Indiana Jones e os fantasmas de todos nós

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Finalmente fui assistir ao Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (ufa!). Como todo vagabundo blogueiro profissional, fui no melhor horário, o meu. Precisava de uma folga, tinha chegado de SP de ônibus, 1:30 o Ian Black me liga avisando do espaço para entrevistar dois Vice-Presidentes do Yahoo.

Lá fomos eu e Nick Ellis bater cabeça no Copacabana Palace, e pra chegar lá nove da manhã, com o trânsito da Ilha do Governador, bem… perguntem ao Manson ou ao Cris Dias.

Entrevista feita, peguei o metrô e fui pro Escada Shopping em Botafogo, fiquei em uma mesa na varanda, tomando chopp enquando não dava hora do cinema.

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A vista compensa, mas haja escada-rolante

Começado o filme, paraíso dos misantropos, 5 pessoas na sala. Os imortais acordes de John Willians… tam-tararam… tararam… Eu não lembro quantos anos tinha quando assisti Caçadores da Arca Perdida, e sou preguiçoso demais para ir no IMDB fazer as contas. Não importa. A música foi suficiente para me fazer voltar a ser criança. O mesmo efeito que o logo da Fox, com os acordes iniciais de Guerra Nas Estrelas.

Ninguém com mais de 10 anos deve assistir a um filme da trilogia (de seis filmes) e me orgulho de dizer que assisti a todos com 10 anos de idade.

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Indiana Jones, mais eficiente que qualquer DeLorean é uma viagem no tempo. Um tempo inocente, um tempo que talvez nunca tenha existido, onde todos os mistérios são verdadeiros, onde os heróis sempre vencem, onde somos capazes de amar um cara que saca o revólver e atira em um espadachim inimigo sem pestanejar. Não ligamos, Indy só atira em caras maus.

Eu tenho pena, muita pena dos que vão assistir esses filmes já com 5 pedras na mão. Eu tenho, mais que desprezo, piedade de quem se preocupa em contar quantas vezes o mocinho atirou com seu revólver de seis tiros. Todos sabemos que o mocinho dá cem tiros de uma vez.

Eu sou cético, valorizo a capacidade de questionamento, mas pelos Senhores de Kobol, é preciso relaxar de vez em quando. Existe uma diferença ENORME entre entrar pra Universal e sentar a bunda na cadeira por duas horas e aceitar que o Gandalf é FODA, sem se preocupar com a fonte de energia do Anel Um, ou se o sabre de luz do Luke precisa ou não trocar a bateria, e "por¨quê isso nunca foi mostrado?".

Já vi gente reclamando de "mentiras" em James Bond.

Para mim são crianças frustradas que tentaram "amadurecer" o mais cedo possível e acham que sendo CHATOS estão sendo adultos. É gente que não assiste Os Simpsons por achar que "desenho é coisa de criança".

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Eu acredito que o Indiana Jones conseguiria escapar de um avião usando um bote salva-vidas, DANE-SE o que os Mythbusters dizem sobre isso. Cinema é catarse, cinema é sair de um mundo que está pouco se lixando para nós humanidade como um todo, e entrar em um mundo justo, um mundo onde mesmo os canalhas conseguem se redimir através do sacrifício (entregar a mulher para Victor Lazlo, por exemplo).

Costumo dizer que não gosto de ir ao cinema sozinho. É verdade. Nem Speed Racer fui ver, mas Indy é Indy. Seria como não ver o próximo Star Trek. Impensável.

Repeti mentalmente a frase, "uma inteira", e na sala sentei entre a mochila e meu fantasma.

Descobri que fantasmas nos assombram com suas ausências, é muito mais difícil de lidar com o que não está ali do que com um espectro visível. Mas não dessa vez. Eu não teria um surto melancólico estragando assim uma experiência pela qual esperei 20 anos. Focando a mente no globo negro de memórias que nunca olho, trouxe de volta as lembranças de minhas melhores experiências cinematográficas.

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Memórias podem ser traumáticas…

 

Cutuquei apontando os detalhes evidentes aos fãs de FC, tive meu braço arranhado com um "alá! alá!" quando por meros segundos nossa querida Arca da Aliança apareceu, uma referência sentimental para quem viu o primeiro filme, em 1981.

NOTA: Sim, é um spoiler. A Arca da Aliança aparece. Não gostou? DANE-SE. Eu tive que ficar desviando o olhar para não ver o filme quando passou pirata, em um ônibus. Acredite, foi muito pior pra mim do que pra você.

Pela primeira vez em anos não saí do cinema com a sensação de algo incompleto, ou frustrante, como assistir Munique com uma antisemita (sério) ou ir ao cinema com uma pseudo-intelectual que se diz fã de fantasia e ficção mas fora cinema expressionista alemão dos anos 20, tudo é uma merda, inclusive todas as séries de Star Trek que ela nunca viu mas tem certeza de que não prestam.

Saí realmente feliz, cinema é algo que deve ser compartilhado, mesmo que com nossas lembranças, nossos fantasmas ou um coelho gigantes chamado Harvey.

Aliás, agradecimentos públicos à Liliana, por ter me apresentado Meu Amigo Harvey, filme de 1950 com James Stewart, onde ele é um cara absolutamente legal e bonzinho, mas tem um amigo que é um coelho gigantes imaginário.

Li, graças a você entendi uma referência em Uma Cilada para Roger Rabbit, onde os bandidos entram atrás de Roger, perguntando se alguém viu um coelho. Um dos clientes do bar diz que sim, estica o braço, abraça o ar e diz "diga olá… Harvey".  Céus, como eu amo referências e quem é capaz de pescá-las no ar.

Ao final as luzes se acendem, adultos enormes descem apressados como se tivessem sido forçados a assistir um filme horrível. O garotinho de 10 anos acompanha os créditos, saboreando a inconfundível música, até que um calafrio o lembra que é hora de voltar ao deserto do real. Me levanto, beijo meu fantasma na testa, agradeço por tudo e saio, de volta ao mundo onde gente diz não gostar de um filme por causa do rótulo da cerveja que aparece em uma cena não estar condizente com o rótulo usado em 1957.

Esse mundo, essa gente é horrível demais. Eu não quero estar perto dessas pessoas. Eu não tenho mais paciência para gente que acha que ter opinião é só falar mal, que opinião positiva não conta, que se você diz que gosta você é vendido ou ingênuo.

A grande ironia é que apesar de meu esforço em contrário meu fantasma está bem vivo. Já esses chatos? Sinceramente, se você assiste a um Indiana Jones para reclamar depois, lamento informar mas você está morto em vida.

 

// post-diarinho do semestre concluído. Até Dezembro…

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