Se nos basearmos apenas em números não faz sentido fazer podcast, muito menos no Brasil. E nem estou falando de podcasts “enhanced”, que só a minoria absoluta com iPods pode ver. Os números são pífios se comparados com blogs. 300 ouvintes e o podcasteiro está soltando fogos. Um blog fraco tem isso, por dia. A quantidade de podcasts disponíveis é mínima, não há um agregador decente nacional e por esnobar rádio AM a maioria acaba usando como modelo o programa da Xuxa, com direito a cartinhas, beijinhos encomendados, etc.
Mesmo assim o Podcast é, de longe, muito mais aceito pela mídia convencional E pelo público, mesmo que não o consuma.
O motivo é simples: O Podcast, queiram ou não queiram os defensores do hype, nada mais é que um programa de rádio. Gravado. Quando eu era criança já fazíamos “podcast”, com gravador K7, editando, adicionando efeitos sonoros e tudo. (se você tivesse dois gravadores ou conseguisse um emprestado).
Um internauta típico (aquele que se assusta com vírus do ursinho) entende o que é Podcast. é um conceito familiar.
O blog não tem essa vantagem. Vivemos em um país onde ler é um tormento. Outro dia um blogueiro famoso o Tyler Cowen, do Marginal Revolution veio ao Brasil e notou: No aeroporto ninguém lendo um livro. (não estou lembrando o nome, por favor me ajudem). (Agradecimentos ao Kenji por ter lembrado o nome. Eu jurava que era Tyler Durden) A idéia de sentar e ler um blog não é atraente. Exige esforço mental, não é “lazer”. Ninguém lê por diversão, lê para estudar. Lê por obrigação. Cansei de ser criticado por “gastar dinheiro” com livros.
Uma conhecida minha comentava sem o menor pudor que só havia lido um livro na vida, o tal do “Violetas na Janela”, e ela assimilou muito bem os conceitos dessa obra de “literatura” espírita, percebemos isso quando começou a falar da parte “em que as almas atravessavam o mobral”.
Já o Podcast? Você pode colocar para tocar e fazer outras coisas enquanto escuta. Pode até levantar, ir fritar um ovo, fazer um sanduiche, voltar 15 minutos depois e pra todos os efeitos “ouviu” o Podcast. Mesmo que você coloque pra tocar em seu iPod e saia para caminhar, como costumo fazer, é LAZER. É uma atividade complementar. Eu não posso fazer isso com um blog. Raros os blogs que já dediquei uma hora de minha vida, direto. Já o podcast do Penn Jilette é algo que aguardo ansiosamente todo dia, mesmo sabendo que terei que gastar 1h com ele.
Para a mídia então, é fácil de assimilar. “é igual a rádio, mas você sintoniza na Internet”, pronto. Vá você agora explicar que o Kibe não é blog por não ter conversações, etc, etc…
O resultado é que os Podcasts acabam tendo um destaque completamente desproporcional. Eles são o Linux das mídias, que faz estardalhaço online, mesmo tendo 0,37% do mercado de desktops.
<espetada obrigatória no Charles> no dia em que eu resolver ficar famoso, não vou escolher a mídia escrita em um dos países com a pior concentração de leitores no mundo. Vou é fazer um Podcast, ou um Videocast no Youtube. Isso sim garantirá meus 15 minutos. </espetada obrigatória no Charles>
Eu, como por enquanto prefiro minha parte em dinheiro, fico nos blogs mesmo. Podcast dá muito trabalho, minha voz é um lixo e ninguém ainda descobriu como monetizar esse troço. No dia que isso mudar, quem sabe?
Se você quer menos dinheiro do que fama, o Podcast pode ser uma saída excelente. Garanto que um Podcast bem feito irá atrair muito mais a mídia do que um blog bem-feito, sem contar o status que ter um Podcast traz. Blogs são diários de adolescentes, Podcasts são a vanguarda. E não, não adianta discordar, sua opinião (assim como a minha) é irrelevante.
Para sites que podem se dar ao luxo, um Podcast é um “plus a mais”, como dizia João Galhardo, excelente Diretor de Arte. Vai dar o ar de “seriedade” e “vanguarda” que seu site procura.
Para os blogueiros que querem permanecer blogueiros, há uma lição que pode ser tirada disso tudo: Desça do pedestal. Seu blog lindo e maravilhoso não tem a repercussão de um podcast que fala de Canetas Hidrográficas. (eu tenho CERTEZA que um podcasteiro de canetas hidrográficas vai escrever um email ofendido) Você vai dizer “eu tenho 10 mil visitantes / dia” e o jornalista da Folha vai dizer “nossa, aquele outro faz podcast no Macintosh!” (todo Podcasteiro tem um Mac?)
Triste, não? Pois é. A vida nem sempre é justa. E não adianta chiar. No máximo você pode escrever um post sobre isso.