Aconteceu, (discutiu, pautou, apurou, verificou, escreveu, editou, editorou, publicou) virou Manchete

Aconteceu, (discutiu, pautou, apurou, verificou, escreveu, editou, editorou, publicou) virou Manchete

Spread the love
vendraminimanchete1 Aconteceu, (discutiu, pautou, apurou, verificou, escreveu, editou, editorou, publicou) virou Manchete
Imagem 100% aleatória fruto de uma busca randômica no Google por capas de revistas.

Hoje a Tia Cora falou em um texto sobre o ciclo de notícias de 24h, hoje notícias são instantâneas e imediatas, coisas de ontem são anciãs, notícias do começo do dia já são consideradas velhas, mas nem sempre foi assim. Antigamente a revista Manchete tinha como slogan “Aconteceu, virou Manchete”, o que é deliciosamente irônico, em se tratando de uma mídia semanal, mas ninguém reclamava.

Eu, como todo mundo de nossa geração perdi anos de vida com a vinheta do Plantão da Globo, era sinal de que alguma merda grande havia acontecido. O imediatismo era restrito ao rádio, ele que era a testemunha ocular da História. Só que o jornal era o Historiador da História, ele trazia a profundidade que o rádio não tinha tempo hábil de produzir. As mídias se complementavam e éramos felizes.

O ciclo de fechamento dos jornais permitia um trabalho razoavelmente são, esticadas de fechamento eram normais, em alguns casos atrasava-se um pouco a impressão mas no geral havia um ciclo. Isso só era muito, muito raramente quebrado. A única vez que me lembro disso acontecer foi em 11 de Setembro de 2001.

capa3 Aconteceu, (discutiu, pautou, apurou, verificou, escreveu, editou, editorou, publicou) virou Manchete
Até o Extra publicou um Extra extra na tarde de 11 de Setembro.

Eu estava em uma entrevista de emprego fajuta, acompanhando pela internet os acontecimentos após os ataques. Decidimos ir almoçar e as bancas de jornais do Centro do Rio estavam repletas de edições extras, algo muito caro e complicado de se produzir, mas os jornais conseguiram, era algo importante assim.

Hoje isso não acontece mais. A agilidade foi para a Internet, mas não a profundidade. Essa, sumiu junto com os revisores das redações. Revistas falam em lacrar, jornais fazem matérias com youtubbers ao invés de escritores (os de verdade, não estou defendendo meu peixe aqui). Na Internet, a velha mídia arrumou um jeito de se destacar:

Agora tudo é urgente.

 

Tem uma ala da Direita Histérica (que é igual à Esquerda Histérica, só mais.. nah, é exatamente igual) que adora publicar chamadas bombásticas. Todo dia, TODO DIA são twits com chamadas “BOMBA! BOMBA!”, “A CASA CAIU!”, “LULA INDICIADO EM 87934932 INQUÉRITOS”, a impressão é que o PT tem horas de vida. Não há uma notícia que seja mediana, nada ajuda em investigações, tudo é bombástico e vai DESTRUIR DE VEZ o PT. Resultado? Não clico em mais nada, ignoro como ignoro os links do Huffington Post que a Esquerda Histérica pipoca na minha TL também.

urgentao Aconteceu, (discutiu, pautou, apurou, verificou, escreveu, editou, editorou, publicou) virou Manchete

A histeria muito rapidamente deixa de ser uma ferramenta prática para chamar atenção. O gráfico de urgência do G1 hoje é uma enorme piada entre os usuários do Twitter, quando todas as notícias são urgentes, nada é urgente. A velha mídia não entendeu que nada mudou. mesma forma que quando todas as notícias levam 24 horas para chegar no papel hoje, levavam antigamente, e se não havia twitter e redes sociais, havia o rádio.

A questão toda é que a credibilidade da velha mídia está em níveis historicamente baixos. As pessoas são pedidas a acreditar confiar e pagar por análises aprofundadas e opiniões abalizadas da mesma mídia que publica pesquisas dizendo que há 98% de chances da Hillary vencer a eleição, e de portais que passam o dia inteiro publicando vídeos que “bombaram na Internet”.

Notem que não estou reclamando da humanização dos jornalistas, acho o máximo o Bonner brincar e deixar o povo do Twitter escolher a gravata dele, o Maurício Stycer só mantém a sanidade por desabafar no Twitter depois de ler o dia inteiro comentaristas de portal o acusando de ser pau-mandado da <insira sua emissora malvada aqui> e quem pode reclamar das fotos da Mariana Godoy de bikini nas férias? Talvez só os paraquedistas do Google que vão chegar aqui atrás desses termos e descobrir que essas últimas eu inventei.

Humanização dos jornalistas? Nota 10, trivialização dos veículos? Cada um com seu cada um. Credibilidade é importante, é essencial. Jornais de mais de 100 anos estão caindo na armadilha do clique fácil, trocando sua integridade e seus nomes por chamadinhas lacradoras e matérias sem conteúdo.

No final, vão se tornar igual a Vice, um portal que faz excelentes reportagens em zonas de conflito, mas que não dá pra levar a sério pois um dos links mais visitados do site é uma matéria ensinando a chupar o próprio pau.

E antes que você fale do site da grega doida, gostaria de lembrar que o Huffington Post tem uma editoria… Sideboob.

sideboob_060612-m-600x450 Aconteceu, (discutiu, pautou, apurou, verificou, escreveu, editou, editorou, publicou) virou Manchete

NAOTAFACIL2 Aconteceu, (discutiu, pautou, apurou, verificou, escreveu, editou, editorou, publicou) virou Manchete