Eu gosto de ações com blogueiros. Se os Supositórios Tabajara promovessem Um Dia Com A Luciana Vendramini e me chamassem, ganhariam muito mais divulgação do que com qualquer post pago, mas se quisessem um publieditorial (em jornalês isso se chama matéria paga mas blogs são mais chiques) eu muito provavelmente não faria.
Teriam que procurar outros blogueiros, mais adeptos ao produto. E procurar blogueiros toma tempo. Assim como contactar cada um, vender o peixe do post, fazer follow up, etc, etc.
As agências tem parte da culpa (eu sempre vou culpar as agências) mas no caso o buraco é mais embaixo e é dos blogueiros, que não diferenciam as várias formas de publicidade.
Você que tem blog. Você é mídia ou indivíduo? Seu blog vende espaço ou conteúdo editorializado?
Eu uma relação publicitária normal a coisa funciona assim: O anunciante quer veicular uma campanha. A agência cria as peças, envia para o veículo. Este avalia se estão dentro dos padrões morais-ético-corporativos da empresa. Estão? Veiculam o anúncio, ponto final.
A agência agencia o espaço publicitário, fornece serviço de criação (coisa que o veículo NÃO FAZ). O veículo veicula, de forma “burra”. Não há participação intelectual da mídia no processo.
No modelo dos blogs o cliente não compra um espaço. Ele raramente consegue veicular uma peça produzida externamente como publieditorial. Só como banner.
Pior. Blogueiro odeia ser brifado. O pessoal das agências tem que agir como se estivesse passando sugestões educadas. Eu já vi muito blogueiro indignado com a petulância da agência em pedir alterações no texto. Mesmo que o cliente não goste. Eu mesmo já fiz isso e não tenho vergonha de admitir que fiquei muito, muito irritado com cliente só porque está pagando querer alterações no texto.
O modelo ideal para muito blogueiro é o cliente pagar, o blogueiro escrever um post SE QUISER e falar do produto, da forma que desejar, mesmo mal. Aliás, preferencialmente mal, só para mostrar o quanto ele não se vende.
Esse modelo, compreensivelmente, é difícil de ser comprado pelos clientes e agências.
Eu nunca vi um modelo onde a agência de propaganda mandasse um texto 100% pronto, o blogueiro colocasse uma indicação no começo (ou final) do post dizendo ser de autoria do cliente, veiculado e pronto.
Vamos definir isso. Eu quero anunciar As Pílulas de Vida do Dr Bode – Entram pela boca, saem por onde pode- no blog do Morróida. O Morróida defende a blogosfera de raiz, a blogagem por vocação.
A minha agência entra e contato e retorna: “O Morróida topa. Mas ele não garante o tamanho, não garante a qualidade, não garantem o tom do texto. Também não aceitou o brieffing, diz que ele sabe falar do supositório por conta própria. Ah, não temos poder de veto.”
Você investiria assim? É, eu também não.
Nós tratamos o espaço editorial nos blogs como se fosse algo absurdamente sagrado, que deve ser mantido limpo de toda e qualquer contaminação dos malditos anunciantes malvados que por acaso nos sustentam. Já os banners, ali vale tudo.
NENHUM outro veículo faz isso. A Globo não tem um canal exclusivo para passar propaganda. O Estadão não publica um encarte com a publicidade e o jornal “limpo”. As revistas no máximo incluem “informe publicitário” no alto das páginas que podem ser confundidas com conteúdo editorial.
Eu acho que nós lucramos mais nos vendo como mídia. Se um anunciante quer, além do espaço que eu também crie o conteúdo, então é uma despesa extra. Como está hoje temos clientes insatisfeitos com a falta de agilidade E dificuldade em ter o brieffing contemplado, temos leitores insatisfeitos com conteúdo publicitário que parece ser feito com má-vontade e temos os blogs, que não decidiram sequer qual seu papel nessa história.
E é extremamente conveniente dizer que o Mercado não entende os blogs, quando os próprios blogs não dizem como querem ser entendidos.