visto (ao menos fora do Brasil) como um ponto positivo.

Nossa cultura não estimula o blog
Algum tempo atrás noticiou-se que César Maia tinha um blog. Nele tecia comentários políticos altamente interessantes, além de usar de seus poderes de Velha Raposa para divulgar notinhas comprometedoras, dar furos de reportagem, cutucar desafetos… O resultado? Foi escurraçado pela mídia.

Várias reportagens o “acusaram” de “prefeito blogueiro”, mesmo ele explicando que escrevia muito em trânsito, que isso nunca interferiu com seu trabalho na prefeitura, que era quase uma terapia. Prefeito não pode ter blog, não pode sequer ir ao banheiro, pelo visto. A opinião de que “trabalho é coisa séria”, que tanto mal faz ao Brasil, mais uma vez foi vitoriosa. O Blog do César Maia saiu do ar. Um veículo de contato com a população, de um político em dia com a tecnologia deixou de existir. Por pressão de gente que deveria entender, antes do cidadão comum, as vantagens da ferramenta.

Um empresário que assine um blog será cobrado por não estar “tomando conta das empresas”. O empreendedorismo, mal-visto do jeito que é no Brasil, não é algo que alguém se orgulhe. Na hora que alguém, todo feliz, postar que fechou um contrato de 3 milhões de dólares para exportar um produto, com certeza receberá de volta um comentário do gênero “com tanta gente passando fome..”.

No início da Internet no Brasil, mandei meu primeiro email internacional, para Nicholas Negroponte, do MIT. Ele assinava uma coluna na revista Wired, resolvi fazer alguns elogios e contar que ele tinha um fã tupiniquim. mandei uma mensagem curta, onde no final pedia à secretária dele que por favor passasse meu recado.

Não pedi resposta, nada. Apenas um comentário “você recebeu um email do Brasil” ou algo assim.

No dia seguinte recebi um email do próprio Negroponte, agradecendo a mensagem e terminando com meu primeiro esporro internacional: “Eu respondo meus próprios emails”.

A filosofia corporativa que eu profetizei (erradamente) ali está tão enraizada em nossa cultura, que até pouco tempo atrás o Presidente da maior startup de ensino à distância da Internet brasileira tinha seus emails impressos pela secretária, respondidos na caneta, repassados para ela, que os digitava e enviava em nome do patrão.

Isso é Brasil. Aqui parece que é feio você colocar a mão na massa.

No campo da mídia, vemos poucos blogs genuínos, como o da Samara Felippo. A maioria são sites oficiais feitos com uma burocracia e uma impessoalidade gritantes. Impera aqui os portais de mídia. www.xuxa.com.br, www.josoares.com.br e outros levam para sites nos portais das organizações que os contrataram, mostrando material de divulgação/pasteurizado ou informações básicas sobre seus programas.

Will Wheaton, que foi hostilizado como Wesley Crusher em Star Trek – The Next Generation anos depois se tornou uma celebridade online, adorado e respeitado pelos mesmos geeks que o desprezavam. Motivo? Um blog excelente, onde compartilhava os mesmos ideais que seus detratores. Kevin Smith, diretor de Dogma, entre outros, também tem um excelente blog. William Gibson, autor de Neuromancer, também tem seu blog.

Em 2003 a Forbes já fazia uma reportagem sobre o tema, citando mais ou menos os mesmos motivos que eu. Proximidade com os fãs, é simpático, é lucrativo a longo prazo, etc.

Aqui vemos sites que surgem com certo estardalhaço, mas não passam de cascas ocas, feitos por amigos ou empresas que querem faturar um trocado em cima do nome da celebridade, mas não a adestram nos meandros do mundo online e/ou não dão manutenção ou sequer fazem a ponte entre os visitantes e o dono do site.

Um exemplo didático é o site da atriz Luciana Vendramini. Depois de uma visão incial agradável, percebemos que:

  • Nenhum material novo foi criado para o site; as fotos são todas pirateadas de outras mídias como seu ensaio para a Playboy e editorais de moda de revistas
  • O tratamento de imagem é PORCO. Moire (lê-se Moarrê) é um defeito visual típico de gente que não tem o mínimo de know-how em usar um scanner, e é o que mais se vê nas fotos do site
  • A tag TITLE da página é “Brazil Connection LTDA”. Não deveria ser “Luciana Vendramini Site Oficial”?
  • A área de NEWS mantém a mesma notícia desde o lançamento. Detalhe: Sem data.
  • Sua biografia termina em 2003
  • As fotos não contam com o recurso avançadíssimo chamado “legenda”
  • A agenda está em construção até hoje
  • A parte de fã-clube nunca responde aos emails enviados (eu tentei, claro)
  • Entrevistas? Em construção

Isso, minha gente, é a regra. Nós que vivemos de (e na) Internet temos dificuldade de entender e aceitar, mas é a realidade. Internet é tratada como acessório. Mesmo gente que tem (e paga por) assessoria de imprensa, não a usa para atualizar seus sites e manter uma presença online. A própria mídia, ao contrário dos EUA, normalmente não utiliza blogs como fonte de informações.

Presenciamos um fenômeno onde gente que depende do público pela primeira vez na História tem uma ferramenta de interação com um contingente enorme de fãs, mas por falta de conhecimento / curiosidade / aconselhamento se aliena totalmente.

Há excessões, como a Luisa Mell, em menor escala a Luana Piovani, mas poucos são ratos de internet como o Leo Jaime. No final o melhor blog de celebridade do Brasil é uma paródia, o Meu Nome é Regina.

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