Se existe algo frustrante é ver um picareta se dando bem. Seja um esperto que monta um spamblog descarado e ganha dinheiro, seja um sujeito que tira onda de jornalista mas não passa de um FDP, e é acobertado por um veículo dito sério mas que se revela igualmente FDP.
É o caso do picareta da foto. O nome do verme é Alexis Debat.
Ele trabalhou durante cinco anos como consultor sobre terrorismo para a ABCNews, foi demitido dia 12/9 por problemas com suas credenciais acadêmicas. Tradução: maquiou o currículo.
Não, esse não é o principal problema. O problema é que ele publicou na Politique Internationale, uma prestigiada revista francesa, entrevistas que teria feito com:
- Bill Clinton – ex-Presidente dos EUA
- Nancy Pelosi – Líder da Câmara dos Deputados nos EUA (mais ou menos isso)
- Alan Greenspan – ex-Presidente do Banco Central dos EUA
- Colin Powell – ex-Secretário de Estado dos EUA
- Michael Bloomberg – Prefeito de New York
- Kofi Annan – Secretário-Geral da ONU
- Barak Obama – Candidato a Presidente nos EUA
- Bill Gates – Bill Gates
TODAS, repito, TODAS as entrevistas foram forjadas. FALSAS. Ele não entrevistou NENHUM desses. A entrevista com Bill Gates ainda está no Cache do Google.
Esse picareta simplesmente INVENTOU entrevistas. A revista engoliu e publicou. Coitados, não? Não.
Stephane Dujarric, Diretora de Comunicações interina para o Secretário-Geral da ONU disse para a ABCNews que em 2005 alertou o editor da revista, Patrick Wajsman, que a entrevista de Kofi Annan era falsa. A revista continuou a publicar matérias do sujeito, e uma segunda entrevista de Kofi Annan, também assinada pelo picareta, publicada dois anos depois, era na verdade composta de partes de um discurso do Secretário-Geral na Universidade de Princeton.
O Editor-Picareta disse à ABCNews que o problema com a entrevista do Secretário-Geral foi “talvez um problema técnico” ou “um mal-entendido”.
Já o Picareta-Debat diz que no caso do Obama usou um freelancer, que deve tê-lo enganado (coitadinho). Quanto aos outros, “A revista me pedia para mandar perguntas. Eles conseguiam as respostas, eu editava, traduzia e colocava meu nome na matéria”. Claro, claro.
Agora eu pergunto: Como a ABC, que é uma empresa séria, mantém um sujeito em sua folha de pagamento por cinco anos sem checar quem ele é, se ele faz o que diz fazer e se pelo menos ele tem o currículo que diz que ter? Se eu vou comprar um diabo de uma cafeteira no carnê, a Casa e Vídeo pede dois telefones de amigos ou parentes, e se ninguém atender dizendo que me conhece, eles não vendem. Será que comprar à prestação no Brasil é mais complicado que escrever para alguns dos veículos mais prestigiados da imprensa mundial?
E se a ABCNews está assim, como estará a situação nas redações tupiniquins? Tenho medo de pensar.
Fonte: Infoworld Tech Watch, ABCNews