Já tenho a Glória, só falta a Fortuna

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drjones2 Já tenho a Glória, só falta a Fortuna Perguntado por Short Round sobre por que fazia o que fazia, o Dr Henry Jones Junior respondeu:

“Fortune and Glory, Kid. Fortune and Glory”

Eu sempre disse que preferia minha parte em dinheiro, nas sábias palavras de Nizan Guanaes. Meu lado tímido sempre fugiu do palanque, do palco, até do meio-fio. Nunca quis ser o centro das atenções. Em minhas fantasias juvenis, décadas antes do JD eu já sonhava ser o Robin, não o Batman.

Hoje eu sou o Batman. Duvida? “I’M BATMAN!”

Como um garoto tímido que passou por uma adolescência (os anos me ensinaram que não existe adolescência boa, daí a simplificação) e era feliz sendo um anônimo autor bem-sucedido, vivia tranqüilo como engrenagem azeitada de uma máquina maior foi parar em entrevistas na TV, debates com celebridades, e chegou ao ponto de ter fãs?

Eu não tenho o menor respeito por quem almeja fama pela fama. Aquele tal “Lucas Celebridade” é uma criatura patética, digna de pena como o pai do personagem principal do conto “Serás Ministro”. Não acho nada de bom a dizer de gente que não tem nenhum talento aparente e quer ser um Big Brother, e coloco quem admira tal gente no mesmo barco.

Sempre pensei assim, por isso meu projeto de rebootar minha vida e viver calmo, quieto e anônimo como blogueiro não levou em conta a possibilidade não só de tudo dar certo como das pessoas se interessarem por quem escreve aqueles textos.

No tempo da Internet ninfa-bebê ainda era seguro escrever livros de informática. Os leitores os achavam nas livrarias ou pelo boca-a-boca. Não havia muito espaço para comunidades online. Sim, houve um tempo sem Orkut, onde tínhamos que nos comunicar diretamente com pessoas. Como era primitivo. E privado.

Gosto de contar do dia em que peguei um ônibus e sentei do lado de um sujeito lendo um livro meu. Fiquei feliz por não ter como ser identificado, era um tímido trabalhando em algo público sem mostrar a cara.

Os blogs me deram inicialmente o mesmo nível de “anonimato”. Eu era um nome em uma página. Popularizar o nome era um efeito colateral de popularizar o blog. Indesejável mas não intolerável.

Aqui comecei a perceber sinais de auto-hipocrisia. Eu gostava de Receber elogios. Gostava de ser xingado por gente burra, gostava de incomodar. O maior elogio que um escritor pode receber depois de “comprei seu livro” é “gostei do seu texto”.

Isso mesmo, profissionais gostam de ter seu trabalho reconhecido. Amadores também.

Quando apareceu o primeiro evento de blogueiros, já estranhei gente chegando para me cumprimentar. Era algo alienígena para mim. Comentava com os amigos que aquilo era estranho, esquisito, bizarro, que não fazia sentido me tratarem como alguém especial.

Hoje me vejo repetindo o velho discurso, mas não me sinto sincero. Continuo odiando a fama pela fama pela fama, continuo defendendo veementemente que só sou famoso graças a teoria dos conjuntos, e que 99,9999% do Brasil sequer sabe que eu existo. O que me deixa desconfortável é que estou ignorando os outros 0,0001%. É gente que me acompanha, lê o que escrevo, se interessa e gosta o bastante para aparecer em eventos e querer tirar fotos comigo.

Eu por muito tempo questionei a validade desse tipo de atitude, mas após longa reflexão auxiliada pelo Dr Johnny W., percebi que eu fazia a mesma coisa. Pombas, a primeira vez que encontrei o Jovem Nerd paguei de tiete geral, como ainda sou. A primeira vez que ganhei um link do Judão achei o máximo, e nem pelo fato do Borbs ser um fiodazunha carcamano mão-de-vaca que não dá link (ele é), mas porque eu adoro o Judão.

Por isso quero pedir desculpas a todo mundo que direta ou indiretamente ofendi, reclamando do tratamento que recebi, e que era fruto da mais sincera admiração, da qual até eu sou capaz e pratico.

A simples reflexão ao escrever este texto (chupem, analistas!) me fez reconhecer que eu gosto SIM da atenção dos fãs, é muito, muito bom alguém elogiar seu trabalho, e o sujeito que acha que todo blogueiro “vive de ego” é porque é um fracassado que nunca emplacou nada na vida, ou um imbecil hipócrita que finge que não gosta de ser elogiado.

TODO MUNDO gosta de atenção. Isso não é ego, é biologia.

Por favor, não entendam este texto como uma declaração de humildade ou algo do gênero. HELLO, ainda sou eu. Só quero abrir um pouco do que tem sido essa fase Richard Bach da minha vida, e como até eu acabo sendo influenciado pela gente chata que tanto desprezo, prejudicando quem realmente gosta de meu trabalho. Não mais. A proposta é simples:

Prestigiemos quem gosta da gente, e fodam-se os outros.

Já tenho feito isso no Twitter, com minha postura “Ostras Merecem o Ostracismo”. Próximo passo é dar mais atenção pra quem me escreve e quem me lê, afinal o único antídoto contra a fama é a intimidade. Pelo menos assim evito das moças bonitas chegarem, tirarem foto e saírem correndo com medo.

Eu não mordo ;)

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