Klingons negros? Isso prova que eu e todos os nerds somos racistas!

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Segundo a Militância, não há muito o que discutir. Se você curte cultura pop, assiste séries, lê gibis, você é racista, the end. Misógino, homofóbico porco esTRUpador, também. Por isso nunca dei atenção a esses chiliques, mas em como tudo há um fundo de verdade. Quando Idris Elba foi anunciado em Thor, teve gente que chilicou, afinal um Deus Nórdico negão? Michael Clarke Duncan como o Rei do Crime em Demolidor? Reclamaram. Um stormtrooper negro? Como assim? Tem cota em Star Wars também?

Isso tudo foi usado e abusado com exemplo de como os nerds são conservadores racistas homofóbicos, e como sempre os nerds, agora populares assumem uma atitude defensiva combativa e atacam ao invés de se explicar, corroborando as acusações iniciais. E isso é ruim.

É muito simples seguir a cartilha de criaturas nefastas como Anita Sarkeesian e Brianna Wu, culpar os pirocos, mas o buraco é mais embaixo.

Eu sei que é conveniente vender a imagem de que nerds são homens brancos cis-hetero que odeiam minorias, e por isso o Ghostbusters com mulheres rendeu no mundo todo US$229 milhões, li argumentos até que homens pirocos opressores impediram as mulheres de assistir o filme. Ignorando que 51% do público de cinema é de mulheres, e 100% delas em relacionamentos estáveis detém o poder de decisão de qual filme será visto, isso não explica como Rogue One, que é um festival de minorias, mulheres, etc faturou US$1 bilhão e todo mundo adorou.

Force Awakens, com um latino um negro e uma mulher liderando? DOIS BILHÕES DE DÓLARES.

Dizem que nerds odeiam quanto personagens mudam de cor. Mas ninguém reclamou do Nick Fury do Samuel Jackson. A explicação é simples: No universo Marvel Ultimate o Nick Fury era negro E baseado no Samuel Jackson. O cinema só aproveitou uma versão já existente, mesmo que não a principal.

“Ah, e o Heimdall?”

Vários nerds estranharam, mas as reclamações vieram de um grupo ínfimo de não-leitores que ouviu falar que Thor era baseado em mitologia nórdica e assumiu que todo mundo era louro de olho claro, coisa que os leitores de verdade sabem não ser verdade. Hogun, um dos 3 Guerreiros, parceiros mais valorosos de Thor é essencialmente Mongol, dependendo do artista os traços são dignos de Gengis Khan.

Quando a Marvel esclareceu que no Universo Cinematográfico os Asgardianos eram aliens, não deuses, os fãs entenderam e hoje o Heimdall de Idris Elba é um dos personagens mais fodásticos da franquia.

Está percebendo um padrão? Vou ajudar com algo do outro lado.

Outro dia uma retardada metida a nerd fez vários posts no Twitter chilicando por ter descoberto que no filme do Lanterna Verde o personagem principal era feito por um… branco. A guria basicamente só assistiu alguns episódios da Liga da Justiça Unlimited, aprendeu que o Lanterna Verde era o John Stewart e pronto. Nunca leu nada sobre o personagem, sua história, seus antecessores.

Pra ela era satisfatório um negro como herói e qualquer um que mudasse isso, era racista nazista negrofóbico etc.

Está errada? Com certeza, é uma retardada, ainda mais por ter me bloqueado depois que eu apontei a existência de Hal Jordan, Kyle Ryner, Alan Scott, Simon Baz e Jessica Cruz. Sim, no tesão de ser lacradora e defender seu lanterna negro a mana empoderada apagou da existência entre outros um muçulmano e uma mulher.

Sò que eu entendo a retardada. Eu passei por isso hoje, ao ver o trailer do novo seriado de Star Trek. O bicho que você está vendo na imagem de abertura é um… klingon. Mais precisamente T’Kuvma:

Ele é interpretado por Christopher Obi, e é preto. Isso é muito estranho e desconfortável. Não pelo ator, Christopher é um Negão Responsa™ que fez Anubis em Deuses Americanos, tem uma puta presença de palco e está longe de ser o primeiro negro a interpretar o klingon.

