Quis custodiet ipsos custodes? Nós mesmos.

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Se há algo que pegou de surpresa quase todos os autores de ficção científica que criaram distopias totalitaristas foi a Internet. Os futuros tenebrosos previstos sempre dependiam de governos centralizados detentores de toda a Informação.

Você só aprendia o que a escola do Governo ensinava, as notícias todas vinham de uma fonte só e o herói da história em seu grande gesto em geral instigava a população a se revoltar invadindo a TV ou rádio do vilão e repassando sua mensagem de liberdade. Foi assim em V, foi assim em Wall-E.

Foi assim na vida real também, por Séculos. O Vietnã, longe de ter sido uma derrota militar, foi uma derrota contra a mídia. Ao contrário da 2a Guerra Mundial, onde a informação era filtrada e abafada pelo tempo entre os poucos filmes serem liberados pelos militares, levados até os EUA e exibidos no cinema, no Vietnã a televisão passava em poucos dias material do front, muitas vezes sem aprovação oficial.

No total os EUA perderam 58.272 soldados mortos em combate. Os norte-vietnamitas acumularam 1 milhão de mortos. Se isso é uma vitória imagino o que chamam de derrota. Mesmo assim a opinião pública não aceitou e o Governo dos EUA perdeu o poder político para manter a guerra “no ar”.

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Hoje o mundo está MUITO pior para quem quer manter controle rigoroso da mídia. Na Líbia Kadhafi fez de tudo, chegou a cortar a telefonia celular no país, só para rebeldes invadirem as torres e com a ajuda de hackers estrangeiros instalarem retransmissores montando uma rede de telefonia própria.

As manifestações como a Ocupação de Wall Street estão sendo divulgadas em escala mundial via redes sociais, YouTube, Flickr, Twitter. A “versão oficial” agora é só mais uma, não existe mais o dito pelo não-dito. Se um idiota taca spray de pimenta em manifestantes sentados pacificamente no chão isso agora corre o mundo.

As “otoridades” tentam fazer sua parte, claro. Em Nova York mantiveram a imprensa longe, mas como vão fazer com milhares de pessoas portando a arma mais terrível contra totalitarismo já inventada, um celular?

A situação chegou a um ponto onde antes a tecnologia levava anos, até décadas para chegar nas mãos da população. Era uma vantagem estratégica dos governos, deter controle sobre computadores, redes de comunicação, vigilância e inteligência. Hoje é tudo tão rápido que pessoas comuns já conseguem acesso a tecnologias que por sua própria inércia a maioria das forças policiais do mundo ainda sonha em colocar as mãos.

Um bom exemplo foi esta manifestação em Varsóvia, na Polônia: Um cidadão usou um UAV para sobrevoar e filmar o evento. Dá para perceber que do chão seria possível mostrar só uma parte e dizer que a passeata estava esvaziada. Só que a palavra “oficial” soaria como uma reles mentira, diante da dureza dos fatos:

Não perceber que o mundo mudou pode te colocar em saias-justas como a da revista Time. Ainda vivendo no mundo mágico onde ninguém tem acesso a notícias sem ser através dos órgãos da Grande Imprensa, se deram ao luxo de ignorar o mundo e publicar para a edição desta semana as seguintes capas:

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Não é Photoshop, está no site oficial!

Essa visão retrógrada de que podem ditar as notícias é um dos motivos da falência da mídia de massa. É a forma mais rápida de perder a credibilidade junto ao público, fingir que algo não está acontecendo quando somos bombardeados de todos os lados com a informação verdadeira.

A Imprensa era tida como o Quarto Poder, mas de vez em quando acaba se amasiando com quem não deve. Nessas horas é preciso dar um sacode nela e explicar de onde derivam os Três Poderes.

Afinal, como disse Alan Moore através do Codinome V, “O Povo não deveria ter medo de seu Governo, o Governo é que deveria temer o Povo”, e pela cara de puro pavor de um policial mal-intencionado diante de uma câmera, está começando a temer.

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