O bom jornalista deve se ater aos fatos, sob o risco de virar cronista, sendo que nem todo mundo tem bagagem e talento para dar opinião. Mas isso só não basta. Mesmo para se ater aos fatos é preciso um mínimo de cultura geral e visão de mundo.
Do contrário os mais bem-intencionados passam vergonha, como nesta matéria d´O Globo:
No texto o jornalista narra a incontestável onda de calor que assola o Rio. Entrevista meteorologistas, cita datas, faz o dever de casa direitinho. Até a hora que resolve ser dramático e garantir o título da matéria:
“Na Praça Mauá, este índice era de 46,3 graus – apenas dois décimos abaixo da campeã Ada, cidade no leste de Gana, na África. Na borda sul do deserto do Saara, o mesmo cálculo teve como resultado 33 graus.”
“UAU”, o editor deve ter pensado. Rio mais quente que o Saara! 33 graus versus 46,3! Liguem pro Al Gore!
OK. A matéria faria sentido se vivêssemos em Discworld, o mundo criado por Terry Pratchett:
Porque aqui lamento informar, caro repórter d´O Globo, é perfeitamente normal nossa temperatura em Fevereiro ser maior do que a do Saara. Não sei se ensinaram isso na sua faculdade mas a Terra é redonda (pergunte ao Eratóstenes) e as Estações são alternadas entre os dois hemisférios. É INVERNO no Deserto do Saara (na verdade em todo o Hemisfério Norte). Na Cidade do Cairo hoje a temperatura é de 24 graus.
Será que não basta se ater aos fatos verdadeiros? Poxa, no texto mesmo é dito que o Rio está tendo “o mês de fevereiro mais quente dos últimos 50 anos”. Isso já chama atenção suficiente, não é preciso mudar a forma da Terra.
Fonte: Twitter do Luiz Bento