Trump banindo muçulmanos? Já vi esse filme e não dei a mínima (e você também)

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Nossos cérebros adoram comparações, analogias, é a forma mais simples de entender o mundo, por isso tudo que não tem gosto definido a gente diz que parece com frango e nos damos por satisfeitos. Comparações não precisam nem ser razoáveis, você pode até ser (não seja!) aquela moça no Twitter que comparou a São Paulo de João Dória, dando banho em mendigo,  com… Auschwitz. 

Como é natural as comparações com elementos de cultura pop são as mais comuns, mesmo as obscuras. Eu chutaria que 99% de quem replica o meme José Serra/Nosferatu nunca viu o filme, embora reconheça a imagem. Com a censura dos perfis de órgãos científicos em redes sociais impostas pelo Governo Trump, um monte de contas alternativas surgiram, e naturalmente convergiram para se identificar com a Aliança Rebelde.

Alguns até diretamente, como o RogueNOAA (thanks André)

Sejam os Cientistas Rebeldes, seja o Batman do Leblon, seja Chaves, a cultura pop permeia nossas vidas. Gerações inteiras estão sorrindo ao ver este vídeo:

A parte interessante é que não há relação direta entre a precisão da analogia e sua popularidade. E Um acontecimento no mundo real pode trazer à tona uma analogia obscura, uma referência pop esquecida mas há um limite, percebi isso com a história do Governo Trump barrando imigrantes de países muçulmanos associados ao terrorismo desde que não sejam os sauditas.

Há uma referência que se encaixa perfeitamente, é quase profética, é este filme, Nova York Sitiada:

É de 1998, o filme é tão antigo que é da época em que terrorismo árabe estava tão fora de moda que era seguro fazer um filme sobre o tema. Na história vários ataques fazem com que as autoridades de NY comecem a cercar os bairros muçulmanos, e até campos de prisioneiros são criados.

É exagerado, panfletário, maniqueísta, tem Denzel, Annette Benning e até Bruce Willis. E é uma bosta.

Por tudo que sei esse filme deveria estar bombando (sorry), deveria render dezenas de memes, mas rigorosamente ninguém menciona, não vi um “a”. Sequer os canais que passam Sharknado cada vez que alguém se espeta com uma sardinha estão reprisando.

Antigamente eu diria que sou mais esperto que todo mundo e só eu peguei a referência, mas hoje não tenho a mesma percepção (embora a sensação seja ótima). O que posso concluir é que para algo virar uma referência pop é preciso ser mais que adequado. Há um caráter emocional envolvido. Se o filme, livro, quadrinho não gerou emoção, se não faz parte da memória afetiva das pessoas é apenas uma informação factual, e fatos hoje em dia não estão mais na moda.

Não consigo deixar de ficar um pouco triste pelos envolvidos com o Nova York Sitiada. O filme tinha tudo para ser loucamente falado, mas está passando em branco. Os hippies se perguntavam como seria uma guerra se ninguém fosse lutar. Agora sabemos como é um filme quando ninguém foi assistir.



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