Quando Mark Felt, diretor interino do FBI contatou Bob Woodward com informações sobre o escândalo de Watergate a primeira coisa que fez foi se identificar. Ele sabia que poderia ser acusado de traição e no mínimo perderia o emprego e iria pra cadeia, mas colocou sua fé na Justiça e na ética dos jornalistas envolvidos.
Apesar de todas as pressões o mistério sobre quem seria Garganta Profunda, a fonte secreta de Woodward e Berstein, o segredo durou de 1972 a 2005, quando Felt no final da vida revelou seu papel na trama.
O sigilo foi essencial. Sem o anonimato ele não teria arriscado sua vida sua carreira e sua família. Isso é algo bonito e honrado quando OS OUTROS fazem, mas quando nosso próprio fiofó está na reta, o bicho pega.
Por isso me preocupa uma tendência que tenho notado nas manifestações que pipocam pelo Brasil. Depois que um bando de baderneiros aproveitou as passeatas para extravasar recalques e mostrar que podem ter paus minúsculos mas atacam de forma implacável vidraças que não reagem, a percepção pública mudou.
Qualquer um com o rosto tampado, -e isso foi dito até por líderes do movimento estudantil- tem má-intenção. Quem não tem o que esconder não tampa o rosto, etc, etc.
Ótimo, mas será mesmo? Eu sei que no Brasil tudo acaba em samba, pizza ou no caso do Rio chopp no Amarelinho, mas e se o sujeito quiser marcar presença sem se mostrar publicamente? Digamos que a empresa onde ele trabalha seja contra as manifestações.
Eu vi um retardado defendendo que publicitários não deveriam ficar trabalhando em dias de passeatas e que se fosse o caso, se demitissem. Acho ótimo, mas nem todo mundo tem a mãe para pagar as contas, como o idiota em questão. O mundo não é preto-e-branco, pessoas são complexas e fazer um julgamento absoluto baseado em uma única faceta é algo no mínimo infantil.
Se o sujeito quer colocar uma máscara (que não seja a do Guy Fawkes, se quer fanáticos cristãos prestigie produto nacional, o Feliciano) para evitar ser demitido, que coloque.
Quando vemos os próprios manifestantes demonizando quem não mostra o rosto temos a população trabalhando em prol do controle, da monitoração, do governo.
Isso é 1984 demais pro meu gosto.