Bloqueio de escritores, branco, falta de tesão de escrever, cabeça em outro lugar, emputecimento emo-temporal, viadismo, mau humor, chame como quiser. Esse bicho está rondando todo o tempo e pode te morder a qualquer momento. Muito mais provavelmente, se você tiver prazo e viver do que escreve.
Curiosamente nós que vivemos do que escrevemos somos os únicos que não podem declarar essas coisas para fugir do trabalho. (quer dizer, alguns não podem. Blogueiros podem, apenas não devem)
Um piloto de avião pode dizer “olha, não estou me sentindo bem” e não voa. Um astronauta idem. Pombas, até Presidente da Republica falta de vez em quando.
Não devemos nos dar ao luxo de baldar uma vez ou outra o trabalho, por falta de vontade?
Eu acho que não. Por quê? Porque é muito fácil. Vicia. Já fiquei vários dias sem escrever nada, olhando minha mesa, achando-a bagunçada e dizendo que aquilo me impedia de escrever. Deveria arrumá-la. Mas aí surgem porrilhões de outras pequenas coisas. A arrumação é deixada para lá. Ou então mexo uma palha aqui, uma caneca ali, digo que “comecei” a arrumar, vou empurrando com a barriga.
No final o tempo passa, o tempo voa e texto que é bom, nada.
Se não é a mesa, pode ser alguma outra coisa. Um telefonema recebido, um telefonema que não veio. A Carrie descobrindo que o cara era casado e você ficando deprimido junto, em solidariedade, apesar das palavras de consolo da Miranda e da Charlotte…
Sim, pra Não trabalhar a gente vê até Sex and the City.
Agora mesmo estou no Íbis da Paulista, com privacidade, Internet, cerveja, paz e o computador que sempre sonhei. (ok, o computador que sempre sonhei é a Sharon, de Galáctica, mas tudo bem)
Mesmo assim estou inventando mil desculpas. “o final de semana não aconteceu do jeito que eu imaginava,, está muito frio, se desligo o ar fica quente demais, a TV não tem nada, os episódios no iPod estão acabando, o som do MacBook é baixo, quartos de hotel me deprimem”.
Vá à merda, Cardoso. (um monte de gente adoraria dizer isso)
Você está onde gostaria, é o único responsável por isso, e não precisa de um editor-babá cobrando. Ou não deveria, pelo menos. Eu tenho experiência suficiente para rodar um pouco em volta antes de achar o tema, mas engrenar um texto. O que é preciso é vontade. Não é só o anel do Lanterna Verde, tudo funciona com força de vontade. OK, tudo não, senão a Pfeizer não venderia tanto Viagra.
É preciso muito cuidado. Um dia ruim é aceitável, mas no mínimo você tem que fazer uma crônica sobre o dia ruim. Outro dia o Interney escorou nas 4 patas e descascou um pessoal na Blogosfera. Foi bom, ele estava claramente em um dia ruim, mas nem por isso fugiu das obrigações. (ok, participar de lista de email é meio complicado de chamar de obrigação mas vocês pegaram o espírito)
Se este fosse um blog de autoajuda (eu estaria rico) diria algo sobre transformar limões em limonada, ou outra baboseira. Não é isso. Também não é fazer o estilo “sou fodão, nada me afeta”. Claro que afeta. Ninguém é de ferro, só o Tony Stark. O que digo é: Ao invés de deixar de escrever, mude o foco. Fale de algo diferente. Compartilhe uma intimidade. Extravase seu emputecimento. Você tem esse direito, você tem um blog, não um maldito jornal engessado em uma estrutura burocrática. Você pode se dar a esse direito. Escolha um tema adequado.
Se você está triste, fale sobre algo que o entristece. Não necessariamente o que está te afetando, mas alguma outra coisa. Você com certeza escreverá de forma pungente. Se está revoltado, transfira a revolta para outro tema. Aproveite suas emoções, é bem melhor do que se tornar escravo delas.
Do contrário você começará a achar que só conseguirá escrever quando tudo estiver lindo perfeito e maravilhoso. E vou contar um segredo: Nunca estará o suficiente.
PS: Essa foi a crônica sobre falta de assunto mais estranha que já vi na vida.