Você é um blogueiro que se acha?

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Uma das boas características dos blogs é trazer uma boa dose do lado pessoal do blogueiro. Mesmo os blogs “sérios” de vez em quando usam desse recurso. Para o autor é bom, é um desabafo. Ninguém vai morrer se no meio de seu blog sobre culinária Rigeliana você soltar um post eventual comentando de como seu dia foi especialmente ruim OU especialmente bom. Entretanto corre-se o risco de tornar esse recurso natural em algo artificial, falso mesmo. E seu leitor vai farejar na hora.

Tendemos a ser condescendentes quando somos o protagonista da história. É muito mais fácil eu dizer que na primeira vez que vi a Luciana Vendramini ao vivo estava muita confusão e não consegui falar com ela. Pombas, a história é minha, porquê iria dizer que todo meu discurso lindamente planejado ficou entalado na garganta e não consegui falar?

Esse tipo de história, que serve para sua autobiografia, não cola, em blogs. Não existe pseudo-intimidade, ou você é íntimo ou não é. Em blogs, assim como na vida, a intimidade cria cumplicidade. E não há nada mais precioso que um cúmplice. Seja namorada cúmplice, seja leitor cúmplice, seja cúmplice cúmplice. O cúmplice (ok, chega de escrever cúmplice) perdoa tudo. O cúmplice (droga, escrevi) entende.  Eu falo do Kibe e todo mundo entende. Eu escrevo algo em tom irônico sabendo que os leitores habituais vão pescar na hora. Mais ainda: Eu sei que quando não estou num dia posso fazer um post sobre isso, do mesmo jeito que faço quando algo me entusiasma.

Agora imagine se eu só postasse os momentos Polyanna.

Não há nada que irrite mais que o sujeito que sempre se dá bem. Nunca erra, nunca tem um dia ruim, só tem momentos fantásticos. Até porque esse sujeito não existe.

Eu vejo muito disso por aí. O sujeito tem o blog, mas só quer mostrar o filé. O osso, nunca. Então ele posta suas aventuras mirabolantes, seu último gadget, os elogios que recebe pelo podcast (misteriosamente esse tipo de blogueiro quase sempre tem um podcast) e sua vida subitamente se torna uma grande e absoluta unanimidade de sucesso incontestável. Nem email de trolls o sujeito recebe.

Não estou dizendo que gosto de blogs de hipocondríacos. Na verdade eu detesto. Doença não é algo que você deva se envergonhar mas também não é algo que deva se orgulhar, e tem gente que usa doença como muleta e justificativa pra todos os seus atos. É como o “eu estava possuído por uma entidade alienígena maligna”, em Star Trek.

O que não impede que você blogue sobre sua condição, se não assume uma posição de mártir, e se isso não se torna o foco de seu blog.

Reconhecer publicamente um problema irá diferenciar seu blog dos escritor por aquelas perfeições ambulantes., que do alto de seus blogs tentam nos restituir a glória, mudando como um deus o curso da História. Postar sobre seus momentos menos brilhantes, mais mundanos irá torna-lo humano, ao invés de uma silhueta recortada em papelão.
O Fábio Seixas reclamou de blogs com muito “eu”. Copiando seu post na íntegra, ele disse:

Seu blog tem muito “eu” ou muito “você” nos textos? O mundo se importa com você ou com o que pode aprender com você?

Bem, folgo em dizer que não existe “eu” demais em blogs. Quanto mais “eu” melhor. Blogs são manifestações individuais onde a pessoa por trás dele é o elemento mais importante e, na maioria das vezes, mais interessante. Se o blog está chato, corporativo no mau sentido, escolhido demais, talvez ele precise de mais “eu”.

Só seja sincero. Queremos blogs escritos por gente de verdade, e não sua visão idealizada de como você deveria ser. Mostre seu melhor lado, mas não finja que ele é o único. Seu público vai se identificar muito mais se o blogueiro for tão humano e cheio de altos e baixos quanto ele.

A não ser que seu blog tenha como público-alvo outros Blogueiros Perfeitos como você.


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