No Brasil é comum uma empresa tentar resolver uma redução de lucros causada por uma queda nas vendas aumentando o preço do produto. Assim ao invés de vender 10 unidades de R$10,00, o sujeito que vendia 7 passa a vender 5, por R$20,00.
Manter o lucro é essencial, mesmo diante da catástrofe iminente, por isso vemos casos de agricultores que preferem jogar fora seus produtos a vender abaixo do que consideram aceitável. Perfeito, mas receita ZERO para mim é mais inaceitável ainda.
Quando há alguma grande mudança tecnológica em geral o mundo se divide entre quem abraça a inovação e quem tenta tudo para evitá-la. A velha mídia é especialista na última parte, jornais ainda perdem tempo publicando previsão do tempo, quando qualquer telefone decente traz muito mais informação e muito mais atualizada, mas assustador mesmo é quando o pé firmemente fincado no passado não é de uma New Yorker, uma Gazeta Mercantil, um New York Times, mas de uma… revista de tecnologia.
OK, mais assustador ainda é quando a batida de pé se recusando a aceitar o futuro é algo já tentado… quase três anos atrás. Em 2009 publiquei um artigo mostrando o Newport Daily News, um jornalzinho dos EUA que resolveu combater a crise na mídia impressa cobrando mais caro pela versão digital do que pela versão em papel.
Agora, graças a uma dica via Twitter, descobri que a Info está fazendo o mesmo.
Simples assim: Se você assinar somente a edição em papel, que mata árvores, usa um monte de componentes tóxicos, faz o Al Gore chorar e gera lixo, você paga R$142,80. Se quiser a versão impressa E a digital, paga R$162,70. Se preferir salvar o planeta, ser sustentável, abrir mão do papel, para deixar de ser ecochato pagará R$203,30.
Significa: No combo a edição digital da Info custa R$19,90. Fora do combo, R$203,30.
Agora a marmotagem: Vejam a tabela de assinaturas da revista:
Notaram a sacanagem? O preço é para um ano, MAS você ganha 6 meses grátis. Já a digital você só pode assinar por 18 meses.
Vamos quebrar isso um pouco? Aqui uma tabelinha onde calculei o custo total para a assinatura de 18 meses, mais o custo individual de cada exemplar nos vários modelos.
Incluí como fator de comparação também o custo da Wired, considerada a bíblia geek. A assinatura anual sai a US$19,90, ou R$35,22 segundo o câmbio de hoje. O valor no caso não é cumulativo, a assinatura impressa dá acesso à versão digital. A digital não dá acesso à impressa, pois (ainda) não é possível fazer download de papel, apesar do que muitos usuários de fax imaginam.
Essa postura da Info, compartilhada praticamente por todo mundo no mercado editorial brasileiro é assustadora, pois mostra que todo o discurso de inovação, modernidade e compromisso com o futuro só vale da porta pra fora, se doer no bolso, voltamos ao Correio da Manhã, Última Hora, Samuel Weiner e Chatô.
A impressão que dá é que eles só aceitam ir para o futuro arrastados. Querem que nós financiemos sua ousada iniciativa mobile. Nós e os anunciantes, já que os anúncios na edição da Info para iPad custam entre R$16 mil e R$27 mil. Ah, não tem anunciantes? Poxa, que diabo de edição mobile cara é essa que UMA página dupla de R$150.600,00 da edição papel não cobre?
Essa estratégia avestruz vai durar até o dia em que blogs e portais perceberem que podem oferecer conteúdo premium em versão digital E impressa. Assim a mídia papel, que já não conta com uma boa reputação online descobrirá que invadiram sua praia, com know-how, reputação e PREÇO.
* sim, eu sei que a regra é “m antes de p e b”, mas não estrague minha piada!