Pros cínicos da Internet gostar é sinal de fraqueza. Sejamos fracos então.

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9musas

Na Internet não podemos gostar de nada. Admirar pessoas é errado, e todos devem ser julgados não por seu histórico, mas por seu último trabalho, sua ÚLTIMA atitude.

A possibilidade de admiração é fisicamente dolorosa em gente que não cria nada. Tentam desmerecer o tempo todo quem faz, e na falta, desmerecem que gosta de quem faz. A única “criação” admirada é a que se propõe a destruir. Daí o sucesso de canais de youtube como o Movie Mistakes.

Desgostar é fácil. Não é preciso justificar. Se você odeia algo, se verá cercado e protegido por gente com o mesmo ódio irracional. Se alguém tentar dialogar, basta dizer “é uma merda e pronto”.

Já se gostar, cuidado. Perguntarão que diabos você viu naquilo, oferecerão vária alternativas “melhores” e tentarão tudo para te convencer que está errado e deveria odiar.

 

Dá trabalho gostar na Internet, nos coloca em situação vulnerável. E quando gostamos MESMO, a coisa complica. Desculpem, haters, real admiração existe, não é falha de caráter NEM sinal de fraqueza, por mais que vocês desejem isso, visto que não gostam nem são admirados por ninguém.

Eu já me preocupei com isso, até descobrir que todo mundo tem ídolos (todo mundo que importa, claro). A Mariana Belém, que cresceu com a nata da MPB espalhada pelo sofá de casa, entrou em êxtase quando conheceu Tony Bennett. O Roger, do Ultraje a Rigor ficou todo besta quando conversou com um astronauta no Twitter, o mesmo astronauta, Chris Hadfield, que desencadeou uma conversa épica com William Shatner.

Gostar e admirar o trabalho dos outros não é demérito. Como não é perder as bases quando o objeto da sua admiração toma conhecimento de sua existência. Uma vez, muitos anos atrás, fui a uma pré-estréia com um lindo discurso preparado para expressar minha admiração pela Luciana Vendramini. Quando cheguei perto e ela abriu o sorriso, tudo sumiu.

Mal consegui gaguejar um “oi” e estender o cartaz do filme, que ela assinou com coraçãozinho, sorriu e me devolveu. Nunca me senti tão sem-ação, tão inepto, mas quer saber? Foi ótimo.

Na cabeça doente da Internet foi um momento FAIL, digno de meme, etc, gente fodona que não gosta de nada jamais passaria por essa “vergonha”.

Vergonha é não gostar de nada.

Stephen Colbert, uma das pessoas mais influentes nos EUA, humorista político do Comedy Central com alguns milhões de espectadores é fanático pela Jane Fonda. Desde moleque admira de longe. Décadas depois, seu sucesso e prestígio fizeram com que ela aceitasse um convite para participar do Colbert Report.

Ele tenta manter a pose, mas depois da conversa de bastidores, onde ele provavelmente abriu o coração, Jane resolveu que Stephen não sairia dali sem uma lembrança e tanto.

O resultado é um dos comediantes mais inteligentes do mundo, um mago do improviso, completamente sem prumo. Ele não só sai do personagem como quase passa por uma experiência extra-corpórea.

Não é todo dia que um comediante fica tão sem-graça e tão feliz ao mesmo tempo.

The Colbert Report
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Isso, pra geração zoeira, é fraqueza.

Que bom que sou fraco.


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