Hoje a Lucia Freitas postou um tuinto onde repete uma informação que está no mesmo rol de “Amazônia Pulmão do Mundo” e “Usamos 10% do cérebro”.
Escreveu ela:
“vcs sabem pq o discurso de Martin Luther King é difícil de achar? Sim, EMI tem os direitos e não libera! #copyrightsucks”
Concordo plenamente. É um saco buscar trechos de vídeos e descobrir que não existem. É uma bosta material que NINGUÉM exceto você se interessa, mas se disponibilizar é tratado como um códice de Leonardo da Vinci pela mesma empresa que caga pro material e não publica em nenhum formato.
Esperei mais de 30 dias para ver o último Star Trek, por puro respeito aos criadores, mas a vontade era baixar das interwebs, já que não fomos honrados com estréia simultânea.
ENTRETANTO sei que o mundo não é em preto-e-branco, e que acima de tudo as empresas prezam a própria imagem. Hollywood processa garotinhas, mas mexeriam mesmo com o Pastor Papa dos Direitos Civis?
Como eu sou chato, e a Lucia SABE que eu sou, fui atrás. Onde procurar? Deep Web? Arquivos criptografados do KremVax? Gaveta de cuecas do Snowden? Gaveta de calcinhas do Assange? (Ele tem cara de quem usa calcinha e VOCÊ SABE!)
“o discurso de Martin Luther King é difícil de achar”
Vejamos.
No Google, primeira busca: “i have a dream text” 23,7 milhões de resultados, incluindo o Arquivo Nacional dos EUA, site do Governo, com a íntegra do texto em PDF.
“Ah, mas e vídeo?”
Verdade. Pode ser que o vídeo seja outra história.
“EMI tem os direitos e não libera! #copyrightsucks”
Opa, Grandes Corporações? PORRADA NELES, bando de FDPs, #GLOBOMENTE.
Ou não?
A história de novo não é tão preto-e-branco. O caso envolvendo copyright foi com a CBS, em 1999. Só que ela não foi a autora da ação, foi a ré. No caso Estate of Martin Luther King, Jr., Inc. v. CBS, Inc., a família do Luther King alegou direitos de copyright para que a CBS não utilizasse o discurso sem licenciamento e aprovação.
SIIIM, os inventariantes, espoliantes ou sei lá qual o nome, os mesmos oprimidos pelo sistema, mas entrou dinheiro, todo mundo se torna igual na ganância. Até então o discurso era tido como domínio público, mas como não foi registrado pelo Martin Luther King dessa forma, automaticamente se tornou passivo de copyright.
Se a família não quisesse restringir o uso, bastaria deixar tudo como estava.
“Ah, mas e a EMI?”
A EMI trabalha com licenciamento, em conjunto com a Intellectual Properties Management, empresa que cuida da propriedade intelectual dos materiais relacionados a Martin Luther King, conforme estabelecido nesta página do King Center, a fundação organizada pela família dele, para preservar o legado dessa inegável figura histórica, e faturar uns trocados licenciando vídeos.
“Ah, então a família do cara é quem regula a mixaria? A malvada EMI é só uma terceirizada da terceirizada, cumprindo o papel que os Luther Kings do Mal mandaram?”
Yep.
“Então ferrou, né? Nada de vídeo.”
Calma, gafanhoto, EU SOU HACKER, achei um site secreto, desconhecido para todos os advogados, grandes corporações e parentes gananciosos de líderes do movimento civil…
“o discurso de Martin Luther King é difícil de achar”
Ative seus anti-virus, potencialize os firewalls, virtualize seu sistema operacional e contemple o resultado de horas e horas de busca na Internet, clicando aqui.
Não clicou? Covarde. Eu posto.
Pois é. O discurso difícil de achar é o primeiro resultado do YouTube para “I have a Dream Speech”, e o #copyrightsucks é a família de um líder negro assassinado tentando manter controle sobre a obra de seu parente.
Não é tão simples e maniqueísta quanto Morte às Corporações, mas um mundo em tons de cinza permite que haja redenção, ao contrário desse universo preto-e-branco onde todo mundo é absolutamente bom ou absolutamente mau. Ambas alternativas tediosas.