Ataque Ad Hominem é errado, mesmo contra o veadinho do Adnet

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veadodoadnetPrimeiro de tudo, gostaria de deixar claro que o título deste artigo é apenas uma construção literária, de forma alguma insinuo que o humorista Marcelo Adnet seja proprietário de um cervídeo de qualquer espécie, mantendo-o em cativeiro e violando assim diversas portarias do Ibama.
Muito menos levanto quaisquer questionamentos sobre as capacidades intelectuais do supracitado hipotético animal.

Também esclareço, caso o termo tenha sido entendido por seu sentido coloquial, que não faço qualquer tipo de especulação sobre a orientação sexual do contratado da MTV. Seria leviandade, visto carecer de qualquer informação concreta confirmando ou negando que Adnet tem aquário em casa.

Dito isso, você, caro leitor, deve estar rindo, pensando nas milhares de salsas e trolls que repassarão no Twitter indignadas “Cardoso chama Adnet de Viado”.
Esse é o grande problema da Internet atualmente, tudo vira nome, tudo vira pessoal.

 

Vide este caso escrito pelo Mauricio Stycer, relatando a polêmica da semana do dia nas interwebs, o caso da MTV, que havia ofendido meio-mundo ao fazer uma paródia do SBT com o nome “Casa dos Autistas”.

Eu gostei do nome, tem potencial, mas conhecendo meu gado, sabia que não viria coisa boa. Não vi o quadro, mas a reação geral colocou a emissora em uma posição indefensável, quase tão ruim quanto o taxista judeu que deu volta no Jovem Hitler.
Em um caso até estranho de ausência de bodes expiatórios, a emissora assumiu coletivamente o erro, livrou a cara da equipe, emitiram um pedido de desculpas, ótimo.

Não, não ficou ótimo. No Twitter o Marcelo Adnet, que de apresentador, no máximo um Mion (não foi um elogio) do programa virou único responsável, alvo de xingamentos, ameaças, mimimis. Ninguém se interessou em saber quem escreveu o quadro, quem dirigiu, quem aprovou. Acham que ele chegou lá sozinho, decidiu “vamos humilhar autistas, e se der tempo atropelar gatinhos e velhinhas, afinal gostamos de videogames”.

Já o texto do Mauricio é muito mais abrangente. Pretendia iniciar uma discussão sobre os limites do humor, o politicamente correto, piada boa e piada ruim, censura, liberdade de expressão, etc, etc e vários etcs. Dá para ampliar o tema, sair do humor, ir para outras áreas.
Claro que não é o que acontece. Virou um muro de lamentações de gente dizendo o quando odeia o Adnet, o quanto a MTV é ruim, o quanto o Zorra Total é chato feio e bobo, bla bla bla.

TODO texto na Internet que não tenha setinhas kibescas explicativas metafóricas acaba na vala-comum da simplificação extrema, no reducionismo e no ataque ad hominem. Cansa. Anos e anos e é sempre assim. Pior, o ataque ad hominem nem incomoda tanto, se o sujeito vem no blog e o argumento dele para contestar minha argumentação é “você é gordo”, eu venci.

O que incomoda é citar um exemplo nominal e perceber que as pessoas não conseguem ver a situação global. Incomoda você falar dos limites do humor e o sujeito querer discutir o Adnet. Fodam-se o Adnet, a MTV, o Mion e os Autistas. Fodam-se as velhinhas e os gatinhos também. Menos o veadinho, eles estão em extinção. O caso Adnet/MTV é um EXEMPLO, mas as pessoas não conseguem pensar grande.
Elas não conseguem largar essas âncoras do texto, acham SEMPRE que o nome próprio é o tema, o foco, o alvo. “Cardoso manda adnet se foder” – duvidam que vai rolar?

Extrapolar uma situação hipotética é algo que demanda MUITO esforço. A maior parte da humanidade vive em Modo Maria Antonieta, é não tem pão, comam bolos, o tempo todo.
Em tecnologia sofremos MUITO para ensinar aos defensores ardorosos e inocentes do sofware livre que “minha mãe usa Linux” não conta quando ele fica 24/7 ao lado como suporte. Os garotos não conseguem entender que há outras situações possíveis para usuários. A experiência dele é única portanto deve ser a única.
É muito comum em matérias médicas você ver uma pesquisa de décadas, com milhares de pacientes ser desqualificada nos comentários por um sujeito que PODE ter tido uma experiência diferente. É o equivalente a um paciente com remissão espontânea de câncer (chance: 1/10000) dizer que câncer não precisa de tratamento. E sim, existe gente que defende isso.

Em matérias científicas quase toda descoberta é acompanhada de comentários “mas isso não serve pra nada!” ou “qual a utilidade disso?” Essa gente com certeza acha que foguetes e computadores foram projetados do zero, incuindo toda a ciência básica, sem nenhum avanço cumulativo. Num dia pedra lascada e barro fofo, no outro naves estelares.

Temos então gente que não consegue pensar grande e gente que faz questão de pensar pequeno. É o pior de dois mundos, o sujeito praticamente ilustra o conceito de mediocridade.

Meninos e Meninas, ataquem idéias, não pessoas. “Sua idéia é idiota por isso isso e isso” NÃO é um ataque pessoal, “você só fala merda” é. Não tenha problemas em desqualificar idéias, isso é simples, é fácil ter idéias idiotas.

Se você parte pra desqualificar pessoas por não conseguir desqualificar idéias no final passará por idiota, pois se não conseguiu o mais fácil, que dirá o difícil. Lembro de uma criatura que tentou me atacar no twitter quando se ofendeu por eu dizer que ganhei dinheiro com literatura técnica.
Como ela queria ME desqualificar enquanto pessoa, entrou em desespero e afirmou que o termo “literatura” não pode ser utilizado para… livros técnicos.

Eu ri tanto que quase nem consegui mandar link da Editora Ao Livro Técnico. Teve gente que conseguiu não rir o suficiente pra lembrá-la que estuda literatura contábil, outros lembraram da literatura científica, etc.

Esse é o risco do ataque Ad Hominem, exposição ao ridículo. Já o reducionismo não afeta o autor do comentário, já está tão disseminado que é natural. Ninguém acha fora de propósito em uma discussão sobre os rumos da liberdade de expressão no Brasil um sujeito xingar a MTV e dizer “fora americanos’’, provavelmente um gaúcho respeitando a nova legislação e traduzindo o Yankee Go Home.

O reducionismo simplista é cômodo, ele transplanta a culpa de todo um sistema político corrupto para o Sarney, transplanta toda a homofobia do Brasil pro Bolsonaro, transplanta para o Felipe Neto todas as mortes de criancinhas no Nordeste porque alguém comprou um iPad e não doou pro Criança Esperança e acima de tudo, faz com que o autor do comentário pratique seu coitadismo.

É a perfeita solução brasileira para o grande problema: Como parecer que fazemos muito sem mudar nada?


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