O Abuso Infantil acaba aqui! Pergunte-me como!

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A mais nova campanha do Facebook é muito séria, um esforço coletivo final e definitivo para acabar de uma vez por todas com essa praga que assola nossa sociedade, o abuso infantil.
Existem métodos menos eficientes e meramente simbólicos para prevenir e punir esses abusos, como denunciar vizinhos que espancam os filhos, prestar atenção nas crianças à sua volta procurando comportamentos anômalos, manchas e sinais de violência, doar dinheiro para ONGs que acolhem mães e menores vítimas de abuso, etc.
Todas essas ações são paliativas e irrelevantes. Além de dar trabalho. Que tal resolver o problema sem levantar uma pena?
Ao contrário dos das das crianças abusadas seus problemas acabaram! Agora no Facebook você pode militar ativamente contra o Abuso Infantil, sem sequer ter que visitar uma página sobre o tema.
Basta mudar a imagem de seu perfil para um personagem de cartoon. Simples assim, não requer prática, tampouco habilidade e muito menos um mínimo de empenho de sua parte.
Milhões de usuários estão se engajando nessa campanha, e incontáveis crianças não estão sofrendo abusos por causa disso, principalmente porque os abusadores estão ocupados rindo da campanha.
As redes sociais promovem muitos “bens” irreais. A Fama é falsa, a Popularidade é falsa, a Penetração (epa!) é falsa, vide as últimas  eleições. As expectativas, tanto de quem está dentro quanto de quem está fora são totalmente irreais. Isso é danoso?
Depende. O Universo está pouco se lixando se a Twittess ou o Lucas Celebridade acharam que suas vidas iriam mudar por causa do Twitter. As aventuras dos dois são no máximo entretenimento e ninguém é realmente prejudicado, exceto eles mesmos.
Já no caso das campanhas “sérias” caímos num caso muito perigoso. As pessoas fazem caridade por uma questão de satisfação pessoal. No fundo é uma questão de se sentir bem consigo mesmo, seja para expiar culpa burguesa, seja para agradar o Amigo Imaginário No Céu.
O problema é que psicologicamente a sensação de dever cumprido pode vir de qualquer gesto. O cérebro do cidadão engajado pelas criancinhas albinas almiscaradas da Malásia não faz distinção, o “Dever Cumprido” pode ser viajar pra Malásia para cuidar das criancinhas ou clicar num ClickFome da vida.
Essas campanhas de Facebook ou as de Twitter são nocivas. No máximo pregam aos convertidos. Qual o sentido de colocar “#malária” nos Trending Topics? Ou sequer se declarar contra? Alguém é a favor da Malária?
É que nem carro com adesivos “Salvem as Baleias”.  Eu nunca matei uma baleia. Nunca VI uma baleia. Que que eu faço, compro um aquário?
É ÓBVIO que todo mundo quer salvar as baleias, ficar repetindo isso só irrita, no máximo deixa o sujeito chupando dedo. Que tal assumir que quem vai ler CONCORDA, e partir pro próximo passo?  “Não coma McFish, é feito de baleia” é um adesivo com uma ATITUDE a ser tomada.
Na prática não se faz isso. As campanhas online são superficiais, se resumem a expor problemas de conhecimento público, cobrando posições e não resoluções. Uma vez recebi um Twit imperativo: “Dê RT se você ama o Brasil”, ou outro: “Dê RT se você é contra abuso doméstico”. Assumiram a postura Ame-o ou Deixe-o, radical, incontestável e irrelevante. Eu posso ser a criatura mais contrária ao abuso doméstico do planeta. Postar isso publicamente não muda NADA, para NINGUÉM.
Essas campanhas não ajudam. Elas prejudicam, pois ao mudar a foto do Facebook você é reconhecido por milhões como um membro engajado contra abuso infantil. Se postar que denunciou a vizinha por bater no filho, você é fofoqueiro.



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