Antigamente eu achava que a culpa era da geração de meus pais e avós, um bando de luditas retrógrados ainda espantados e assustados com a novidade da eletricidade. Tudo que fosse eletrônico (ok, elétrico) era visto com desconfiança.
O “amigo do pai”, a eterna figura esotérica que sempre sabia mais de tudo sobre tudo era categórica: “Videogame estraga televisão”. Ficávamos restritos a ligar nossos Telejogos (velho é velha!) em TVs preto-e-branco, de 2 ou 3 polegadas. Que NUNCA queimavam, claro. Já a colorida da sala, se você passasse com a caixa do Atari a menos de 10m dela e a TV desse problema no vertical 6 meses depois (de novo, velho é a sua avó!) a culpa CLARO era do videogame. Nem assassinatos em massa nos EUA são tão culpados por videogames quanto defeitos de TV.
Isso incutiu um complexo de perseguição nos garotos (a única pessoa da minha rua que tinha Atari era uma menina, mas usei “garotos” pra irritar as feministas) que persiste até hoje. Achamos que videogame é coisa de criança. A IMAGEM de videogame é algo bobinho, a própria mídia contribui, mas sejamos sinceros: A mídia simplifica TUDO!
Resultados de DNA não saem na hora, programas de computador, GUIs em Visual Basic para rastrear IPs não são escritos de uma vez com menos de 20 toques, e ENHANCE! não funciona. O problema da mídia infantilizar o videogame é que TODO MUNDO faz isso.
A Microsoft vem, faz tempo, vendendo o XBOX como um Media Centre, com recursos que vão muito além de um videogame. Poxa, tem uma paradinha (meu vocabulário está meio comprometido hoje) onde você pode assistir um jogo de futebol ou basquete com vários amigos em uma sala virtual, fazer apostas, trocar mensagens, competir em gincanas. A parte de vídeo é incrível, com controle de voz e Kinect. Há material exclusivo, séries estão sendo produzidas misturando as ferramentas de games e TV.
Aí fizeram o primeiro comercial do XBOX One, focando nesses recursos. Os nerds, CANSADOS de saber tudo sobre o produto, chilicaram. Queriam que a Microsoft anunciasse para uma audiência mais que cativa, segregando e guetificando mais ainda um produto que está fazendo TUDO pra sair da vala-comum “videogame, coisa de criança”.
Esses mesmos nerds não só acreditam como REPETEM isso. Ontem o último lançamento da franquia GTA, o GTA V faturou mais de US$800 milhões. Com um custo de cento e bléu milhões. Os nerds entraram em êxtase, gritando “chupa Hollywood”, “videogame é coisa de criança?” e por aí vai.
Contarei um segredo, caros nerd: Hollywood SABE que videogame não é coisa de criança. A Microsoft sabe, a Sony sabe, a Forbes sabe. A EA, com sua receita de US$4,14 BILHÕES em 2012 sabe.
Vamos ver a quantas anda a indústria de games…
SEGUNDO A REUTERS, a Indústria de Videogames, incluindo jogos para mobile e smartphones, faturou em 2012 US$63 BILHÕES. Isso mesmo 63 bilhões de doláres americanos. Para 2013 a projeção é de 66 bi, chegando a 78 em 2017.
“Ah, mas Hollywood fatura muito mais, Vingadores faturou US$1,5 bi.”
Verdade. Mas quantos Vingadores foram lançados em 2012?
R: 1
O cinema tem números bem mais modestos. Em termos de faturamento de bilheteria o maior mercado do mundo, EUA/Canadá em 2012 ganhou… US$10,8 bilhões.
Isso mesmo, Vingadores foi responsável por mais de 10% do faturamento anual da indústria.
No mundo todo as pessoas, mesmo 3D (os filmes, não as pessoas. OK, elas também) desembolsaram US$34,7 bilhões. (fonte)
“Ah mas tem o merchandising, etc, etc”
Sim, tem, mas chaveirinho do Sonic não entra na conta de faturamento da indústria de videogames, então não vou computar sua camiseta do Avatar. (SIIM, EU SEI! Não adianta esonder!)
Recapitulando: US$63 bilhões vs US$10,8 bilhões.
Portanto, crianças, parem com esse complexo de vira-lata, parem com essas brigas bestas. A INDÚSTRIA de videogames vai muito bem, ela só não tem culpa do comportamento infantil de seus fãs, que gastam tempo em brigas bestas xbox vs ps3, com pré-adolescentes ensandecidos gritando em partidas online e opiniões míopes de… fanboys.
Você escolhe. Quer se associar a um complexo industrial que dá voltas em torno dos dinossauros da TV, que cria ícones culturais como Pac Man, Mario, Lara Croft, ou quer se associar a um bando de bebês –chorões felizes com o discurso “meu pai é mais forte do que o seu”?
Dica: Seu pai É mais forte do que o do outro, mas ambos são adultos e não vão brigar para satisfazer bebês-chorões. No máximo te colocarão de castigo enquanto os adultos ficam na sala assistindo House of Cards na Netflix do XBOX One.