A campanha Palco HSBC foi baseada no conceito de dar voz a pessoas nas ruas, para que elas mostrassem suas opiniões sobre temas atuais (detesto o termo "polêmico"). A idéia me inspirou, pois estimula conversações, a base dos blogs. Por isso aproveitei e preparei o Texto Especial de Festas abaixo. É minha visão de Natal. Surpreendente até para mim, que não havia pensado nela a fundo.
Como sempre, comentários são bem-vindos.
o vídeo de Natal do HSBC é bem cuti-cuti, mas não necessariamente reflete a minha visão
Natal é uma época do ano em que as pessoas boas ficam chatas e as pessoas chatas ficam mais chatas ainda. Natal é uma época do ano em que todos os cruzados anti-hipocrisia saem da toca e vão atacar gente que foi hipócrita como eles durante todo o ano. Natal é uma época do ano em que todo mundo que leu Dan Brown repete de forma papagaienta que Jesus não nasceu 25/12, que as festas cristãs são chupadas de festas romanas, simbologia, bla bla bla.
Mesmo assim eu gosto de Natal. Talvez por não ser cristão eu goste mais ainda, e explico:
Natal é Star Trek da Humanidade.
Toda a mitologia natalina pop é muito pouco religiosa. Ela se concentra em pessoas imperfeitas tentando fazer a coisa certa. Eu nunca li o Natal como um monte de pessoas dizendo que são boas, minha visão é que no Natal as pessoas agem como gostariam de agir o resto do ano.
É a visão idealizada de futuro de Star Trek. Qualquer um que assiste a série sabe que o futuro não será daquele jeito. Não nos tornaremos magicamente irmãos de todos os povos, não acabaremos com guerra, fome, inveja ou com o dinheiro (pode sossegar, patrocinador ☺). Não acabaremos com a ambição. Ainda bem, não saímos das cavernas por causa de nosso espírito solidário e desprendido.
Mesmo assim eu adoro Star Trek. É bom para a alma ver um futuro repleto de humanos nobres a tal ponto. Seria maravilhoso se chegássemos a tal ponto.
Nos filmes sempre há um milagre de Natal. Eu só conheço um: A inspiração da época que torna as pessoas propensas a gestos e desprendimento fora de seu normal.
Como o clássico caso do Coronel Harry Shoup. Em 1955, auge da Guerra Fria, ele era comandante do NORAD, aquele centro de defesa aeroespacial da América do Norte (Canadá também faz parte) que todo mundo viu em Wargames.
Era época de Natal, todo mundo mais relaxado. Toca o telefone. “O” telefone, a linha direta que somente o Presidente e o Secretário de Defesa tinham. O Coronel Shoup atende. Do outro lado uma garotinha querendo falar com… Papai Noel. Depois de alguma pesquisa, descobriram que um anúncio da Sears saiu com número errado, e ao invés de apontar para a central criada para promover a loja, o “número do Papai Noel” apontava para a linha secreta do NORAD.
Tocado pelo espírito natalino, o Coronel Shoup colocou gente para ficar atendendo o telefone e falar com as crianças, que começaram a espalhar para os amigos. No ano seguinte as crianças voltaram a ligar, e já virou tradição. Hoje mais de 300 voluntários se revezam atendendo.
Daí surgiu outra tradição: Todo ano, na madrugada de 24 de Dezembro um alerta soa no NORAD, indicando um objeto em trajetória balística vindo em direção a América do Norte. O Comandante é avisado. Ele informa que é Papai Noel, e ordena darem livre passagem. A ocorrência é marcada nos livros de registro. Também são enviados caças para escoltar o trenó.
O NORAD tem um site feito por militares voluntários, o http://www.noradsanta.org, que acompanha Papai Noel, além do telefone, o 1-877-HI-NORAD.
Se uma estrutura criada com o único propósito de garantir a MAD – sigla em inglês de Destruição Mútua Assegurada consegue parar por alguns minutos e se mobilizar para tornar a noite de algumas crianças mais mágica, tudo pode acontecer. E sim, É um milagre de Natal.
Por isso vejo o Natal como muito mais do que uma festa religiosa. Aliás o componente religioso do Natal vem se tornando cada vez mais irrelevante. A figura do Papai Noel tem ocupado o espaço como ícone da festa, e muito bem. Sua mensagem é simples: “seja um bom menino”. Sua punição é com ausência. “não ganha presente”. Pronto. Nada de ameaças, castigos eternos, etc.
Às crianças ruins, a pior de todas as punições: Pararem de acreditar em Papai Noel. Perderem a magia. Descobrirem que há um homem atrás da cortina. Crescerem como adultos chatos que denunciam o comercialismo do Natal mas não vão para a igreja porque afinal de contas “não são burros”.
Adultos que denunciam o comercialismo mas esquecem que presentar quem se gosta É uma coisa legal. Quem não reconhece o brilho no olho de uma criança quando ganha um brinquedo já é velho e inútil demais para se lembrar da sensação de ganhar um brinquedo.
Por isso fico com a alegria das crianças e o Espírito de Natal. Acredito que a maioria das pessoas NÃO se auto-iluda, e que mudem seu comportamento durante as Festas de Natal como uma forma de demonstrar não o que são (o que seria hipocrisia) mas em um legítimo esforço de mostrar como GOSTARIAM de ser.
A essas eu desejo Feliz Natal.