Ainda não é hora de matar o seu designer

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Um dilema interessante para quem vive internet profissionalmente é que embora você deva estar em dia com as últimas tendências, de modo algum você pode aplicá-las indiscriminadamente.

As transições são em geral lentas, mesmo mudanças indiscutivelmente benéficas como a migração do VHS para o DVD não sáo unânimes nem instantâneas, conheço alguns cidadãos que ainda não possuem DVD. São luditas, eu sei, mas ainda assim, qualquer conteúdo lançado em DVD não os atingirá.

Na Internet durante um tempo foi comum sites pedirem toneladas de plugins, e como não havia nenhum dominante, cada grupo de sites utilizava um plugin diferente, para fazer a mesma coisa. Quem tinha o sistema operacional errado, ou não dispunha de banda suficiente para baixar o plugin, não acessava. Durante mais de um mês o site do Unikey, na época meu provedor/BBS ficou inacessível aos usuários do Netscape, funcionava apenas no Internet Explorer, que era um total e completo horror, com menos de 5% do mercado.

Motivo? O webmaster usava Internet Explorer, e para ele era o padrão, quem quisesse acessar, que o utilizasse.

A tentação de usar novas e excitantes tecnologias é compreensível, mas elas valem a pena se alienam a maior parte de seus usuários?

Vejamos dois exemplos: RSS e Podcasts.

RSS

Aqui temos uma tecnologia interessante, sem a qual seria impossível acompanhar a massa de informações que os mais antenados acompanham. Eu mesmo tenho 323 (ops, 322, apaguei 1 hoje) sites que acompanho, várias vezes ao dia. Com o RSS é fácil, sem ele seria inviável.

Prover informação via RSS também é algo obscenamente conveniente. Um blog em um servidor decente precisa fazer basicamente… Nada. É o sonho dos autores e pesadelo dos designers, pois você só tem conteúdo, não tem nenhum recurso complexo de formatação. Toda a exibição é controlada pelo leitor de feeds.

Mais ainda, como o RSS é muito ágil e consome quase nenhuma banda, seu leitor pode verificar, quantas vezes você quiser, da existência de alterações, de forma transparente e automática. Nada mais de entrar nos sites e “bosta, nada de novo?”.

Um autor inclusive decretou a morte dos blogs e suas páginas lindamente diagramadas.


Nota: Nada de links hoje, duas facadas nas costas em dois dias é algo que só se tolera se você responde por Julio Cesar e controla um Império. Estou escrevendo sem corroborar ou pesquisar detalhes. Se isso não é satisfatório, envie um protesto apertando ALT+F4. Sua opinião é muito importante para nós. Em breve um de nossos atendentes…


No texto, o tal autor explicava que:

1 – Os feeds tornam a informação assíncrona, você não precisa postar todo dia, pois sua audiência não está mais presa ao hábito de visitar o blog, o leitor RSS cuida de avisá-lo quando há uma novidade.

2 – O layout cada vez importa menos. Há blogs –


Nota: Por blog entenda blog, site, portal de notícias, etc, ok? Não é um dia bom para detalhismos, detalhes me irritam, e você não gostaria de me ver irritado, sr McGee. (um de meus orgulhos foi finalmente aprender a escrever mcGee)


OK, voltando. Segundo nosso anônimo amigo, há blogs onde até mesmo os comentários são exibidos nos feeds. É verdade, um dos blogs que acompanho, o Carreira Solo, do Mauro Amaral faz isso, o que não deixa de ser bem interessante. Eu não coloco por dois motivos; não achei o plugin e acho que o conteúdo começa a se tornar volumoso demais para um feed. Em um blog com posts menos verborrágicos, acho uma iniciativa ótima.


Nota: Como perceberam, eu violei minha penúltima afirmação, ao fazer a pesquisa e colocar o link pro blog do Mauro. Pois é, a vida é assim mesmo. Eu menti. Todo mundo mente, já disse Gregory House.


Um feed gerenciado pelo feedburner pode trazer muitas, muitas informações úteis e comandos, como adicionar o site ao del.icio.us, entre outras.

