Sexo nos Anos 80

Sexo nos Anos 80

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O garoto de 13 ou 14 anos que acessa, de seu quarto, uma sala de chats sobre coroas que gostam de franguinhos enquanto baixa toneladas de vídeos da Sylvia Saint não tem a menor idéia do quanto é abençoado. Ser adolescente nos anos 80 significava uma trabalheira enorme para colocar em dia a sexualidade latente e imtumecida, como diria o pessoal do Casseta & Planeta.

1 – Fotos e Revistas

Hoje em dia as chamadas “revistas de sacanagem” ainda existem, em quantidade menor, voltadas para um público de baixa renda. Diria eu que é a maior prova da chamada “exclusão digital”. Um sujeito que precisa comprar uma revista para obter material de sacanagem está completamente desantenado com o mundo.

Revistas – parte 1 – aquisição

revistas Sexo nos Anos 80
Playboy e Status por um breve período disputaram a liderança de mercado entre as chamadas revistas adultas “sérias”

Nos anos 80, os adolescentes que hoje esnobam as revistas imploravam por elas. Eu tinha um esquema com meu jornaleiro, eu comprava um gibi, ele colocava a revista de sacanagem por baixo, cobrava pelos dois e todos ficavam felizes. Claro que ELE escolhia a revista, da prateleira na lateral da banca. Não era simples para quem não tinha irmãos mais velhos, adquirir material. Os garotos mantinham uma rede informal de informações sobre qual jornaleiro “fazia jogo” e qual não só não vendia como ameaçava chamar os pais do incauto.

Havia duas linhas principais de revistas: As ditas sérias, como a Playboy, a Status e a EleEla, e o resto. O resto trazia fotos explícitas, algumas fotonovelas muito safadas (no sentido da qualidade) e spam, muito spam. Toneladas de anúncios, os MESMOS produtos de sempre. Creme Virgin-again, bolinhas tailandesas, consolos dignos de um documentário do Discovery sobre fauna abissal, você escolhe.

Curiosamente, a qualidade das revistas de hoje continua a mesma. Acho que os filhos e netos daqueles aspirantes a Larry Flynt continuaram o legado dos antepassados. Um caso raro no marketing onde o veículo permanece e o público-alvo é trocado.

Revistas – parte 2 – armazenagem

De posse da revista, o segundo maior problema era onde guardá-la. Lembre-se, adolescentes não têm direito a privacidade. Suas posses estão, teoricamente, disponíveis para revistas (não as de papel) aleatórias. Não havia a paranóia de hoje sobre drogas, então era incomum uma devassa completa, mas deixar uma Status dando mole em cima da cama era convite para uma geral.

Por sorte eu nunca passei por isso, mas ouvi muitas histórias. O melhor é que os pais eram tão incomodados com a questão da sexualidade, que só davam metade da bronca. É feio é errado, você não pode ler isso. Não explicavam o porquê, não davam alternativas, nada. É feio porque é féio. Muito elucidativo.

A saída era esconder as revistas em locais estratégicos, como:

  • Na estante entre outras revistas maiores
  • Debaixo do colchão, entre o estrado e o papelão
  • Dentro dos livros do colégio (perigoso)
  • Caixa de brinquedos e jogos, debaixo da bandeja de plástico

Alguns lugares convidativos eram armadilhas prontas pra disparar e ferrar você e ser humilhado diante das inevitáveis tias visitando no domingo:

  • Debaixo do Colchão puro – mães costumavam arrumar quarto limpando colchão sem avisar. Se você usava o truque da caixa de papelão aberta, prefeito. elas NUNCA tiravam o papelão do estrado. SEM o papelão, suas revistas ficavam expostas.
  • Mochila velha no armário – à primeira vista é um ótimo lugar. Na prática, não. Sempre aparecia alguém precisando de uma mochila emprestada, se fosse sua mãe ela saberia exatamente AONDE encontrar uma.
  • Gavetas da Escrivaninha – isso numa época em que os jovens ainda tinham escrivaninhas, e não “mesa de micro”, claro. Gavetas tinham algum nível de privacidade, mas mães, irmãs e curiosos em geral sempre abriam sem pedir licença, atrás “de uma tesoura”.
escrivaninha Sexo nos Anos 80
Escrivaninha ainda usada para armazenamento de material questionável

Revistas – parte 3 – uso

Comprar Playboy para ler reportagem só depois dos 40, mas alguns conseguiam dar essa desculpa na maior cara-de-pau, pelo menos para os colegas. O uso prático das revistas era outro. Sejamos realistas, o objetivo básico era descabelar o palhaço, partir pra covardia do 5 contra 1, fazer amor com quem você mais ama ou qualquer outro eufemismo da moda.

