Eu consumo muita coisa questionável, e nem me refiro só a tentacle pr0n. Em verdade a maior parte do entretenimento que consumo é considerado ofensivo. Family Guy, South Park, 30 Rock, um monte de séries tratam de temas polêmicos e ofensivos a grupos específicos. Deuses Americanos é campeã. Outro dia mostraram um Djin e um muçulmano transando, em uma longa e suada e melada e gráfica cena de sexy gay homossexual sobrenatural. Só não ofendeu mais gente porque o americano médio não assiste American Gods.
Preacher, do AMC, baseado na obra-prima de Garth Ennis tem como parte da trama o Graal, uma organização mundial secreta que além de monopolizar postos de gasolina mantém em cativeiro um descendente direto de Jesus Cristo. por dezenas de gerações eles forçam esses descendentes a se reproduzir com parentes diretos, o que geneticamente não é muito bom. Sim, é o sujeito da imagem de abertura, e sim, Jesus é completamente retardado.
Eu entendo que um monte de gente considere isso ofensivo, do mesmo jeito que entendo aquele grupo idiota 1 Milhão de Mães, que tentou forçar a Fox a cancelar Lúcifer antes da estréia, por considerar a série “Apologia ao Satanismo”. São lentas essas mamães, faz tempo que Holywood apologiza Satã. O Diabo é sempre o personagem mais legal dos filmes.
Ou seja: Eu entendo como é estar do lado ofensor, mas também entendo o lado do ofendido. Meus leitores sabem como eu detesto arte contemporânea, o bastante para chamar de Arte Moderna, meu termo geral para esse tipo de picaretagem. Acho Duchamp um belo de um 171, e não há picareta maior que John Cage, que consegue enrolar platéias inteiras de idiotas com sua 4′33″, uma “sinfonia” que se resume a quase 5 minutos de silêncio.
E tem isto:
A peça se chama Merda de Artista, foi criada por um artista de merda chamado Piero Manzoni. Ele literalmente enlatou a própria merda e colocou em exposição. Outro dia uma latinha dessas foi vendida a um sujeito com merda na cabeça por 275 mil Euros.
Portanto arte questionável não é novidade.
Nada de novo na tal exposição Queermuseu, patrocinada pelo Santander com recursos da Lei Rouanet. Aliás nada de novo é o ponto principal. É uma exposição com temática gay (cacófato proposital) com obras “provocativas”, questionadoras, bla bla bla. Tipo o Femen que quer chocar a sociedade tradicional mostrando… peitos.
Prepare-se para se chocar:
Chocante, né?
Ao menos o pessoal do MBL, o Tea (de cogumelo) Party brasileiro ficou chocado. Como eles provavelmente nunca chegaram perto de um museu na vida, não sabem que arte com sacanagem e gente pelada é feijão-com-arroz. E o que mais tem nessa exposição é sacanagem. Caralhinhos, voadores ou não por todos os lados.
E sim tem mais sacanagem:
Sim, isso parece algo saído do caderno do Eric Cartman:
A exposição, como toda adolescente revoltada tenta chocar também mexendo com ícones religiosos:
Se bem que reconheço que esse mashup de Jesus com Shiva ficou legal, embora cá pra nós latinha de sopa Campbell é tão “nossa sou descolado como Andy Warhol”, e em termos e criticar religião e sociedade de consumo a abertura de Deuses Americanos é 750 mil vezes melhor.
OK, eu fui injusto. As tentativas de ofender a sociedade da exposição não são adolescentes, são de Quinta Série. Só crianças se acham espertonas escrevendo “cu” nas coisas e considerando isso um tapa na cara do Status Quo. Por isso uma peça é uma caixa de hóstias com palavras como “cu”, “Língua” e “Vagina” escritas.
O melhor de tudo é que se os idiotas do MBL fossem tão católicos quanto dizem, saberiam que antes de ser consagrada uma hóstia é só um pãozinho, e essa peça é tão ofensiva quanto escrever “piroca” e um cacetinho, já que a exposição é no Rio Grande do Sul. Fora que chocar a sociedade com “cu” é tão Ultraje a Rigor Anos 80… e eles já faziam na zoeira.
Ofensa é algo que é sempre recebido, nunca emitido. Se você não quiser se ofender, o sujeito pode xingar à vontade. Com um dogma protegendo então, melhor ainda.
No final a tal exposição que passaria em branco ganhou um destaque imenso, e infelizmente foi cancelada. Sim, infelizmente, melhor seria o Santander gastar dinheiro com um evento lixo que ninguém iria visitar (lembre-se, quem chilica não consome) e pensar duas vezes antes de fazer outra coisa do gênero.
Forçar o banco a cancelar o evento é um direito de todo mundo que não concorda com ele, da mesma forma é direito do banco mandar esse pessoa pastar. Curioso é que o mesmo pessoal defendendo o evento aplaudiu quando artistas protestaram pela inclusão de um filme sobre o Olavo de Carvalho no Festival Cine PE. Censura no cu dos outros é refresco.
Mas calma não desligue ainda. Pessoalmente eu estou feliz em ver essa exposição levar trolha. Não por causa da temática, mas por causa da qualidade. A Arte Moderna, ainda mais a arte engajada é preguiçosa, é básica. Eu não considero arte nada que eu consiga fazer, e convenhamos, qual a dificuldade disto?
“Ai Cardoso é estimular a pedofilia”
Aonde? Será que a Brigada Ofendida associa automaticamente “travesti” e “viada” a sexo? Cês tem problemas. isso não é apologia de nada, exceto da arte ruim. Agora imagine o que dirá o MBL quando descobrir que a Jessica e o Morty têm 14 anos…
“Ah mas é ofensivo”
Você acha conteúdo “questionável” e “ofensivo” em todo lugar, basta procurar. Eu já tirei da equação essa característica. As pessoas vão se ofender, SEMPRE.
A arte provocativa em si não é o problema, ela é necessária. Goya pintou La Maja Desnuda em 1797, e nego ficou nas tamancas, chamando de apologia à prostituição, pornografia, atentado contra a moral e os bons costumes e a tradicional família brasileira de Madrid, etc.
Como resposta, trollador que era Goya pintou em 1803… La Maja Vestida.
A preguiça, incapacidade e falta de talento da maioria das peças dessa exposição me ofende. Eu acho um absurdo dar espaço a qualquer um por causa da suposta mensagem e não com base no talento. São peças ruins, e arte ruim é imperdoável. Arte ruim me ofende e deveria ofender todo mundo. O tema é irrelevante. De resto, só tenho uma certeza:
Em 300 anos ainda estaremos admirando O Sonho da Mulher do Pescador, pintado por Katsushika Hokusai em 1814.
Já esta porcaria estará na lata de Lixo da História, seu lugar de direito: