Blogueiro que é blogueiro bloga até sem computador

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balzac.gifBalzac, que escrevia muito melhor que o senhor, o fazia à luz de velas”

Essa, reza a lenda, foi a resposta do prefeito de Bogotá quando Gabriel Garcia Marquez reclamou dos apagões constantes interferindo com sua máquina de escrever elétrica*.

O prefeito estava certo. O ato de escrever depende muito menos de como se escreve do que de quem escreve. Pouco importa se o autor utiliza cadernos manuscritos, máquinas elétricas ou o IBM Via Voice ditando diretamente para o computador.

A tecnologia não afeta o produto final, e sim o processo, e nesse momento ela pode, realmente, fazer diferença.

Como já contei, estou sem computador, usando quase sempre só o PocketPC para escrever meus artigos, gerenciar emails, etc. É complicado em alguns pontos, mas é uma opção viável, embora tenha alterado substancialmente minha forma de trabalhar.

Escrever em um dispositivo móvel traz alguns pequenos efeitos colaterais:

Os parágrafos tendem a ser curtos. A sensação passada pela tela pequena é de que o tamanho está correto, mas quando exibidos em um monitor “de verdade” percebemos que o texto não está tão bem separado quanto imaginamos. Já juntei parágrafos mais de uma vez, após perceber o efeito telegráfico de escrever no PDA.

Perde-se a noção de tamanho do texto em si, pois não é possível visualizar o texto em páginas. Para um escritor ou jornalista das antigas, sem problemas, o PDA fornece o tamanho do texto em caracteres e em palavras, mas para quem trabalha com páginas ou laudas é uma informação não disponível, que pode fazer falta.

A parte de pesquisa também fica prejudicada. No PC costumo trabalhar com várias janelas abertas em um browser, com o Dictionary.com, a Wikipedia (de verdade), Google e uma ou outra obra de referência, assim quando preciso de um link ou uma informação, está facilmente disponível. No PocketPC posso manter algumas janelas abertas, mas o acesso é mais lento e mais apertado (mesmo em resolução VGA) que em um PC convencional. O resultado é que os textos no PocketPC são produzidos cheios de marcações, geralmente #### ou algo parecido, que quando revisados no PC são então trocadas pelos links finais.

A pesquisa de material se torna mais linear também, pesquiso o tema completamente antes de começar a escrever. Parece algo que deve ser feito todas as vezes, mas na prática já tenho uma idéia muito boa da estrutura do texto, então é mais produtivo um alt+tab do que montar toda uma estrutura de pesquisa que trará 90% de informação que já é de meu conhecimento.

Note que isso não é uma contradição em relação ao artigo de ontem, quando reclamei da mania de substanciar cada espirro com dois ou três links, abrindo mão do tempero em nome da informação pasteurizada.

Existem textos e textos, claro. No caso, falo de textos que demandam pesquisa. Não são todos. Os melhores, eu diria, dependem mais de bagagem do que pesquisa. Minha coleção de fotos de computadores dos anos 80 não precisou de nenhuma googlada, as informações ainda estavam fresquinhas em minha memória. Já um post sobre Os Maiores Blogueiros do Brasil exige uma boa pesquisa, pelo menos no site da Época e no do programa da Adriane Galisteu.

O PocketPC realmente tem me ajudado, mas uma coisa que aprendi com os US Marines é ter sempre um Plano C. Assim tenho também o Smartphone, meu leal Nokia 6600. E adivinhem: Ele funciona com o teclado Bluetooth, o teclado Infravermelho e mesmo com o T9, o método de entrada padrão, é suficiente para muitos trabalhos. A maior parte deste texto, por exemplo, foi escrita no celular.

Moral da história? Tenha sempre ao menos um Plano B; lembre-se que embora o conteúdo seja o essencial, dominar mais de uma ferramenta é importante. Experimente fazer todo um texto sem seu navegador ou editor favorito, arrume um bloquinho ou um caderno, escreva seu post e adie a ida para o micro até o último minuto.

Do contrário, se você se acostumar a só escrever com o computador, você nunca será um Balzac. No máximo um Garcia Marquez.


* Muito provavelmente eu errei o escritor latino, a cidade e o país. vi essa referência em um livro do Veríssimo, que obviamente não tenho idéia qual seja, no momento. O Balzac tenho certeza de que era ele mesmo, o que é excelente, pois me permitiu publicar a foto, deliciosamente parecida com Ron Jeremy.


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