Os sites que acompanho quase nunca desfrutam do inenarrável prazer de receber minha visita. Para falar a verdade são sites que me impressionaram uma vez no passado, ou por seu conteúdo direto ou por atitudes de seus autores, e assim ganharam um lugar em minha lista de feeds, que é bem maior que o mal-cuidado (por isso a Cris me odeia) blogroll do Contraditorium.

Mesmo assim estou ciente de tudo que acontece neles. Via RSS posso me dar ao luxo de só acessar o site para deixar um comentário.

Parece que nosso amigo anônimo está certo, certo? Para quê investir em layout, se com os feeds seus visitantes conseguem uma experiência mais satisfatória, mais ágil e consomem seu conteúdo de qualquer jeito?

A questão aqui é como ejaculação precoce. Não é que a coisa em si esteja errada, é só um problema de timing.

Os feeds RSS são fundamentais e todo mundo que quer manter uma presença séria na Web precisa disponibilizá-los. Só que de forma alguma eles são significantes no total de seus visitantes.

Um estudo recente (pede o link, vai.. Make my day… ok, aqui está.) demonstrou que só 9% dos usuários nas empresas ouviu falar de RSS, e no total somente 2% dos visitantes utilizam o serviço.

Sites com um público de formadores de opinião, digeratis e geeks costumam ter uma proporção maior, mas mesmo chutando uns 4%, o Contraditorium com seus 511 usuários de RSS (número atualizado no menu do lado esquerdo, final da página) teria uma média diária de 12.775 visitantes, e isso me deixaria um pouco menos irritado. Mas não cheguei nesses números. Ainda.

Assim, um site que siga as últimas tendências irá ignorar a parte tradicional, concentrando seus esforços nos feeds, fornecendo mais e melhores variações, como feeds de conteúdos, feeds de categorias, feeds agregados. (cansei de italizar os feeds). Seria um excelente site, muito atraente e fadado ao mais completo e miserável fracasso.

Sejamos realistas, você não pode abrir mão de 96% do público. Um site precisa sim de uma boa interface, precisa sim de uma programação visual decente e atraente (decente e atraente, boa combinação. Pena que rara) e precisa funcionar no maior número de navegadores existentes.

Um dos plugins mais idiotas que já vi é um que detecta que o usuário está acessando um blog WordPress com o Internet Explorer e o joga em uma página onde é catequizado de como seu navegador é um lixo, de como ele é burro por usar aquele lixo da Microsoft, etc etc.

Bem, mesmo quem escreve para idiotas não chegou onde chegou chamando seus leitores de idiotas. (você provavelmente sabe de quem estou falando, mas só revelo sem gravadores, na segunda garrafa de Black Label).

Existem muitas formas de mostrar as vantagens de um navegador alternativo, como o Opera ou o Firefox. Convenhamos, você não liga correndo para seu melhor amigo avisando que a namorada dele é uma vagabunda. Você espera pelo menos ela se vestir e ir embora.


Nota: Caso REAL, contado pelo sujeito que ligou. Surpreso? Eu não. Conheço a peça. Nome do sujeito? Digamos que atende por… Rabicó. Mais não digo.


OK, agora que o Leão Lobo já subiu, a conclusão: RSS é excelente, mas você não pode descuidar do site em si. É nele que as pessoas chegam, e um visitante via Google não pode ser tratado como visitante de segunda classe, por não usar RSS, ATOM, Feedblitz, Bloglines ou seja lá qual o leitor da semana.

2 – Podcasts

Muitos anos antes das maiores estrelas do Podcast sequer sonharem em trinar pelos tubos da Internet, eu já fazia podcast. Sem fio. Sério. Durante um bom tempo era um passatempo no meu colégio, usávamos dois gravadores K7 (o truque é mentir dizendo que o seu quebrou, os pais geralmente compram outro ao invés de consertar) e faziámos programas de rádio, com direito a entrevistas, música e até mini-novelas. Gravávamos uma ou duas fitas que passavam de mão em mão como um samizdat. Outros grupos de amigos faziam o mesmo, tínhamos uma pequena porém popular rede.

Com a Internet, ao invés de fitas K7 são os arquivos MP3. Excelente, me divirto muito com os podcasts do Penn Jilette, por exemplo.