Isso era simples quando você tinha um quarto só seu, e direito de passar a chave. A maioria, morando com irmãos e irmãs não podia se dar a esse luxo. Assim, se o cômodo preferido de todo adolescente no Século XXI é a sala de chat do UOL, nos anos 80 era a o banheiro.

Alguns caprichavam, depois de 10 minutos aproximadamente abriam o chuveiro, simulando um banho e ganhando tempo. As mães não entendiam como alguém poderia passar horas debaixo d’água e sair como se nem tivessem molhado a cabeça.

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Revistas com a Xuxa, hoje essa Playboy vale mais de R$1000,00

Levar as revistas ao banheiro era relativamente simples; bastava colocar entre a camiseta e a bermuda. (em português arcaico, short). Problema era quando o sujeito exagerava na dose e tentava levar uma penca de uma vez, adolescentes grávidos despertam suspeitas

Revistas – parte 4 – socialização

Era inviável manter um estoque muito grande, e de qualquer forma as revistas acabavam gastas, tanto fisicamente quando do ponto de vista psicológico. O animal masculino anseia por variedade, mesmo no papel.

Um excelente meio de manter a imaginação saciada era organizar um esquema de trocas e empréstimos, no colégio. Era batata, grupo de alunos que descia pro recreio carregando cadernos fatalmente tinham revistas escondidas dentro dos mesmos. As trocas eram feitas com exímia rapidez, para enganar os inspetores.

Algumas regras de etiqueta, da época:

  • Nunca abrir a revista mais que alguns segundos, em público
  • Não se comentava a qualidade do material emprestado, exceto para elogios
  • Nunca emprestar para quem não tivesse o que trocar*
  • Somente material hétero. Sequer lesbianismo existia
  • Nada de cenas pesadas, escatologia e similares
  • Guardar a revista com a vida.

* quem não tinha material próprio fatalmente carecia de know-how para cuidar desse tipo de bens preciosos. Isso significava uma alta possibilidade de perda, confisco e telefonemas para os seus pais.

Revistas – parte 5 – lendas urbanas

Algumas revistas eram mais procuradas do que outras. Algumas como a famigerada Rudolph eram temidas, ninguém comprava, trazia cenas nojentas, gordas, tudo que não estávamos acostumados mas fascinavam os europeus.

As mais famosas eram as suecas. Criou-se uma imagem da Suécia como paraíso da sacanagem que persiste até hoje. As histórias dos bordéis de Amsterdam eram lendárias, todo mundo tinha um primo cujo amigo do vizinho viajou para lá e viu (e fez) coisas inimagináveis.

Ficávamos tão embasbacados com as histórias que nem percebíamos que a capital da Suécia é Estocolmo, Amsterdã é na Holanda.

rosana Sexo nos Anos 80
Algumas lendas eram verdadeiras, a cantora Rosana realmente posou nua.

Algumas revistas eram lendárias. Uma que ninguém viu foi a tal com fotos da Fernanda Abreu, da Márcia (ambas da Blitz) e da Paula Toller, nuas.

Ninguém cogitava a possibilidade da revista não existir.

2 – Sacanagem em Movimento

No começo da década, não havia sacanagem eletrônica. O máximo eram umas fitas K7 com o que seria chamado hoje de audiobook. Mulheres lendo algum conto erótico de qualidade duvidosa. Gemidos falsos, uma trilha sonora (quando havia) pra lá de cafona, e mais nada. A única chance de um adolescente ver uma mulher nua em movimento era ao vivo, o que se fosse opção disponível, seria bem legal.

Alguns com mais cara-de-pau e aparência de mais velhos matavam aula e iam nos “poeirinhas”, cinemas de subúrbio com vigilância mais compreensiva e programação especializada.

Um filme de Kung-Fu e um filme de sacanagem. Em geral, nacionais, pornochanchadas recicladas. Nada muito explícito. No máximo nu frontal. Os cinemas que passavam filmes explícitos eram segregados, como o Rex, no Rio de Janeiro. Esses não deixavam garotos de 13 anos nem parar na porta para ver os cartazes.

Na TV, ainda sob as sombras da censura, nada de muito interessante era liberado. Algumas cenas de Malu Mulher, uma ou outra novela e olhe lá. A galera se deliciava era com filmes de índios.

Um clássico, “Como era gostoso o meu francês” fez muita gente ficar acordada até tarde.
Oportunidade rara de ver peitinhos aos montes, e de cara limpa, na frente dos pais, afinal era um filme nacional (coisa patriótica) e falava de índios, então tecnicamente não eram mulheres peladas.

