Na fábula das novas mídias todos viveram felizes para sempre trabalhando pra Globo

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Um dos números mais bem-guardados da TV Brasileira, mais do que o celular da Grazi (que qualquer idiota descobre) é o tamanho da audiência da TV por Assinatura. Reza a lenda que o IBOPE fez UMA pesquisa, os mídias dos canais entraram em crise, enterraram os valores e nunca mais se falou nisso.

O medo era o mercado publicitário perceber que estavam lidando com escalas completamente diferentes da TV Aberta e suas audiências de milhões de espectadores. Um exemplo: Salve Jorge, que está longe de ser uma Avenida Brasil tem média de audiência de 40 pontos no IBOPE. Cada ponto equivale a 63 mil residências na Grande São Paulo. Isso significa que um capítulo da novela atinge, só em SP 2.520.000 domicílios. Chutemos pra baixo, 3 pessoas por casa assistindo. Isso dá 7.560.000 espectadores. Na região metropolitana. De UMA cidade.

O mercado INTEIRO de TV por Assinatura em 2011 era composto de 11,6 milhões de domicílios. Divida isso por mais de 100 canais e calcule a mixórdia que alguns têm, de audiência.

Eu costumo dizer que faz mais sentido anunciar no Felipe Neto do que na absoluta maioria dos canais a cabo e boa parte da programação não-Globo fora do horário nobre. Ele tem as orelhas (ok, os olhos) de mais de 2 milhões de seguidores segmentados, só no Twitter. No YouTube seu canal, o Parafernalha, tem 2,4 milhões de assinantes e mais de 154 milhões de visualizações. O Porta dos Fundos por sua vez acumula 2,4 milhões de assinantes e 229 milhões de visualizações. Os dois juntos movimentam mais gente do que 99% de qualquer canal a cabo.

Outros canais seguem pelo mesmo caminho. Os vídeos do Qu4tro Coisas rotineiramente ultrapassam 100 mil visualizações. O 5inco Minutos da enigmática (ao menos pra mim) Kéfera tem 1,5 milhões de assinantes, 105 milhões de visualizações.

Essa gente venceu nas Interwebs, são conhecidos nacionalmente no mundo online. Arregimentam multidões, mas parece que falta algo. Mesmo conhecidos por qualquer um com um PC há um estigma de fenômeno local, a impressão de que são memes e que o YouPix não é tão legítimo quanto o Troféu Imprensa.

Isso gerou um refluxo da Internet para a TV que a meu ver não faz sentido™. Note, não estou falando de propostas milionárias ou indecentes. Um quadro no Globo Esporte tinha tudo a ver com o Felipe Neto, mas convenhamos, quantas Narjaras Turetas o Multishow pagava pr’O Sensacionalista?

Vejo um retrocesso preocupante. O Qu4tro Coisas foi para a PlayTV, a Kéfera vai pra MTV, e a Internet deixa de ser a mídia do futuro e vira escada. A TV não é mais concorrência, a TV não é mais o passado. A TV continua sendo o futuro, a grande chanceladora que determina quem Venceu na Vida.

No Brasil a televisão ainda dita quem faz sucesso. Como bem escreveu a Rosana Hermann, aqui dá-se parabéns por aparecer na TV. Mesmo em entrevista de rua no jornal local. Se for no Fantástico, seu telefone tocará sem parar.

Mais ainda: Vive-se a ilusão de que a televisão é uma cornucópia mágica que despeja rios de dinheiro, quando na verdade tirando uma ínfima minoria todos os envolvidos trabalham por salários normais ou, no caso dos iniciantes que querem aparecer, por migalhas. Em entrevista para o Agora É Tarde o humorista Evandro Santo conta que suas primeiras participações no Programa Pânico cobrindo eventos rendiam R$100,00 de cachê. Bailarinas do Faustão uma época ganhavam menos de R$100,00 por programa. Só quem ganha bem fazendo programa são os Panicats, pois o Emílio é um chefe generoso.

A canibalização da Internet não para aí. Com exceção do Fausto Silva, que ainda não terminou de revirar aquela fita VHS de 1984, os outros canais reciclam vídeos do YouTube com uma sanha que comprova a teoria do Chacrinha, que na TV nada se perde, nada se cria, tudo se copia.

Com isso nós ligamos a TV para ver o Show da Vida Passada, mas mesmo assim assistimos.

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Acompanhamos programas que lêem twits e achamos o máximo quando um apresentador nos menciona, mesmo sabendo que qualquer mention do Roxmo atinge muito mais gente. Céus, até do Marcos Kleine

Já recebi mentions de William Shatner, Kevin Smith, Neil DeGrasse Tyson e várias outras personalidades, mas nunca fui tão felicitado quando no dia em que um twit meu apareceu na… TV Metrô.

Isso mesmo. Conversar com o Carl Sagan de nossa geração não é tão importante quanto aparecer na… TV Metrô.

Uma olhada nos Trending Topics mostra que por mais que a Internet ache que pauta a televisão, no fundo ela só sugere. Para o assunto se tornar legítimo é preciso ser lido pela Waldvogel, pela Godoy, pelo Casoy, pelo Ratinho, pela Lulu Superpop.

Eu via a Televisão como uma mídia em extinção, hoje percebo que estava errado. Ela não só é a medida do sucesso como é a dona do carimbo que determina o sucesso das outras mídias. Não basta ser um vlogueiro com milhões de assinantes. Você precisa que a TELEVISÃO reconheça e afirme isso. Aí sim você terá chegado lá, champs.

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