Ninguém é melhor do que ninguém MY ASS!

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Uma das frases que mais detesto foi devidamente exorcizada pelo Cristiano no Twitter:

 

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Essa besteira, repetida ad nauseum é citada mais de 2 milhões de vezes no Google, só em suas princiais variações. É uma “verdade” que só serve para cimentar nossa cultura de vira-latas, promovendo a ovelhização do brasileiro. Se ninguém é melhor do que ninguém, para quê tentar se destacar?

Se fosse no Brasil NEO ouviria:

“Que mané escolhido, seja mais humilde. E é claro que existe colher, olha na mão do garoto!”

Se fosse no Brasil Connor McLeod ouviria:

“Pode até ser que só possa haver um, mas quem disse que é você? Que arrogância!”

Vou contar um segredo, putada: UM MONTE DE GENTE É MELHOR DO QUE UM MONTE DE GENTE EM UM MONTE DE COISAS.

E isso não tem nada a ver com humildade. Humildade, como já disse, não é fingir que não há ninguém pior, é reconhecer que pode haver alguém melhor.

Aqui só vale elogio na 3a pessoa, é socialmente aceito dizer que “fulano toca muito bem”, é socialmente aceitável concordar ao ouvir um elogio assim. Já na 2a pessoa, JAMAIS. “você toca muito bem”  deve ser seguido de “que nada, só arranho”, mesmo que sejas o Frejat.

Se eu tivesse um talento invejável e dezenas de anos de estudo e prática, garanto que seria de meu inteiro conhecimento que toco muito bem. Os shows em estádios lotados, milhões de discos seriam uma boa pista complementar do fato também. Só que reconhecer esse fato público e notório me transformaria imediatamente em mascarado.

Eu abomino essa mentalidade de rebanho, as pessoas são SIM diferentes umas das outras, elas nascem SIM com talentos e habilidades diversas e algumas SIM não têm talento pra nada. Se o sujeito precisa se iludir acreditando que ninguém no planeta é melhor do que ele em nada, é hora de repensar sua existência na Terra. E desencarnar.

Essa cultura leva a absurdos como o que aconteceu em São Paulo, com a Secretaria de Educação barrando uma ONG que incentiva estudantes superdotados, acusando-a de discriminação. Citando meu post sobre o tema:

 

Infelizmente aqui no patropi não é assim que a banda toca. Na Veja (hhuuuu Editora Abril, Veja, horror, peguem as tochas!) de 3 de Setembro há uma excelente embora deprimente coluna do Gustavo Ischope onde ele fala da colocação do Brasil nos Jogos Olímpicos Escolares. De 143 medalhas de Ouro o Brasil levou… zero.

“Não existe nenhuma preocupação oficial com a identificação e o desenvolvimento daquilo que o pais tem de mais precioso: Grandes mentes”

Ele fala também sobre a ISMART, uma ONG de São Paulo com um projeto que identifica jovens talentos e superdotados entre os estudantes pobres e os ajuda com bolsas de estudo e benefícios como auxílio-transporte e até computadores.

Excelente projeto, certo? Diga isso então ao senhor Gabriel Chalita, secretário de educação do Estado de São Paulo, que proibiu a ONG de aplicar suas provas de aptidão na rede estadual, e mesmo de divulgar a existência do projeto.

A secretaria de educação do Município de São Paulo foi completamente surreal:

“Se havia uma preocupação com os alunos fora de série, por que não focar naqueles com síndrome de Down?”

Eu gostaria muito de viver em um mundo onde pudéssemos exaltar quem é bom, sem essa hipócrita aura de humildade. Vejam por exemplo Tiger Woods, que está na moda por mostrar que além de golfe entende muito de bola taco e buraco.

O cara é bom. É o Pelé do Golfe, sem precisar falar na 3a pessoa. É um gênio e se fosse brasileiro seria criticado por ganhar demais.

Um belo dia em uma das várias versões de seus videogames surgiu um bug chamado “Jesus Shot”, onde o personagem anda sobre a água para fazer uma jogada. A Electronic Arts, autora do jogo ao invés de pedir desculpas e humildemente apenas consertar o bug, criou o vídeo abaixo.

Começa com uma reprodução do vídeo original do bug, identificando o autor (aqui, já seria processo, como ousa falar mal de nosso game?). Em seguida um aviso explica que não era um bug.

Resumo do vídeo para não estragar a visualização: “Não foi bug, ele é bom assim mesmo!”

 

Dois exemplo finais da ojeriza brasileira ao auto-reconhecimento: Enquanto era humilhada calada na UNIBAN a Geisy Arruda foi a Vítima Perfeita, digna de solidariedade e indignação de milhões (ok, milhares). No momento em que aceitou convites para ir a programas de TV, no momento em que apareceu em capas de revistas, quase todos os seus defensores passaram a xingá-la de puta, aproveitadora, quer aparecer… houve até quem insinuasse que era tudo parte de um plano, como se uma balconista de mercadinho, fodida, com filho pra criar tivesse tempo e capacidade de formular algo assim.

Satisfeito? Então prego no caixão da “humildade”: Se o José Mayer quisesse acabar com o Zé Mayer Facts, que dizia tanto irritá-lo, bastaria dar UMA entrevista declarando que pega mesmo, e que se bobear ele passa o rodo.

Imediatamente de meme ele passaria a vilão, seria chamado de babaca, arrogante, “tá se achando” e rapidinho parariam de citar seus Facts. Mesmo sendo todos verdadeiros.

Helena que o diga.


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