Sem essa viadagem de lacração era possível ter tesão na Roberta Close

Compartilhe este artigo!

Os Anos 80 foram sexualmente confusos. Vivíamos uma liberdade sexual estranha para os padrões de hoje. Filmes como Picardias Estudantis, A Primeira Transa de Jonathan e Porky’s seriam alvo de protestos hoje em dia, e nem mencione A Menina do lado, você vai parar em uma lista. A sociedade era mais machista do que hoje, casamento gay era algo que não se mencionava nem de brincadeira, viado aceitável só de anedota, hyper-afetado para não colocar em risco a masculinidade alheia. Mesmo assim a mulher mais desejada da década era homem.

Calma Tumblr, era assim que a gente se referia. Transsexualidade era um termo pouco conhecido e muito menos ainda assimilado. Até então existia a Rogéria, acima do Bem e do Mal, e “os”  travestis dos bailes de carnaval, que voltavam a hibernar e sumiam durante onze meses. Roberta Close mudou tudo isso, introduzindo (epa) novas idéias de sexualidade e confundindo para melhor a cabeça da família brasileira.

Roberta não seguia a linha exagerada das travestis de baile de carnaval, não tinha bunda e peitos caricatos, não falava em falsete e jamais seria confundida com uma Panicat. Isso confundiu a cabeça das pessoas, logo ela começou a aparecer em programas de TV, capas de revistas e a ser reconhecida na rua durante o ano todo. Roberta Close foi a primeira transsexual não-sazonal do Brasil.

Ela chegou a ser musa de Eramos Carlos, o que rendeu uma canção, um videoclipe e uma tentativa de suicídio da esposa do compositor, mas isso é outra história.

 

Embora tecnicamente tenha posado nua pela primeira vez aos 17 anos as fotos que explodiram foram as da Playboy. Ela apareceu inicialmente em 1984, depois em várias outras edições. Ela só não ganhou capa por causa de uma cláusula da matriz que só permitia mulheres originais de fábrica como playmates, customizadas não rolava.

Não há registros de que Luma de Oliveira tenha reclamado de dividir a capa com um “homem”, e os leitores da Playboy não invadiram a redação com tochas e ancinhos, por postarem uma mulher trans em suas páginas. O público na verdade pedia mais, e em 84 tentaram até lançar Thelma Lipp como rival de Roberta Close.

Thelma era muito bonita e tal, mas (sem trocadilhos, juro) Roberta tinha um algo a mais.

Sabe o melhor de tudo? Ninguém, absolutamente NINGUÉM virou gay por causa da Roberta Close. O Brasil acompanhou a saga para ela mudar legalmente de nome, sua operação de mudança de sexo (de novo: Anos 80, a gente falava assim) e a percepção popular era extremamente positiva. Toda a questão da transsexualidade havia sido humanizada, tinha um rosto, um nome e não era um (eu sei) travesti de anedota. Era uma pessoa real.

Hoje, nós regredimos. Bianca Soares no Casa dos Artistas? Escândalo. Ariadna? Só foi tolerada depois de ser devidamente certificada pinto-free. E agora, chegamos a isto:

A Playboy brasileira, depois de walkingdedizada entrou em uma fase lacradora, desesperada atrás de um público que nós sabemos, chilica mas não consome. No fundo eles também sabem, tanto que quando alardearam o ensaio da Coelhona, esqueceram de avisar que ela não seria capa. Pois é, Yay body-positivismo, todos os corpos são lindos mas gorda na capa, tá louco, não vende.

Deixa ver se entendi: As bibas estão ENSANDECIDAS nos comentários gritando “xô hetero” porque reclamaram que a Playboy publicou uma foto no instagram de uma Drag Queen, um tal de Pablo Vittar. Como assim? Então não reclamem se cantoras de MPB começarem a aparecer na G Magazine.

Do outro lado, histeria semelhante:

“Acabou de vez a revista”. Ah filho, me poupe! E depois os outros que são viados. Não seja drama queen a esse ponto, foi UMA foto, no Instagram, a Playboy teve TRÊS ensaios com a Roberta Close, acha mesmo que se isso fosse motivo pra acabar já não teria batido as botas faz tempo?

Nós, enquanto sociedade estamos regredindo. Estamos cada vez mais frágeis e intolerantes, de todos os lados. Roberta Close na Playboy foi importantíssimo para que a transsexualidade saísse do gueto, a militância da época reconheceu isso e aplaudiu a visibilidade, sem o ódio e revanchismo que esses retardados estão despejando nos comentários do Instagram. Já os que não gostaram, apenas não compraram a revista, the end. Ninguém se desesperou, muito menos achou que seria o fim da Playboy por causa da Roberta na capa.

Hoje? Uma militância LGBTQQIP2SAA (é sério) raivosa que faz de tudo para gerar antipatia pra sua causa e uma ala conservadora apavorada com medo de mudar de lado por ver a bunda da Ariadna e não perceber que é a bunda “errada”.

Sinceramente acho ambas as posturas ridículas. Prefiro os Anos 80, onde todo mundo despudoradamente queria comer a Close, e só se preocuparia com os detalhes na improvável possibilidade do ato se concretizar. E de resto, convenhamos. A gente achava gostosa o Pernalonga vestido de mulher, perto disso Roberta Close é pinto. Não, péra…

De resto, quanto à foto, achei uma droga. Vou fazer dragshaming SIM, com toda a autoridade de quem adolesceu homenageando entre outras a Roberta Close. Se é pra transgredir, postassem sem avisar imagens da Alice Haoge, um japa que faz crossplay e se eu não contasse você já estaria nos comentários pedindo o telefone:

Yes, é menino.



Compartilhe este artigo!