Quando a lacração me força a dizer que Hitler não fez nada errado.

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Exagero? Depende de que lado você está.

Antigamente as pessoas eram menos binárias. Era possível ser indiferente a um tema, era possível ser passional, era possível ter um interesse moderado. Entre gostar e não gostar havia infinitos níveis. Hoje a Internet nos tornou hiperbólicos. Tal qual atores de teatro antes da invenção do microfone, exageramos nas emoções para que a platéia ao fundo nos entenda.

Isso é péssimo, quem está na primeira fila vê uma pantomima, uma caricatura da realidade. Ninguém fala gritando assim. 

Hoje não basta você ver um filme e não gostar, tem que odiar, tem que fazer um vlog de 20 minutos reclamando, tem que perseguir quem comenta positivamente e sempre que alguém menciona, você pára o que está fazendo e deixa seu comentário dizendo que o filme é uma merda.

Essa falta de nuance mata o discurso. Um dos motivos da vitória de Trump foi justamente essa postura binária de que ou você é um democrata progressista iluminado ou você é a escória da Terra. Sim, o outro lado por sua vez defendia que ou você era um republicano conservador ou era um terrorista comunista amante de imigrantes ilegais.

O problema desse discurso é que ele afasta os moderados, e havia muito mais moderados nos Estados do Meio-Oeste, esses moderados inclusive votaram em Obama, duas vezes mas quando eram sistematicamente chamados de deploráveis, fascistas, nazistas, se afastaram do discurso democrata.

A militância derrotada parece que não aprendeu isso, e demonstrou de forma retardadamente didática ao chilicar com Paul Ryan, republicano que seria o equivalente a Presidente da Câmara dos Deputados. Alguém recebeu um email do gabinete dele, reparou na logo do congressista e a tempestade de merda foi disparada.

Logo a mídia começou a amplificar a histeria, inclusive Gabrielle Levy, uma jornalista que não só desconhece totalmente a História de seu país, como não tem paciência de pesquisar. Ela tuitou indignada:

Não foi só ela, dezenas de milhares de retardados achando que o mundo segue as regras de um desenho do Scooby Doo começaram a denunciar a secreta afiliação de Paul Ryan com os nazistas, xingamento aliás comum a todos os republicanos, afinal de contas…

Vamos imaginar por um momento que Paul Ryan seja nazista. Faça reuniões secretas, planeje o Quarto Reich, pacote completo. Será MESMO que ele seria burro o bastante para colocar um símbolo nazista EM SUA LOGOMARCA PESSOAL? Essa gente assiste TV demais, acha que organizações secretas usam uniformes.

Será mesmo que o logo do Paul Ryan é uma alusão ao nazismo? O que dizer então do Memorial às Vítimas da Guerra Hispano-Americana, inaugurado no Cemitério Nacional de Arlington, em 1902?

Não deu pra ver?

ENHANCE!

“Ah Cardoso mas a águia nazista…”

Não filho, a águia era romana e TODO MUNDO usa, desde Roma, bem antes de Berlin.

Usar uma águia como símbolo não te faz nazista, a menos que você queira denunciar como amantes de Hitler o Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos da América.

Ao se indignar automaticamente, ao repassar a terrível denúncia sobre o desmascarado nazismo de Paul Ryan as pessoas se sentem guardiãs da moralidade, se sentem parte de algo maior, e são. Se tornam parte de uma coletividade, de uma massa unificada que aponta e grita quando vê algo que não seja exatamente igual  a si:

O problema em ser assimilado em coletividades é que a primeira coisa que você perde é a capacidade de pensar como indivíduo. Importa a Narrativa, a lacração. NINGUÉM que denunciou Paul Ryan como nazista sequer cogitou estar errado, afinal de contas o Coletivo não erra.

Na verdade ele erra. Erra muito. Quase todas as coisas que todo mundo sabe estão erradas, quase todo mundo de uma multidão com tochas e ancinhos não faz idéia de porquê está ali. Paul Ryan está longe de ser um sujeito legal, mas também está longe de planejar a volta de Hitler. Nazistas estão longe de ser sujeitos legais, mas não há nenhum plano em andamento para se infiltrar no governo dos EUA.

Paul Ryan pode ser acusado de muitas coisas, mas o que fizeram com ele foi injusto e estúpido. Somente gente muito mal-intencionada acusaria o Presidente da Câmara dos Deputados de usar um símbolo nazista…

Quando tudo que Paul Ryan fez foi usar uma versão estilizada do selo oficial do Presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, criado em 1789:

Pelo visto aqueles que se esquecem da História estão condenados a passar vergonha na Internet.


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