O problema não são negros klingons, são klingons negros. Euexplico. Klingons são… assim:

Se você tiver olhos de águia perceberá que o Tenente Worf não é exatamente ariano. Ele é interpretado por Michael Dorn, um excelente ator negro. Então, qual o problema?

Os Stormtroopers de Star Wars, até o fim da Guerra dos Clones eram… clones. De Jango Fett, este sujeito:

Ele se chama Temuera Morrison, nasceu na Nova Zelândia, tem sangue irlandês, escocês e Maori, ele se identifica fortemente com os nativos da região e é tudo menos o garoto-propaganda da Raça Branca Superior. Como os tais fãs racistas pirocos supremacistas não tiveram qualquer problema com ele?

Na excelente versão da Netflix pra Demolidor o jornalista Ben Ulrich foi interpretado por Vondie Curtis-Hall. Um ator negro em um papel que era de um personagem branco, mas como etnia não tinha nenhuma influência no personagem, NENHUM fã falou nada, só se ouviram elogios.

Qual o ponto em comum então? Simples: Nerds não gostam de MUDANÇAS.

Seja a militante chilicando pelo Lanterna Verde, seja a gente reclamando do Michael Clarke Duncan antes de descobrir que ele foi o melhor Rei do Crime até o Vincent D’Onofrio, o conteúdo das mudanças não importa, o que incomoda é o fato de algo que estamos acostumados mudar.

Kevin Smith fala bastante sobre isso. Ele gosta de lembrar que o Batman DELE sempre será Adam West, por mais ridículo, campkitsch que seja. Quando o Batman ficou sério, primeiro nos quadrinhos depois no cinema foi uma mudança radical. O Batman de Tim Burton era “sério”, se comparado a Adam West.

Uma geração cresceu com esse Batman, com o Cartão de Crédito, mamilos e se surpreendeu com o Batman da Nolan. Subitamente Michael Keaton, Val Kilmer e Clooney não eram sérios. Batman definitivo? Aquele com garganta inflamada.

Se você pegar um fã dos Guardiões da Galáxia originais, de 1969, ele não reconhecerá ninguém, exceto talvez o Yondu.

Qual é o grupo legítimo? O de 1969, o dos filmes de James Gunn ou os incontáveis intermediários?

Os klingons negros diferentes causam estranhamento, mas esses não são os nossos klingons, são os klingons de uma nova geração de fãs, são jovens que começarão agora a explorar o Universo de Star Trek. Eles eventualmente assitirão aos seriados antigos, estranharão as caracterizações, mas como já foram mordidos pelo Bicho Trekker, aceitarão essa infinita diversidade em infinitas combinações.

Esses klingons não são os meus klingons, mas pensando bem o Tenente Work, Gowron e tantos outros de Deep Space Nine, Voyager e Nova Geração também não são.

Em 1979 nós trekkers passamos pela exata mesma situação, ao assistir nos cinemas esta cena:

 

 

Esses eram os Klingons que nos acostumamos a ver no cinema e na televisão, mas os Klingons de 1968 eram assim:

Quem são os klingons verdadeiros? Que DIREITO tenho eu ou qualquer um de reclamar dos klingons atuais, se aceitamos uma mudança igualmente drástica?

Reclamações vão existir, nerds são criaturas birrentas, mas é nosso dever, enquanto pessoas esclarecidas, ignorar essas birras, principalmente quando sobem por nossa garganta. Pare, pense e veja o quando do que você está reclamando não é pela mudança em si, não pelo que está sendo mudado.

Enquanto isso eu, enquanto trekker e nerd me delicio com Star Trek não ter mudado absolutamente nada. Temos uma nova série, cheia de personagens multiétnicos em um futuro esclarecido, sem preconceitos bestas, onde homens e mulheres são respeitados e reconhecidos por seus méritos e habilidades.

Soa como utopia para você? Pra nós trekkers é apenas… lógico.



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