No começo eram programas curtos, como o do site The Onion. Afinal, baixar uma música de cinco minutos era complicado, sem contar produzir um programa longo. Tínhamos podcasts onde basicamente um sujeito falava besteira, um monte de gente escutava e ficava feliz. Algo como um Contraditorium falado. Sem a parte do monte de gente.

Os podcasts se tornaram viáveis em tocadores de MP3 de pífia capacidade, um com 128MB pode conter vários desses pequenos podcasts. PDAs e mesmo celulares são aptos, eu mesmo ouço muita coisa no Nokia 6600.

Problema: a maioria dos podcasteiros (se nós somos blogueiros vocês são podcasteiros. Podcasters my ass. Não gostou? Azar, e se reclamar inicio a Operação Maçã Podre*)

* Referência a um episódio de uma de minhas séries favoritas dos anos 80, quem explicá-la primeiro nos comentários ganha um review tendencioso e positivo de seu blog em um post exclusivo aqui no Contraditorium.

OK. Os podcasteiros suspenderam unilateralmente o Prozac, e se tornaram megalomaníacos. De programas curtos, adequado ao Déficit de Atenção de nossos dias, passaram a produzir programas maiores. Hoje há podcasts com mais de uma hora de duração.

Para piorar, abandonaram os formatos originais, diferentes e originais, e hoje são indistinguíveis de programas de rádio. Abandonei um de meus últimos podcasts algum tempo atrás, por ter se transformado de uma conversa informal com o ouvinte em um programa AM, completo com leitura de cartinhas e “beijos da semana”.

Sorry, para ouvir mídia tradicional, eu escuto a Rádio Globo AM e o Show do Antonio Carlos, que aliás recomendo. Se o tamanho e a falta de originalidade no formato do podcast não é o bastante, agora estão usando outro recurso para alienar seus ouvintes.

Uma das muitas regras na criação de conteúdo é que uma mídia não pode concorrer com a outra. Você lança uma novelização para acrescentar informação, você nunca, jamais deixa algo em aberto em seu filme que diminua a experiência do espectador.

Os desenhos animados do DVD Animatrix e o videogame são exemplos perfeitos. Acrescentaram sem que os filmes da trilogia Matrix dependessem do conteúdo das mídias acessórias.

Agora surgiu a moda do podcasts enhanced. Com textos, imagens e links e sei lá mais o quê. Detalhe: Só funciona no iTunes ou em um iPod. Pior ainda, é feita a propaganda em cima dos recursos extras, e há um sinal sonoro que pode ser traduzido por:

“Caro ser inferior: Você não tem um iPod, ou está ouvindo este podcast em um player que não seja o maravilhoso iTunes? Heheh BEM-FEITO, seu perdedor.”

Desculpe, mas se você já tem um público pequeno (lembro de que somente 1% dos Internautas consome Podcasts.) não pode aliená-lo assim.

Orson Welles convenceu a América que estavam sendo invadidos por marcianos, ao vivo, sem precisar de uma bosta de um JPEG para passar a idéia. Enhancear seu podcast, transformá-lo em um cetáceo de 50MB pode fazer bem a seu ego, mas não a seus ouvintes.

No final, esses ouvintes irão reclamar, e você acaba tendo que disponibilizar um MP3 ultra comprimido, de qualidade inferior, sem nenhum efeito enhançado.

Parabéns, você voltou ao rádio AM afinal.

Conclusão

Estar por dentro da última moda não quer dizer que você deva usar a última moda. Acima de tudo, descubra se está fazendo seu podcast, seu blog, seu vlog ou seu seja-lá-o-que-for para você ou para seus visitantes. Considere se as mudernidades que você vai gastar tempo e dinheiro (tempo É dinheiro) instalando e produzindo valem o custo. E nunca, jamais disponibilize indiscriminadamente conteúdo que dependa de uma combinação especifica de hardware ou software, como um iPod ou um Firefox ou um Explorer. Se for inevitável, separe os produtos o máximo possível. Sem esquecer de não ficar mencionando na versão simples tudo que o sujeito está perdendo por não ter (ou poder) a versão MegaPlus Aditivada.

Lembre-se, da mesma forma que o visitante não é obrigado a possuir os mesmos brinquedos que você, ele não é obrigado a frequentar o seu blog.

Quem perde? Acho que você.


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