Dá pra chamar de irrelevante a mídia que me legitima?

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Deu no New York Times, a melhor tirinha online da atualidade, xkcd vai virar livro.

Não comento nem o fato do New York Times dar espaço para um quadrinho de Internet, o que já é impressionante. O que me chamou atenção é que os fãs estão exultantes. O grupo mais geek do planeta, capaz de passar dias discutindo as equações sugeridas pelo autorda tira, Randall Munroe, quer um livro, físico.

Em que pé ficam as discussões de que a velha mídia morreu, que o futuro é online, virtual, Snowcrash (leiam!), o livro do Bill Gates onde ele fala que o que vale são bits, não átomos? (Ou seria o livro do Negroponte? Whatever)

No Brasil acontece a mesma coisa. Todo blog, principalmente da chamada Blogosfera Intelectual só se sente legítimo quando lança um livro. Não daqueles estilo BNH, com 50 blogueiros apertados em 110 páginas, mas um livro só de um autor, de preferência com o nome do blog na capa.

Não interessa que só os amigos vão comprar, que a tiragem de 300 exemplares tenha sido financiada com a venda do Monza do blogueiro. É um livro, então o blogueiro digievoluiu para ESCRITOR. Ganhou o respeito de seus pares, admiração, inveja e todas as mulheres, a seus pés estilo capa de gibis do Conan.

Este blog aqui tem mais de 6000 leitores no feed, é um número excelente pra quem não mostra a bunda, se bem que se eu ameaçar mostrar a bunda se não chegar aos 10.000 consigo isso em 24h. De visitantes únicos ontem forem 5400, segundo o Statcounter, que chuta pra baixo.

Quem é do metiê acha bons valores, mas não é nenhum kibe. Mas se eu falo que tenho 11 livros publicados, e mostro link do Submarino, UAU!

Não interessa (de novo) que a tiragem média de um livro de informática seja na casa de 2 mil exemplares, e eu receba mais que o dobro disso de leitores POR DIA em um blog, sem falar nos outros, no MeioBit, no Twitter. Céus, meu Twitter hoje tem 4115 seguidores que dão atenção ao que eu falo. Que mané livro.

Então como só somos legitimados Quando publicamos em papel? Pior, como uma menção na velha mídia, mesmo de forma virtual, saindo no site de um Estadão da vida gera tantos tapinhas nas costas? E o Hype do Fantástico?

A Twittosfera ficou em polvorosa, ao ser entrevistada para uma reportagem. Ainda bem que eu não estava lá, pois lembrando que eu já apareci no Fantástico, uns 10 anos atrás, não só faria a pergunta “É pro Fantástico?” como babaca que sou acrescentaria “de novo?”.

Depois participaria alegremente da entrevista, afinal não sou bobo, não assisto a Rede Globo mas sei do poder que a audiência dela tem.

Se bem que nem precisa ser a Rede Globo, mesmo mídias que todo mundo considera mortas, como o rádio, são motivo de orgulho, retwitts e posts de blog avisando que estará em uma entrevista semana que vem no Show da Alta Madrugada, na CBN-Acre.

Mídias de massa apresentam uma fascinação que ninguém conseguiu superar ainda. Mídias tangíveis ainda são superiores no nosso subcosciente. Jornalistas e editores dizem que o papel aceita tudo, mas não existe nada mais aderente a bosta do que uma página de blog.

Nós que vivemos disso ou com isso não temos “respeito” pela nossa mídia. Sabemos que é simples montar um blog, sabemos que não há nenhum processo de aprovação formal nem dinheiro envolvido. “eu tenho um blog” NUNCA terá o mesmo efeito que “publiquei um livro”. Não para quem faz blogs.

Nossa mídia ainda tem que crescer muito antes de poder parar de se impressionar com coisas como “saí na Veja”, “publiquei na Superinteressante”, “dei entrevista pra Época”. E enquanto continuarmos nos impressionando, essas mídias parecerão mais abrangentes, mais relevantes e mais importantes, no Grande Esquema das Coisas, do que nossos blogs e twitters.

Tudo bem, são mesmo. A menos que você considere ter 10.000 seguidores no Twitter mais importante do que ser entrevistado pela Marília Gabriela.


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