Cazaquistão e o oposto do sofativismo

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Embora tenha grandes riquezas naturais, como o melhor Potássio do mundo e algumas das prostitutas mais limpas da Ásia Central boa parte da renda do Cazaquistão vem do petróleo, e como toda ex-republiqueta soviética não é muito afeita a essa tal de democracia.

O país só teve um Presidente (ao menos para as crianças isso é bom, menos nome pra decorar): Nursultan Nazarbayev, que vem sendo reeleito desde 1991. Ele tem poder de vetar qualquer Lei, é Comandante em Chefe das Forças Armadas e consegue até compra Coca com casco de Pepsi.

Na última eleição Nazarbayev ganhou com 95.54% dos votos, o que significa que –se o pleito foi honesto- esse sujeito é mais popular que Jesus Cristo, ou o candidato de oposição foi o Sacha Baron Cohen.

Com isso tudo é normal que essa gente não saiba lidar com dissidência, ou até saiba bem demais. Qualquer embrião de protesto era devidamente yorkshirezado pelo governo, mas como estamos falando de déspostas e não enfermeiras idiotas, garantiam primeiro que não havia ninguém filmando.

Agora o bicho pegou de novo. Na cidade de Zhanaozen (150Km de Azkaban), um dos centros petrolíferos do país trabalhadores começaram a protestar feio, com greves e piquetes.

As reinvindicações são (infelizmente) as de sempre: Melhores condições de trabalho e salário decente. Um soldador com 20 anos de empresa ganha por lá o equivalente a US$810,00. Pelo que aprendi em Eurotrip é uma bela grana, mas ainda pouco pelos padrões internacionais.

 

O Governo Cazaquistanês tentou lidar com esse problema da mesma forma de sempre, mas pegou uma página do manual do Kadhaffi, do Mubaraq e daquele idiota da Argélia: Desligaram a Internet e as torres de telefonia celular da cidade de 90 mil habitantes.

Com isso podem prender e arrebentar impunemente, certo?

Errado! Não contavam com a astúcia de um grupo de hacktivistas chamado Telecomix.

Eles não são os sofativistas de sempre, não ficam xingando muito no Twitter. Esse grupo de autodenominados Telecomunistas Sociocyphernéticos atuou no Egito e na Líbia. Eles montam estruturas de dial-up, repassam links e instruções para que as pessoas criem redes WIFI para compartilhamento subversivo de Internet.

Esse Cyberativismo de Resultados gerou uma história épica na Líbia, quando um mega-power-engenheiro chamado Ousama Abushagur projetou no proverbial guardanapo como hackear a rede de telecomunicações de Kadhafi e não só restaurar a telefonia celular e link de dados, como colocar o controle nas mãos dos rebeldes.

No tempo em que as comunicações eram centralizadas os Ditadores podiam censurar de forma simples a voz da oposição. Explodiam redações de jornais, invadiam rádios e TVs (sempre alvos prioritários) e fechavam gráficas.

Com a Internet isso em teoria se tornou mais difícil, mas na prática embora a Rede seja capilarizada ela depende de backbones e provedores. De um console consegue-se desligar toda uma rede de torres de celulares, e o acesso Internet é igualmente simples. Provedores não têm links de satélite em qualquer esquina.

Essa era a segurança dos Governos Do Mal (como se existisse outro tipo). Situação começou a esquentar? Corta-se celular e Internet.

Infelizmente pra eles os hacktivistas resolveram isso. Servidores dial-up instalados por voluntários garantem os links, roteadores WIFI são MUITO baratos e simples de configurar. Há celulares com link via satélites pouco maiores que um Tijorolla.

O Telecomix está atuando ativamente no Cazaquistão. Os militantes, rebeldes ou seja lá como queiram ser chamados não estão mais isolados do mundo ou um dos outros.

Agora os protestos se espalharam para outras cidades. Já são 14 mortos. Segundo o Governo, está tudo tranquilo. Yermukhamet Yertysbayev, um dos conselheiros do Presidente disse que as revoltas são bancadas por estrangeiros (sempre eles, esses safadinhos) e que… “não haverá revolução árabe, você pode ver que o Cazaquistão está tranquilo”.

Antigamente ele teria a última palavra, e teríamos que acreditar que o país estava todo em paz, das Planícies de Tarashek até a cerca norte da Cidade dos Judeus. Hoje?

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Uma simples busca no Twitter mostra outro quadro.

O cerco se aperta, cada vez mais é difícil manter uma História Oficial. Que o diga o livro do Amaury Junior, que minha timeline do Twitter passa 23h por dia divulgando que a mídia está boicotando. AGORA VOCÊS SÃO A MÍDIA, SEUS IDIOTAS.

1984 é um passado distante; nenhum autor de ficção científica previu um futuro com comunicações globais e redes sociais. Não temos nenhuma indicação de como esse futuro será, então ele irá acontecer da forma mais difícil e recompensadora: Teremos que criá-lo nós mesmos.

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