A dura arte da manipulação da minoria esclarecida

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Stephen Colbert é um humorista americano que tem um programa de humor político, extremamente sarcástico e inteligente. Mais ou menos como os fãs acham que o CQC é. Ele já foi ao Iraque, já entrevistou chefes de Estado e já teve 4 presidentes dos EUA participando de suas piadas. Uma esteira usada por astronautas na Estação Espacial Internacional foi batizada em sua homenagem, isso porque a NASA não aceitou o resultado da votação online que decidiria o nome do novo módulo. Votação essa que ele ganhou, claro.

Ele é hoje uma das figuras mais influentes da mídia americana para quem tem mais de 25 pontos de QI. Jon Stewart, seu mentor e apresentador do Daily Show (outro programa de notícias “falsas”) foi votado a personalidade jornalística mais confiável. Mesmo não sendo jornalista.

Colbert e seus 1,5 milhões de espectadores fiéis, carinhosamente chamados de Colbert Nation (ou “facilmente manipuláveis”, mas eles riem disso) conseguem alguns feitos impressionantes. Em alguns dias ele salvou a Seleção Americana de Patinação no Gelo, que precisava de US$300 mil para poder participar das Olimpíadas de Inverno. Qualquer campanha que ele faz arrecada dezenas e dezenas de milhares de dólares, se a causa for justa na visão dos espectadores.

Aí que entra o vídeo abaixo.

The Colbert Report Mon – Thurs 11:30pm / 10:30c
Tip/Wag – Waterboarding & Canada’s History
www.colbertnation.com
Colbert Report Full Episodes Political Humor Economy

 

Em uma de suas reações pseudo-indignadas (O Twitter ainda não entendeu esse maldito conceito) ele protesta contra a decisão da revista canadense The Beaver em mudar seu nome para “Canada´s History”.

Beaver, ou Castor em inglês americano é uma gíria como “perereca”, e a revista –que tem mais de 90 anos- estava toda hora caindo em filtros de empresas moralistas incapazes de diferenciar uma gíria de um termo válido. Stephen não gostou. Em resposta avisou aos canadenses que Canada´s History nos EUA era muito pior, pois significava um ato sexual tão depravado que ele nem poderia descrever, mas envolvia um par de chifres de alce, um vidro de xarope de bordo e a Stanley Cup.

Para reforçar, ele mandou os espectadores visitarem o www.urbandictionary.org, a maior fonte de pesquisa de gírias e termos pop da Internet, criarem verbetes e descreverem o que imaginam ser o Canada´s History, com detalhes os mais pavorosos possíveis.

O mesmo Colbert que conseguiu 93.000 votos (em uma enquete que exigia cadastro) para dar seu nome a uma ponte na Hungria, o mesmo Colbert que ganhou com mais de 200.000 votos a eleição da NASA para batizar o módulo da Estação Espacial, só conseguiu 93 entradas no UrbanDictionary.com para “Canada´s History”.

O que houve? Teria ele perdido o encanto?

Nope. É o efeito de ter seguidores que pensam. Ao contrário de uma turba sem cérebro que faz tudo que seu mestre mandar, os espectadores de programas como o Colbert Report e o Daily Show (que segundo pesquisas estão entre os mais bem-informados sobre política e atualidades) apresentam discernimento. Eles sabem o que é uma piada, o que é uma provocação e o que é um “Chamado às Armas”.

Ao contrário da briga de Colbert com a WIkipedia, o objeto da crítica não era o site; nada ali vilanizava o Urbandictionary, não havia ganho em um ato de cybervandalismo desse. Claro, a piada ainda era válida, mas muitos espectadores chegaram ao site, identificaram que outros já haviam feito o “ordenado” e se davam por satisfeitos.

Percebo isso no Twitter. Enquanto outros usuários conseguem Retwitts instantâneos, cada vez que posto algum link há uma longa pausa dramática. Vídeos então, muito mais. Meus leitores aprenderam a confiar desconfiando, entendem que credibilidade é “eu vou abrir o link porque ele indica coisas pertinentes” e não “meu mestre postou, darei RT sem ler”.

Há uma correlação evidente entre QI do público e capacidade de mobilização. Quanto mais inteligente o leitor, mais difícil de ser conduzido. Quem escreve comentários de 50, 60 linhas (como vejo constantemente aqui) não sai clicando em tudo que seu mestre mandar.

Então é uma droga, muito melhor os blogs cheios de leitores retardados (YES, eu uso a R-Word) bovinamente conduzidos e clicando sem critério, certo?

Certo, se sua vida se resume a cliques. Lembre-se que o leitor-ovelha em geral tem baixa capacidade de discernimento, nível intelectual inferior e situação financeira questionável. É como público de sites de sacanagem: clicam, visitam aos montes mas não CONSOMEM nada. Adolescentes em shoppings no final do dia dividem uma Coca, e olhe lá.

Já o leitor inteligente questionador avalia o que é proposto e toma suas próprias decisões. Claro, ele tende a concordar com autor, até porque ninguém acompanha um veículo do qual discorde totalmente. Só trolls mas eles não contam. Isso faz com que a reação das ações dos autores com público mais qualificado seja proporcionalmente lenta, comparada à reação de sites mais idiotas.

Por outro lado, e aqui é o pulo do gato, o leitor de sites como o kibeloco é a PONTA da cadeia de comunicação. A informação chega até o leitor e morre lá, pois ele em si não é relevante. O Fã desse tipo de site é o espectador do Zorra Total, o Homer Simpson criticado por William Bonner, a boa e velha massa de manobra.

Já o leitor inteligente é um hub, um concentrador. Ele tem poder de influência sobre seus próprios leitores. Em muitos casos tem poder de influência sobre o próprio autor da informação original. Essa via de mão-dupla que é (ou deveria ser) a base da Nova Comunicação faz com que a cadeia hierárquica se torne nebulosa e irrelevante. Um comentário inteligente de alguém com 50 leitores é repassado por alguém com 100 mil.

Conclusão:

Temos duas métricas na Internet hoje: A métrica tradicional usava na velha mídia, onde o número de leitores é um valor absoluto e final e a Nova Métrica, onde a capacidade de influência de um veículo é medida tendo em base a capacidade de influência dos leitores desse veículo. E a dos leitores desses leitores. E a dos leitores dos leitores dos leitores… Como se calcula isso, não tenho a menor idéia. Lembre-se que o número bruto não quer dizer nada.

Conclusão da Conclusão:

Se esse segundo modelo se tornar mensurável teremos grandes mudanças. Veremos um efeito borboleta onde uma figura-chave com um número mínimo de leitores MAS os leitores certos será ponto de partida de ações que irão repercutir por todas as Interwebs. É quase uma aplicação prática da Teoria do Caos, com a camada adicional de complexidade de figuras-chave existindo para segmentos diferentes. 

Fazer amigos e influenciar pessoas era só um livro, em breve será uma ciência inteira.



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