Assim como a Rosana Hermann, ou mais provavelmente aprendido com ela em sua passagem pelo programa, o Pânico adora desmontar o brinquedo para ver como ele funciona.
As experiências nem sempre são bem-sucedidas, mas todo cientista que é a própria cobaia sabe disso. No caso o risco é que ao abrir o Twitter, futucar, cutucar e apertar para ver as reações, o Pânico corre o risco de mostrar que o Rei está nu, e que as a intercessão entre a mídia tradicional e a social não é tão grande assim.
Existe uma regra em Internet chamada Princípio do 1%, ou 90:9:1. Baseada em observações essa regra define que de todos os usuários online, 1% criarão conteúdo original (Obviamente não estamos falando do Kibeloco), 9% interagirão, modificando o conteúdo ou comentando e interferindo, e 90% apenas consumirão, sem nenhuma manifestação, só corujando.
No Twitter a situação se agrava, pois a não ser em casos de perfis bem temáticos, o contingente de seguidores é muito heterogêneo. Todo mundo é Fantástico no Twitter, quase ninguém é Globo Rural, mas perdemos a vantagem de ser Fantástico na hora em que o nosso “espectador” deixa de ser obrigado a assistir os comerciais.
Espera-se do Twitter e das redes sociais retornos muito mais grandiosos que a propaganda convencional, mas a realidade mostra que o espectador da Internet é tão ou mais passivo (ui!) e bem mais disperso que o espectador de TV, e isso aparece nos números.
O blog Insider resolveu fazer um experimento com a Paris Hilton, mas não do tipo que envolve câmeras com nightshot e injeções de antibiótico no dia seguinte. A porn star amadora, socialite e nulidade enquanto criatura humana cobra US$3 mil por um twit pago. é um valor aceitável, proporcionalmente muito baixo perto do que eu cobro, aliás. Principalmente se levarmos em conta que a boqueteira esverdeada tem 6,8 MILHÕES de followers.
Pois bem: Na época do teste ela contava com 6,5 milhões de retardados pessoas acompanhando seus twits. Qual seria o alcance?
Se fosse 10%, significaria 650 mil visitas no link.
1%, 65 mil. Um valor atraente.
O site recebeu do link da Paris Hilton 2.652 visitas, com bounce rate de 85% e 75% de novos visitantes. Ou seja: Somente 15% deles continuou no site depois da página inicial do link.
0,1% de 6.500.000 dá 6.500 visitantes. 2652 dá menos de 0,05% de eficácia do clique.
O site que gerencia os anúncios da Paris Hilton insiste que foram enviados 6 mil visitantes. Sendo MUITO generoso e aceitando os valores, o retorno é de uns 0,09% e o custo por visitante foi de US$0,50. Um valor aceitável para o mercado americano, mas se existe forma mais ineficiente de anunciar, eu não conheço.
David Ogilvy dizia que 50% da verba em propaganda era desperdiçada, o problema era identificar qual 50%. Se vivo fosse ele teria um treco com esses números de Internet.
E o Pânico?
Ontem eles resolveram fazer um experimento disfarçado de brincadeira. Criaram um perfil vazio no Twitter, o @bemfudidex. Prometem transformar algum fã do programa em Celebridade do Twitter (sic, sic, sic), sorteando o perfil quando chegar a 1 milhão de followers.
É uma meta razoável? O bom-senso diz que sim, meu feeling concorda, mas só quem ganhou dinheiro com Feeling no Brasil foi o Morris Albert.
A favor temos o fato do Pânico ser um programa em rede nacional, várias vezes líder de audiência, agora em uma emissora decente. Quem melhor definiu o programa foi (de novo) a Rosana, que disse:
“o Pânico não é só um programa de TV, mas uma experiência em comunicação. É o único programa realmente transmídia, com web, rádio e televisão. E poderoso nos 3.”
Só no Twitter @programapanico são 5.8 milhões de seguidores. A Sabrina Sato sozinha tem 4 milhões de seguidores. Os outros participantes do programa figuram entre os perfis mais seguidos do Brasil.
Quanto isso significa em termos de poder de manip persuasão?
Segundo a regra do 1%, com o Pânico pedindo na Internet para que os seguidores passem a seguir o @bemfudidex, teríamos 58000 followers. Em poucos minutos ontem o perfil saiu de um número mínimo para uma explosão de crescimento digna do Chefe Apache. Eu acompanhei alguns momentos, veja a evolução:
hora | followers |
16/4 – 09:28 | 153465 |
15/4 – 22:35 | 134081 |
15/4 – 22:35 | 133209 |
15/4 – 22:15 | 128846 |
15/4 – 21:41 | 101906 |
15/4 – 21:37 | 80081 |
15/4 – 21:35 | 76629 |
15/4 – 21:34 | 72664 |
15/4 – 21:29 | 13000 |
Em 45 minutos o perfil atingiu 100 mil seguidores. Isso é impressionante, mas só se enxergarmos as mídias sociais como algo compartimentalizado. Não são. Todo mundo interage com todo mundo. O @Boninho por exemplo anunciou que estava segundo o tal perfil, e com 1 milhão de seguidores fanáticos ele com certeza movimentou followers para o @Bemfudidex.
Se você juntar todo mundo que retuitou a brincadeira, incluindo aí os perfis pequenos, temos um resultado decepcionante. Usando a regra do 1%, o alcance total da ação do Pânico, incluindo TV, Twitter, amigos e seguidores foi de 15 milhões de pessoas.
O pessoal que curte cyberativismo tem que levar isso MUITO em conta. Eu sei que todo mundo acha que está a uma petição online de derrubar o Sarney, a Dilma, o José de Abreu na Novela ou outro diabo da vez, mas foi preciso expor uma mensagem a 15 milhões de pessoas para que 1% se dessem ao trabalho de clicar em um link.
Ontem no meio de uma conversa sobre aviação militar postei um link com a foto de um helicóptero de ataque russo da FAB. Foram 294 cliques, em uma noite de domingo.
Com 35.537 followers, isso me dá um retorno de 0,83% nesse link. Comparado com o retorno da Paris Hilton, 0,09% eu estou bem pra caramba!
Essa média é normal pra quem não posta o lixo o dia inteiro e –PRINCIPALMENTE- engaja em conversações. Blogs, a gente dizia, são conversações. Twitter, dez vezes mais.
Pedir para os espectadores fazerem algo, seguindo a velha fórmula apresentador manda macaca de auditório obedece não é nem de longe tão eficiente quanto a verdadeira interação.
Notem, eu não estou dizendo que o Pânico não interage. Eles são quem mais entende de Internet na mídia eletrônica atual. O fiasco do BBB do Twitter onde não se podia falar Twitter mostra o quando ainda há para ser aprendido.
A lição que tirei da primeira parte desse experimento é que a mídia de massa tem sim uma enorme influência junto às mídias sociais, mas isso de modo algum é o mesmo que dizer que ela tem total poder de mobilização junto à essas pessoas. A Regra do 1% nos torna um espelho convencional. Agências e anunciantes que esperam mais que isso querem um espelho que responda e Internet não é conto de fadas.