Então veio o Sala Especial

Um belo dia fuçando pelos canais, eu e milhões de outros adolescentes descobrimos um programa novo, safado, passando nas madrugadas da TVS (o embrião do SBT).

Era o Sala Especial, produzido pela Record e passado no Rio pela TVS.
A proposta era simples: 11 da noite (naquele tempo isso era tarde) passavam uma pornochanchada. Filmes nacionais, quase sempre comédias, sem nenhuma proposta artística séria, mas muitas mulheres semi-nuas (com sorte).

joana Sexo nos Anos 80
Joana Fomm em uma cena d’O Espelho da Carne

Esses filmes merecem um artigo à parte, dada a enorme contribuição que deram para o desenvolvimento de… bem… alguma coisa.

Toda uma geração (na verdade umas três) de atrizes globais passaram pela Sala Especial. De cabeça, posso citar, das que mostraram seus talentos:

  • Matilde Mastrangi
  • Vera Fischer
  • Angelina Muniz
  • Betty Faria
  • Regina Casé
  • Carla Camuratti
  • Maria Zilda
  • Lucélia Santos

Recomendo para posterior apreciação (e apreciação de uns posteriores também) os seguintes filmes:

  • A Superfêmea
  • Histórias que nossas babás não contavam
  • O olho mágico do amor
  • Espelho da Carne
  • Giselle
  • Amor Estranho Amor (sim, esse mesmo)
  • Eu te amo

Os filmes podiam ser bem diretos, como o Olho Mágico do Amor ou o Eu te Amo, do Arnaldo Jabor ou cheios de reflexões filosóficas, como algumas chatices que enrolavam para mostrar o que todo mundo queria ver, ou mesmo comédias descaradas, como o excelente “Superfêmea”.

Havia até crítica política, como no “Histórias que nossas babás não contavam”, onde a mulata Adele Fátima fazia “Clara das Neves”, Costinha era o Caçador e havia sido baixado o AI-5 – Ato Imperial número 5.

Assitir aos filmes do Sala Especial era uma arte. No começo dos anos 80 pouca gente tinha televisão no quarto. O procedimento mais comum envolvia:

1 – convencer todo mundo a dormir cedo, rezando para não ser dia de jogo;
2 – Assistir alguma coisa chata até o último minuto;
3 – Apagar a luz da sala para evitar reconhecimento imediato;
4 – Reduzir o som da TV ao mínimo para não abafar o barulho dos passos de alguém chegando;
5 – aproximar a poltrona da TV para que consiga mudar de canal rápido. (isso foi antes dos Controles Remotos)
6 – cobrir-se até o queixo com um lençol ou cobertor, não importa a estação do ano, você ESTAVA com frio ;)

O Sala Especial durou, no Rio, até metade dos anos 80, quando a Record brigou com o SBT, cancelando a programação conjunta.

Nessa época outras estações já transmitiam cópias do Sala Especial, a Bandeirantes tinha sua “Sessão Peitinho” e a Manchete já havia se posicionado como fornecedora confiável de inspiração pra galera.

VHS

Quando a sacanagem “online” se tornou mais acessível, enfrentou uma concorrência que parecia caída do céu, para os usuários: O videocassete.

Inicialmente um produto bem caro, foi aos poucos se popularizando. Locadoras se espalhavam em cada esquina, e como toda nova mídia, o mercado do sexo foi um dos primeiros a se aproveitar dela.

As locadoras foram inundadas de produções estrangeiras, originalmente cópias piratas. Nomes como Traci Lords e Ginger Lynn se tornaram conhecidos dos adolescentes. Biblicamente, inclusive.

A primeira locação pornô ninguém esquece; você escolhe umas cinco ou seis fitas diferentes, filmes família, etc. Passa pela prateleira de sacanagem, olha as capas sem pegar, acha seu alvo e sub-repticiamente coloca a caixa no meio dos filmes família.

Chegando no balcão, você faz uma cara de quem aluga pornôs cinco vezes por semana, inclusive tendo atuado em alguns. Não que seu histórico de locações de Jornada nas Estrelas substancie a sua postura.

Com sorte, a atendente (era sempre mulher, nessas horas) olhará para a fita, olhará para você, fará uma cara de “que vergonha, um garoto alugando um lixo desses…” pegará a fita e pronto. Com azar (o que era mais freqüente) ela chamará um auxiliar, e na frente do grupo de freiras que foi procurar alguma coisa da Disney dirá:

“Marquinho, procura pra mim o “Safadas do lava-rápido IV” pra mim, não estou achando.

