A vantagem mais indiscutível dos blogs e outras dessas novas mídias é a intimidade. Ao contrário dos meios tradicionais e dos relacionamentos problemáticos, os blogs possibilitam um real contato entre as partes. O blog é um pedestal muito baixo, excelente para quem tem medo de altura ou ego bem resolvido. Seu blogueiro preferido está a um email, um comentário de distância.Um livro, um filme, geram essa sensação de intimidade, mas o autor não recebe esse retorno de imediato. Muitas vezes nem recebe.
Nas mídias escritas, o retorno então é totalmente mascarado pela estrutura. Só os poucos colunistas podem usar a primeira pessoa. Nos blogs a sensação é diferente, pois os textos em geral são cheios das referências que formam suas origens. Muitas vezes leitores são pegos de surpresa com textos inteiros baseados em seus comentários. No blog um leitor pode fazer diferença.
Por outro lado o autor tem a liberdade de ser pessoal. Já vi blogs técnicos sérios e prestigiados onde o autor fez posts completamente fora do tema, puramente pessoais. Na blogosfera temos vários casos de blogs onde o autor pausa para um texto atípico, geralmente um desabafo. Nós leitores entendemos e nos solidarizamos.
Gostamos e nos preocupamos com nossos autores. É diferente do blog-terapia ou do blog “sou sensível pra pegar mulher”. Não estou falando de blogs-depressão, falo de gente funcional, que acompanhamos sem o prazer mórdibo dos blogs “nada dá certo na minha vida”.
Você não pode fazer isso em um livro técnico.
Esse tipo de intimidade acontece muito na rádio AM, mas não com a televisão. Acho que a imagem intimida. Seria interessante acompanhar, em alguns anos, os vídeocasts. Será que terão a mesma aproximação com os espectadores que os blogs e podcasts? Ou a imagem será igualmente intimidante?
Nos blogs essa reação independe do tamanho. O leitor está sozinho em frente a uma tela. Interagindo. Não importa se um milhão de pessoas estão fazendo o mesmo. Ele não tem essa percepção.
Qual o efeito dessa horizontalização? Bem, para o autor que busca “reconhecimento” é terrível, pois o torna “apenas um blogueiro”, próximo demais dos leitores para ser visto, ao menos por seus próprios olhos, como um iluminado artesão das palavras. Ninguém fez ainda Coquetel de Lançamento de Blog, ao menos não de blog pessoal. Quando o blogueiro é convidado para participar de uma mídia “de verdade” isso vira um acontecimento, em geral domina o blog por semanas e se torna assunto de 1/3 dos posts, no período subseqüente. Afinal, ele em uma mídia “de verdade” foi legitimizado. Pode, finalmente, olhar seus leitores por trás de um microfone ou uma câmera de verdade. Não uma webcam.
Curiosamente os profissionais da mídia tradicional estão migrando para os blogs, em busca da liberdade, informalidade e intimidade que muitos blogueiros se ressentem. A esses profissionais, parabéns, divirtam-se com os blogs, vocês vão adorar.
Aos blogueiros, minha dica: aproveitem a intimidade, conheçam seus leitores, biblicamente, se possível (e forem leitoras, no meu caso). Ninguém vai te achar mais ou menos talentoso por montar uma fortaleza e se esconder dentro, J.D. Salinger e Rubem Fonseca são bichos-do-mato, mas na hora de chamar para um chopp, o João Ubaldo Ribeiro é sempre o primeiro a ser lembrado. Você não ganha absolutamente nada se fazendo de estrela. Nem uma entrada na Wikipedia.