Agora o alvo é o “dinheiro público” gasto na pesquisa do Miguel Nicolelis. Gente que nunca abriu uma Superinteressante que seja se tornando “o” especialista em fomento e pesquisa. Cobram resultados irreais, como se tivessem prometido uma Armadura Mark 15 da Stark Technologies.
Desconhecem o conceito de prova de conceito. Desconhecem que para andar é preciso engatinhar e que os carros que estacionam sozinhos não surgiram da mão de Henry Ford, que a Dragon V2, que a VSS Enterprise não saíram da oficina dos Irmãos Wright.
A mesma gente que acha INADMISSÍVEL gastar dinheiro com exoesqueletos para paraplégicos não reclama da USP gastar dinheiro publicando teses sobre grafitos de banheiro.
O que se vê é a Síndrome de Tom Jobim, onde o brasileiro considera sucesso alheio ofensa pessoal. Junte a isso um partidarismo extremista patológica onde quem vaia a Dilma é rico e onde o Nicolelis por ser petista é naturalmente uma fraude, e NADA consegue ser feito nesse país.
Nossa natural desconfiança da ciência também não ajuda, afinal boas são as curandeiras, o pessoal que receita florais, chazinhos, a medicina indígena. Eles são saudáveis, você não vê nem índios com Síndrome de Down. (pesquise o motivo)
Agora uma autora da Folha reclamou dizendo que o exoesqueleto vende… esperança. SIM, SUA MULA, CLARO QUE VENDE. Toda boa pesquisa vende. Elon Musk fala de colônias em Marte, mas a tecnologia dele ainda não chegou nesse ponto. Por isso é uma fraude?
O que vi na abertura da copa, e o que vi na Internet é a clássica rejeição brasileira a tudo que não é “humilde”. Todo mundo xingou o Governo por não dar R$50 mil e forçar a Olimpíada Brasileira de Astronomia a passar o chapéu. Agora querem reclamar de um investimento de R$33 milhões? Decidam-se, o Governo deve OU NÃO investir em ciência?
Não me interessa que o Nicolelis seja petista. Ninguém é perfeito. Não me interessa que ele seja um mané que nunca me respondeu no Twitter, ao contrário do Neil DeGrasse Tyson (yay namedropping!). Há que se separar o homem do pesquisador, e cobrar resultados da pesquisa. Resultados que uma busca no PubMed mostra que existem.
Eu tenho CERTEZA de que se a Dilma na época falasse que NÃO haveria investimento no “brinquedo do Nicolelis”, e que os R$33 milhões seriam gastos comprando cadeiras de rodas a popularidade dela subiria uns 200 pontos. Todo mundo acharia o máximo, que coisa linda, que gesto caridoso. Ela seria aplaudida de pé, menos por quem um dia poderia vir a se beneficiar da pesquisa.
O último governante brasileiro simpático à Ciência foi Pedro II. De lá pra cá ela é apenas tolerada. Por isso somos e sempre seremos meros usuários, comprando soluções prontas. É uma pena. Nos falta grandeza. Se a tivéssemos a Presidenta não estaria acomodada na Tribuna de Honra, mas no centro do gramado, ao lado do Juliano Pinto, sabendo que aquele chute era um gesto simbólico. Ainda há muito a ser feito, mas que ninguém estava parado.
O chute não foi um final, isso nunca foi prometido. Quando a ciência se defronta com a miséria, a doença, a morte, o abismo intransponível ela só tem uma coisa a dizer: “Hoje talvez, mas amanhã, NÂO!”
É por isso que seu filho hoje vive sem o fantasma da poliomielite, é por isso que nem AIDS é mais uma sentença de morte. É por isso que aquela batida de carro fatal 30 anos atrás hoje foi só “um susto”.
Aceitamos de bom grado esses benefícios da Ciência, mas desprezamos o caminho que leva até eles. Somos vira-latas. Sempre seremos e por isso nunca veremos um gesto como este:
Em visita a Israel, Obama foi conhecer as pesquisas de uma empresa que desenvolve próteses e exoesqueletos. Na imagem está cumprimentando Theresa Hannigan, veterana do Vietnã e paraplégica. Aqui não duvido que a pessoa mais importante a tirar foto com o Juliano tenha sido o boleiro.