Você pode ser um grande líder, preocupado com o futuro de seu povo, atento às ameaças internas e externas, indo dormir todo dia pensando em como aumentar o Espaço Vital de sua nação, mas se alguém comenta te chama de baixinho ou diz que seu bigode é ridículo, o bicho pega.
Tenho reparado que a Internet repete -não é sempre- esse fato da vida. Por mais que a reação dos trolls e haters a textos bem escritos seja sempre ruim, é raro ver um ataque em massa.
Qual será o motivo de um texto tão inocente quanto meu último ter afetado tão profundamente os suspeitos habituais, a ponto de comandarem suas hordas de retardados, que não cessam de se sacrificar inutilmente diante das muralhas de meu Helm’s Deep?
Inutilmente, digo, pois eu descobri a pólvora, Trolls não.
O segredo explosivo é que a Internet vive de estereótipos, de personagens de fácil consumo. O Twitter é o Zorra Total, é a Praça da Alegria, onde cada personagem “popular” é simples em sua concepção. @OCriador é Deus, não é preciso muito neurônio pra entender isso. o @RealMorte é a Morte, e intercala textos simples e de fácil assimilação com tiradas sutis que me fazem rolar de rir.
Os trolls seguem o mesmo caminho, sem o conteúdo original. São simplórios. Assumem a postura de “zoar” e espalham memes como o “Forever Alone”, imediatamente repassados pelos seguidores. É uma cultura de fácil entendimento e zero conteúdo real.
Qualquer tentativa de levar a discussão a um nível mais complexo é respondida com frases feitas do tipo “Internet serious business”. Sim, meu querido. Para você pode não ser, mas para o Google, o Facebook, o Nick Ellis e o Mobilon Internet É algo sério. Mesmo o Kibeloco, com todos os seus incontáveis defeitos sabe exatamente até onde ir, pois Internet para ele é BUSINESS.
Mas mas mas…
Alguém levar a Internet a sério é suficiente para despertar tanta ira? Não, nem de longe. O Kibe não desperta, ele tem uma área de atuação bem definida. Ele provê um conteúdo questionável a um público igualmente questionável e todos saem inquestionavelmente satisfeitos. Ele não ameaça ninguém, nem a mim.
Quando gente como eu fala, entretanto, a coisa muda de figura. A ira despertada por blogueiros tem um paralelo curioso com a raiva que celebridades despertam ao descer de seus pedestais e interagir com outras pessoas (notem que nem usei “fãs”).
O Twitter deveria (nas mentes limitadas) ter uma hierarquia bem definida de funções e áreas de atuação. Celebridades musicais falariam de música, pilotos de corrida e blogueiros postariam links pra seus posts, sem nenhum outro tipo de comentário.
Correndo por fora os trolls zoariam todos, “for the lulz”, sempre colocando um “brinks” no final, para mostrar que não é pessoal e se você se ofendeu, azar o seu por levar internet a sério.
É um modelo estruturado, funcional e uma paródia patética, um arremedo do mundo real que existe apenas para perpetuar a mediocridade.
Posts como o meu anterior ofendem profundamente os trolls pois o mesmo Cardoso (eu!) que escreve sobre tecnologia no MeioBit e no Techtudo razoavelmente em paz ousa sair da caixa e falar sobre outros temas.
Pior ainda, eu ouso falar sobre MIM, sobre o que sinto. Coloco as minhas experiências, desejos e fracassos atrás de cada palavra. O leitor com mais de 3 neurönios percebe isso, se identifica e valoriza.
Eu erro, acerto, anseio, tenho esperança, me frustro, me maravilho. Minha presença no Twitter é uma janela ampla pra tudo isso. Eu não entro só pra zoar, só pra postar, só pra jabazar.
Eu entro pra interagir, para o bem ou para o mal. Entro pra mostrar um lado ruim, entro pra ter o prazer de mudar de opinião diante de um bom argumento. Entro pra ter o prazer besta de postar uma foto da Olivia Wilde e ver a macharada babando (justamente) e entro pra postar uma foto de um filhote de cachorro fofinho.
Essa pluralidade, essa tridimensionalidade, essa HUMANIDADE ameaça.
O troll, que não passa de um personagem bidimensional, mal-recortado em papelão, pouco mais que um daqueles personagens que se resumem a um bordão (RONALDO!) se sente sob minha mira.
Alguém no mundo DELE está existindo fora da caixa, como uma criatura de Flatland alçou vôo e está vendo um mundo em três dimensões, onde pessoas são mais do que uma descrição de 140 caracteres.
Essa falta de versatilidade fica perceptível quando cansamos de seguir um personagem que fala sempre a mesma coisa. Isso vale inclusive para pessoas reais, há artistas no Twitter totalmente entediantes, há gente anônima que transforma um dia-a-dia convencional em entretenimento de primeira -sem nem uma gota do sadismo de um BBB, entenda-se.
Augustus, Imperador de Roma não gostava de atores. Dizia que não podia confiar em uma classe cuja profissão era baseada na mentira.
Com o Twitter sinto algo parecido, não posso confiar ou gostar de atores que vivem tão bem seus personagens patéticos e bidimensionais que acreditam que professam a Verdade Absoluta.