O dia em que piratas australianos invadiram um porta-aviões americano

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A Guerra Fria foi marcada por momentos tensos, ameaças e situações extremas, quando ficamos muito, muito perto da Aniquilação Nuclear, mas também tivemos momentos hilários, resultado de uma mistura de sorte, incompetência e gente disposta a tudo por uma boa sacanagem.

Foi o caso do USS Bennington, um porta-aviões de 1944 que serviu na Guerra do Pacífico.

Em 1957 o navio estava ancorado em Sydney, para participar de uma cerimônia. Nessas missões de boa-vontade sempre rola uma ação de caridade, doação de sangue, essas coisas, e um grupo de estudantes do King´s College pediu permissão para coletar doações para um orfanato.

O que ninguém sabia, nem os estudantes, era que eles chegariam antes da hora. Na noite do dia 11, provavelmente motivados por quantidades industriais de álcool, dez estudantes decidiram que ao invés de ir na parte da tarde em visita oficial, seria mais divertido uma outra, se me permite o trocadilho, abordagem.

Eles se vestiram de piratas, com armas de brinquedo, arrumaram um barco a remo e rumaram para Garden Island, aonde o Bennington estava ancorado. Chegando às 5h30min da manhã no porta-aviões, acharam uma escada, subiram e entraram, não havia ninguém tomando conta das escotilhas.

Parte do grupo começou a vagar pelo navio, encontrando marinheiros que olhavam os sujeitos vestidos de pirata, estranhavam mas não falaram nada. Um deles perguntou a um marinheiro como chegar na Ponte.

O marinheiro explicou o caminho, complementando “mas vocês não podem subir lá”. Os piratas foram assim mesmo, e o marinheiro não falou nada.

Chegando na ponte, um dos estudantes achou o sistema de comunicação do navio, pegou o microfone e falou, para ser ouvido em todos os compartimentos:

“Este navio foi tomado pelos Piratas da Universidade de Sidney!”

Outro estudante achou um botão marcado como “Alerta Geral”, apertou e imediatamente sirenes soaram pelo Bennington, alertando todo mundo para um iminente ataque nuclear, químico e biológico.

Em segundos a Ponte se encheu de gente, incluindo o Oficial de Dia, que ficou imensamente puto, os estudantes foram rendidos por fuzileiros, e entregues às autoridades locais, que acharam a pegadinha excelente e liberaram os estudantes, que no final, graças a contribuições dos marinheiros conseguiram arrecadar AU$1800,00 para o orfanato.

Incrivelmente esse nem foi o causo mais constrangedor envolvendo pegadinhas e navios, esse prêmio cabe a este sujeito aqui:

William Horace de Vere Cole era um sujeito rico e entediado, mas não daqueles que vivem em torre de marfim, seguindo a carreira do pai ele se tornou oficial do exército britânico, sendo ferido por um tiro durante a Segunda Guerra Boer, o que o deixou no hospital por mais de dois meses.

Seu passatempo preferido era pregar pelas e pegadinhas. Uma vez ele andou com uma teta de vaca pra fora da braguilha, quando um monte de gente começou a apontar, indignada, ele tirou uma tesoura do bolso e pra horror de todo mundo cortou a teta.

Certa fez ele convenceu um amigo deputado a disputar uma corrida na rua, mas antes sem que o colega percebesse, colocou seu relógio no bolso dele. O deputado sair correndo, Horace foi atrás gritando “pega ladrão”. A confusão foi tal que quase foram os dois presos.

Quando era estudante da Universidade de Cambridge em 1905 Horace planejou uma pegadinha que se tornou histórica: Ele mandou um telegrama para o Reitor avisando que o Sultão de Zanzibar iria visitar a Universidade.

Ele e outros estudantes se fantasiaram com roupas típicas, foram recebidos por oficiais e “conheceram” a Universidade, nem colegas próximos os reconheceram, sob a maquiagem. No dia seguinte quando a pegadinha foi parar nos jornais, o Reitor queria expulsar todo mundo mas foi convencido que isso só aumentaria a humilhação.

No ano seguinte, a pegadinha envolveu este navio aqui. HMS Dreadnought.

Ele era revolucionário, um encouraçado que era uma classe própria, o maior, mais poderoso e intimidador navio de sua época, se tornou um nome que caiu na cultura popular, e isso irritou os outros navios da esquadra. Tanto que tripulantes do HMS Hawke contactaram Horace de Vere Cole perguntando se ele poderia sacaneam o povo do HMS Dreadnought.

Horace planejou então uma sacanagem épica, revisitando a bem-sucedida pegadinha do Sultão de Zanzibar.

Dessa vez a idéia era enganar a Marinha Real forjando uma visita de Sua Alteza Real o Príncipe Makalen da Abissínia, como era conhecido na época o Império Etíope, então aliado do Reino Unido.

Horace não estava sozinho, ele tinha um grupo de amigos igualmente desocupados, e com ajuda de Willy Clarkson, o figurinista mais famoso de Londres, se vestiram com trajes típicos, com direito a blackface (trigger warning!) e barbas postiças.

A maquiagem ficou tão boa que você nem reconheceu o primeiro sujeito da foto, Virginia Stephen, que mais tarde seria conhecida como a escritora Virginia Woolf.

Horace se apresentou como um oficial do Escritório de Relações Exteriores com o improvável nome de Herbert Cholmondeley, mas foi tão convincente que quando chegou na estação ferroviária exigindo um trem especial para o Príncipe, foi prontamente atendido.

Seu telegrama para o comando do HMS Dreadnought também foi convincente, tanto que quando desembarcaram foram recebidos com uma banda marcial e guarda de honra.

Agindo como tradutor, Horace confundia os nomes dos “dignatários”, e como nenhum deles falava Swahili, usavam uma mistura de grego e latim, seu nenhum sentido. Também não podiam comer, com medo de estragar a maquiagem.

Eles foram recebido no navio pelo comandante, incluindo um oficial que era primo de Virginia e do irmão dela, também vestido de Abissínio, ele não reconheceu nenhum dos dois.

A visita teve até demonstração dos canhões do navio, ao que os visitantes exclamavam “bunga-bunga!” a cada tiro.

No final todos se despediram, a banda tocou o hino de Zanzibar (a Marinha não havia conseguido localizar uma bandeira ou uma partitura com o hino etíope) e o caso foi direto para os jornais.

A Marinha Real ficou PUTA, queriam de qualquer jeito prender Horace e seus cúmplices, mas não havia como enquadrar o grupo, tecnicamente eles não fizeram nada de ilegal.

No final a Marinha desistiu de um processo, chegando a um acordo aonde jovens oficiais navais deram palmadas simbólicas na bunda dos galhofeiros (exceto Virgínia, acima de tudo oficiais são cavalheiros).

Depois disso os marinheiros do Dreadnought cada vez que desciam em algum porto, eram recebidos com “Bunga-Bunga”, populares zoavam o Almirante com a frase, e em 1915, quando o HMS Dreadnought se tornou o primeiro encouraçado a afundar um submarino alemão, um dos telegramas de congratulação recebidos pelo navio dizia apenas… BUNGA-BUNGA.



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