Sacanagem em Movimento – fase 2 – assistindo

Na época do VHS já não era tudo tão complicado quanto no tempo das revistas ou dos programas de TV. Era possível alugar a fita escondido (as mães nunca tiveram a idéia de pedir um histórico de locações, e as atendentes apesar dos olhares ameaçadores, nunca nos denunciavam).

Os procedimentos eram parecidos com o usado para ver o Sala Especial, mas não precisavam ser tão cedo. Um adolescente resoluto montaria seu esquema de TV alta madrugada. 3 da manhã ninguém apareceria atrás de você. ESSA é a origem da lenda de que sexo solitário demais dá olheiras e ar cansado.

Outra vantagem era o controle remoto. Era possível manter uma distância razoável da TV, e principalmente desligar o filme na primeira suspeita de companhia indesejada.

Com a responsabilidade de devolver o filme no dia seguinte, ele podia viver na mochila do colégio, era raro quem tivesse cópias próprias, então não havia mais trocas, no máximo recomendações (como se não consumíssemos todo o acervo da locadora, anyway).

Para muitos foi o primeiro contato com sexo “de verdade”, ao contrário das simulações inocentes das pornochanchadas. A era de ouro dos filmes adultos nos EUA supria o mercado brasileiro com material de primeira, produzido em película, com cenários, (algum) roteiro e (o que era essencial) mulheres lindíssimas.

Traci Lords, Jeanna Fine, Ginger Lynn, Marilyn Chambers, Annette Heaven, entre tantas outras, numa época em que silicone era novidade e não muito bem-vindo no mercado.

A produção nacional era quase nula. Não havia como uma produtora nacional bancar mulheres daquele nível. Qualquer uma delas no Brasil estaria trabalhando como apresentadora de TV ou modelo de primeiro time. O filme adulto nacional do início dos anos 80 não deve nem ser mencionado.

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Na sequência, Traci Lords, Marilyn Chambers, Ginger Lynn, Jeana Fine, Ashlyn Gere e Ron Jeremi, o puto que traçou essas e TODAS as outras mulheres maravilhosas do mundo pornô. Ganhou e GANHA por isso, ele ainda está na ativa.

Já as adaptações sim. Talvez tentando atingir o mercado analfabeto (como se alguém ligasse para os diálogos) uma produtora lançou um filme adulto americano… dublado.

Eu aluguei e não consegui assistir, era muito, muito engraçado. Constrangedor, diria eu. Qualquer dia vou perguntar ao Sérgio Stern, da lista palm-br, se ele já fez algum (como dublador, calma). Sei que ele só confessará sob tortura, mas a simples possibilidade já é hilária o bastante.

Entre os filmes mais famosos dos anos 80, recomendo (por puro interesse arqueológico):

• Atrás da Porta Verde – Marilyn Chambers
• New Wave Hookers – todo mundo
• Traci Dick – Traci Lords
• Taboo – kay park
• The Filty Rich – Samantha Fox
• Debbie Does Dallas – todo mundo

Fim do Prazer Solitário

Quando os BBSs apareceram, imediatamente se descobriu que eram ótimos para a sacanagem, também. Que coisa melhor que falar sacanagem com estranhos, sob o anonimato de um nickname?

Foi o início do fim para a sacanagem analógica. Além do bônus da interação com gente de verdade, havia disponível uma enorme (para a época) quantidade de arquivos, com arquivos PCX e até mesmo um tal de GIF, com emocionantes 256 cores. A qualidade do material que se conseguia baixar era excele- não, sendo realista, era uma droga.

Hoje é impensável alguém baixar um arquivo de 256×192 256 cores. Só como thumbnail, mas no tempo do modem de 2400, era tudo que tínhamos, e provocou um breve ressurgimento das trocas, dessa vez disquetes, abarrotados (todos os seus 360KB lotados!) de imagens.

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360KB, menor que a maioria das imagens que recebo hoje em dia

Ainda não havia filmes, mas só a idéia de poder ter imagens em casa, de forma totalmente privativa, sem que os pais sequer imaginassem, era muito boa. Diversos adolescentes insuspeitos eram Sysops de BBSs cabeludérrimos, carregados da mais alta safardanagem.

Aí chegou a Internet, o MSN, o Skype, as webcams, os gravadores de DVDr, e qualquer adolescente baixa DVDs inteiros de suas atrizes preferidas, gigas e gigas de fotos, tudo no conforto de seu quarto.

Confesso que sentiria uma enorme inveja dos adolescentes do início do Século XXI.

Se eu não fizesse a mesma coisa.

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